Como o BIM (Building Information Modeling) está avançando no Brasil e no mundo

Gustavo Prata

Escrito por Gustavo Prata

31 de maio 2022| 16 min. de leitura

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Como o BIM (Building Information Modeling) está avançando no Brasil e no mundo

Enquanto boa parte das empresas da construção civil ainda demora para se adaptar à transformação digital, outras ganham larga vantagem no mercado. Uma das soluções mais interessantes que têm se espalhado pelo mundo é o BIM.

Essa metodologia muda a forma de pensar e executar um projeto, otimizando todas as etapas de uma obra. Você quer que a sua empresa fique sempre no patamar mais elevado e brigue no topo pelos melhores empreendimentos? 

Este artigo vai te mostrar o que é o BIM, como ele funciona na prática e quanto ele é importante para o processo de construção no Brasil e no mundo. Detalhe: ainda há muito espaço para empreender com essa solução aqui no país.

As construtoras brasileiras que já entenderam a necessidade de adotar rapidamente tecnologias como o BIM têm tudo para ditar as regras e dominar o mercado construtivo.

O que é BIM?

Para começar a responder o que é BIