As lições da Plenária do Construsummit 2021

Romário Ferreira

Escrito por Romário Ferreira

28 de setembro 2021| 17 min. de leitura

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As lições da Plenária do Construsummit 2021

Você sabe o que são zettabytes? Foi com essa provocação que o diretor executivo do Sienge, Ionan Fernandes, abriu o Construsummit 2021, dando o tom do que seria o principal tema do evento: dados.

Isso porque nunca geramos tantos dados como hoje. Até o fim de 2021, o mundo todo terá gerado 79 zettabytes. Só para você ter ideia do que é isso, 1 zettabyte equivale a capacidade de armazenamento de mais de 4,3 milhões de MacBooks, que, empilhados, formariam uma pilha de 79 km de altura. 

Porém, o que mais chama atenção, segundo o diretor do Sienge, é a velocidade de geração desses dados. Até 2025, atingiremos o montante de 181 zettabytes. 

Por isso, mais do que nunca, precisamos falar da integração da cadeia e da gestão estratégica desses dados, que podem ser essenciais para o salto de produtividade que o setor busca há anos. 

Os dados em destaque na plenária do Construsummit 2021

Ainda em sua palestra, o diretor executivo do Sienge destacou uma pesquisa da PwC que traz informações importantes:

Hoje, o setor gera 2,5 milhões de terabytes por dia. Mas 95,5% desses dados são descartados pelas empresas, e 90% deles são gerados de forma não estruturada.

“Certamente, isso abre uma grande oportunidade, não só de estruturar esses dados, mas de criar conhecimento na velocidade que o mercado demanda, enxergar a cadeia de forma integrada e possibilitar tomadas de decisão mais assertivas”, disse Fernandes durante o Construsummit 2021.

Construsummit 2021
Ionan Fernandes, diretor executivo do Sienge.

Como exemplo, ele cita os próprios clientes do Sienge que, à medida que a maturidade no uso de dados aumenta, passam a perceber resultados como:

  • Melhora nos indicadores financeiros;
  • Planejamento executivo mais afinado;
  • Otimização de logística no canteiro de obras;
  • Assertividade entre orçado e realizado.

Para ele, a palavra ordem do momento é integração – seja de pessoas, ferramentas, dados e todo o ecossistema. E acredita que “são as empresas mais maduras no uso de dados que vão conseguir resolver problemas antigos do setor, como falta de integração, desperdício e baixa produtividade”. 

Algumas dessas empresas, por exemplo, são a Inloop e a Cury Construtora, cujos cases foram destaques da agenda do primeiro dia do Construsummit 2021. Gilberto Gaspar Junior, gestor de TI da Inloop, falou justamente sobre o uso da mineração de dados como protagonista para a tomada de decisões no setor da construção.

Segundo ele, só a mineração de dados pode trazer condições para as decisões mais assertivas. “O caminho até a tomada de decisão começa sempre a partir do dado, que é coletado, registrado, processado, analisado, apresentado e divulgado. Só então ele vira uma informação para a tomada de decisão e, posteriormente, a ação”, explica.

Ronaldo Cury, diretor Institucional e de Relações com Investidores da Cury, ressaltou a análise de dados como peça fundamental do crescimento da Cury nos últimos anos. “Em todos os departamentos, não apenas nas obras. E o Sienge tem sido essencial para isso”, afirma. 

O movimento de plataforma

Não tem como falar de dados e não lembrar das plataformas digitais, que conectam pessoas e empresas e geram valor através do uso da tecnologia. No Construsummit 2021, esse tema foi abordado na apresentação do gerente de Estratégia e Mercado do Sienge, Guilherme Quandt.

“As plataformas vêm ganhando cada vez mais espaço porque integram segmentos e criam ecossistemas. Ou seja, é muito mais do que intermediar negociações”, destaca Quandt.

Construsummit 2021
Guilherme Quandt, gerente de Estratégia e Mercado do Sienge.

Mas, para funcionar bem, uma plataforma B2B precisa entender profundamente o negócio dos seus clientes. Além disso, precisa empenhar um esforço prévio de curadoria para selecionar e desenvolver fornecedores. E os dados gerados pela operação da plataforma ajudam a incrementar a maturidade das soluções, criando uma espinha dorsal tecnológica, num ciclo positivo de feedback. 

Então, nesse contexto, o efeito de rede tem papel importante na construção do ecossistema. O Sienge Plataforma, por exemplo, tem em uma ponta cerca de 4500 clientes, e na outra, 35 parceiros de soluções – com projeção de alcançar 180 parceiros até 2023.

E a maioria dessas soluções integradas vêm das construtechs e proptechs, cujo crescimento no mercado brasileiro foi destaque na palestra “Real estate tech: a transformação do ecossistema do mercado imobiliário por meio de tecnologia”, apresentada por Marcelo Sato, sócio da Astella Investimentos.

“Chama atenção o crescimento de 2017 para cá: eram apenas 250, e agora, em 2020, mesmo com a pandemia, já chegamos a mais de 700 startups na construção civil. Nossa avaliação, sem dúvidas, é que se trata de um mercado muito pujante”, comenta Sato.

Parceiros de integração 

Algumas dessas startups, que também são parceiras de integração do Sienge Plataforma, se apresentaram no Construsummit 2021. Foram os casos de CV – Construtor de Vendas, Agilean, Analize, Prevision e Hinc. E todas destacaram a importância dos dados e da integração da cadeia em suas participações.

Construsummit 2021
Bastidores do Construsummit 2021, realizado de forma online.

Paula Lunardelli, CEO da Prevision e diretora da Vertical Construtech ACATE, ressaltou as integrações como o pilar central do crescimento da sua empresa. “Só via integração com o Sienge, a Prevision já tem mais de 100 clientes e 400 obras”, comemora.

Por outro lado, ela lembrou da dura realidade que o setor ainda enfrenta. Segundo uma pesquisa apresentada por ela, 69% das obras no mundo estão acima do custo e, no Brasil, a média de estouro de custo de obra é de 22,5%. “Será que o medo de inovar tem relação com esses números?”, questiona.

Já o CEO da Aval Engenharia, André Quinderé, explicou que o desafio é estrutural. “Nosso setor é muito dividido em silos, que geram diversos dados, mas nem sempre esses dados chegam ao setor subsequente. E é importante frisar que esse dado pode ser perecível, o que dificulta ainda mais”, explica. 

Além disso, ele chamou atenção para o fato de que somente 8% dos canteiros de todo o mundo usam dados em tempo real para tomada de decisão. E 13% do tempo dos gestores de obra é perdido buscando dados e informações de projeto. “Como seria se esse tempo fosse investido para inovar, por exemplo?”. 

Transformação digital não é mais questão de escolha

Outra ponta fundamental do atual cenário é a transformação digital. Ou melhor: a necessidade de avançarmos com ela visando ao aumento da produtividade. 

Em sua apresentação, Glaucia Guarcello, Innovation & Venture Lead Partner da Deloitte Brazil, lembrou que a construção representa 13% do PIB global, o que a coloca como a maior indústria do mundo. “Porém, o crescimento da produtividade é pífio: cresceu apenas 1% ao ano nas últimas duas décadas”, ressalta. 

Ainda segundo ela, embora a transformação digital tenha o potencial de representar um ganho de produtividade de até 30%, ela não tem sido colocada em prática. E não se trata apenas de adotar uma nova tecnologia, mas de repensar o paradigma da criação de valor no setor. 

“Ou seja, estamos falando de criar uma outra lógica de negócio e utilizar a tecnologia para entregar valor. É preciso, portanto, repensar como transformar o negócio da construção utilizando tecnologia”, acredita.

Estudos da própria Deloitte apontam um alto potencial de impacto financeiro a ser alcançado a partir da adoção de soluções inovadoras, como:

  • Até 30% de redução nas horas de trabalho em engenharia;
  • Cerca de 10% de redução de custos com a construção;
  • Até 20% de redução dos custos de gestão de operações e ativos;
  • Aproximadamente 10% de redução de custos de descomissionamento.

“A transformação não é mais opcional, porque o setor tem produtividade e margens muito baixas. Por isso, é preciso unir tecnologia, cultura e pessoas, inovação e análise profunda de dados. Tudo isso ajuda a criar um modelo de maturidade digital no qual nós acreditamos”, finaliza. 

Digitalização na prática

Embora ainda não ocorra em larga escala, a digitalização é uma realidade da construção civil brasileira. Na avaliação do Chief Strategy Officer (CSO) do Sienge, Fabrício Schveitzer, há pelo menos seis ondas de digitalização no setor.

Construsummit 2021
Fabrício Schveitzer, Chief Strategy Officer (CSO) do Sienge.

São, segundo ele, três ondas de digitalização concentradas da “porta para dentro”: 

  • Na gestão e processos de projetos;
  • Nos canteiros; 
  • Nos processos de vendas. 

E mais três da “porta para fora”:

  • As novas abordagens construtivas, com foco na gestão do processo e mudança do arranjo produtivo;
  • Modelos de negócios, no qual se busca por uma expansão do modelo de negócio, numa tentativa de criar novas abordagens para o mesmo hardware;
  • E, por fim, a onda das fintechs e novas abordagens financeiras na cadeia construtiva, na busca por oportunidades de monetizar outras pontas da cadeia. 

Ainda de acordo com ele, essas ondas acontecem por conta de um processo de transformação que se desenvolve e à medida que a tecnologia vai sendo entendida, com a criação de uma cultura orientada a dados. 

“O caminho para uma cadeia digitalizada e integrada está sendo construído. Já estamos, por exemplo, criando um caldo cultural e digital perfeito para o BIM vingar de vez no Brasil”, acredita. “E a próxima evolução da construção, na minha visão, vem da fusão entre tecnologia, serviços e finanças.”

Construtoras apostando na digitalização 

O evento destacou também construtoras que estão avançando em suas estratégias de inovação e transformação digital, como é o caso da Andrade Gutierrez, que possui um programa voltado para inovação e conexão com startups, o Vetor AG.

André Medina, gerente de inovação da construtora, explicou que a Andrade Gutierrez criou um modelo de gestão baseado na engenharia 4.0. Segundo ele, trata-se da união da excelência com a inovação aberta e o BIM, como foco de ter a melhoria contínua em todos os setores da empresa, conforme os princípios do Lean

Já o CEO da Prestes Construtora, Breno Prestes, lembrou que sempre esteve preocupado com a digitalização. “Nossa empresa tem 12 anos de vida e há 10 utiliza o Sienge, porque logo no começo eu já me incomodava com os orçamentos em Excel. Mesmo naquela época, já precisava ter uma estrutura baseada na tecnologia, para sustentar o crescimento que se buscava”, recorda.

Prestes participou de um painel de debates que contou com a mediação de Juliano Bello, cofundador da Cashme, e a participação de Maurício Barbosa, Chief Operating Officer (COO) da Ekko Group. Questionado sobre o processo de transformação da Ekko, Barbosa explicou que, nos últimos anos, a empresa mudou sua gestão, deixando de ser uma empresa familiar.

“Tivemos um crescimento muito expressivo nesse período, o que também trouxe vários desafios. Em meio à pandemia, tivemos que acelerar os investimentos em digitalização e foi muito positivo. E vários indicadores saltaram aos olhos, e aí dobramos os investimentos em inovação, criando, inclusive, um departamento de PMO dedicado. Melhoramos NPS, reduzimos SLAs e alcançamos, em 2021, um D&A de 3,3%, melhor que os 5,1% registrados em 2020, o que significa que deixamos ineficiências para trás”, resume.

Existe atalho para a inovação? Comece pelas pessoas

Ao final do evento, surgiu o questionamento se existe algum atalho para a inovação. Inclusive, foi uma das questões do painel mediado pelo CSO do Sienge, Fabrício Schveitzer, com as participações de Rafael Passos Valadares, diretor técnico da Direcional Engenharia, e Fábio Villas Bôas, vice-presidente da Tecnisa.

Construsummit 2021
Painel com as participações de Rafael Passos Valadares, diretor técnico da Direcional Engenharia, e Fábio Villas Bôas, vice-presidente da Tecnisa.

Para Valadares, é difícil falar de atalho uma vez que a inovação exige a criação de uma cultura e, principalmente, engajamento das lideranças da empresa em torno da importância do tema. Ou seja, é preciso, primeiro, trabalhar o mindset do time, o que não ocorre da noite para o dia.  

Já Villas Bôas destacou que um dos primeiros atalhos é, por exemplo, participar de eventos como o Construsummit. 

“Inovação é um processo árduo, de muito trabalho e, sobretudo, conhecimento. Por isso, o primeiro atalho é buscar esse conhecimento para fazer a inovação acontecer, é estar em eventos como este. As empresas e pessoas que não entenderem a importância da inovação estão fadadas ao fracasso, porque não é mais uma questão de escolha. O conhecimento é fundamental para manter a competitividade atualmente”, disse. 

E quando falamos que a inovação começa pelas pessoas, é preciso destacar a diversidade, que foi tema de outro painel do Construsummit 2021 e contou com a mediação da apresentadora do evento, Elisa Tawil, e a presença das executivas Carla Farias Gatti, diretora de Vendas, Marketing e Serviços do Sienge, e Sabrina Ribeiro, diretora de Operações da Cury.

Ao abrir a conversa, Elisa destacou uma pesquisa da Accenture que diz que empresas que têm estratégias ativas de diversidade são até seis vezes mais inovadoras. Isso acontece porque a diversidade de pensamentos e comportamentos contribui para inovações mais assertivas. 

Construsummit 2021
Elisa Tawil, apresentadora do Construsummit 2021, líder do Movimento Mulheres do Imobiliário e executiva na eXp Brasil

Nesse sentido, as painelistas ressaltaram o avanço da liderança feminina e a criação de times cada vez mais diversos, não só em suas empresas, mas no setor como um todo. “Agora é preciso agir para garantir representatividade para todos que, de alguma forma, estiveram distantes das mesas estratégicas”, afirma a diretora da Cury. 

Metamorfose humana

Ainda falando sobre a importância das pessoas para a inovação, a palestra de encerramento do Construsummit destacou a 5ª Revolução Industrial e o fator humano como centro das inovações, com apresentação do professor de Inovação na Universidade de Berkeley, Vinicius David.

Construsummit 2021
Palestra de encerramento com o professor de Inovação na Universidade de Berkeley, Vinicius David.

De forma didática, ele separou sua apresentação em três tópicos: como arquitetar uma cultura de inovação; a importância do desenvolvimento humano; e como reconstruir uma visão inovadora. E finalizou destacando que a metamorfose humana é que vai fazer a reconstrução perene de um negócio. 

“No fim do dia, não importa aquilo que você acredita, e sim o quanto você vai investir de si mesmo para fazer com que a inovação aconteça. Afinal, são as pessoas que estão e sempre estarão no centro das inovações. Portanto, criem cultura e formem as pessoas para que elas deem rumo à inovação na sua empresa”, conclui.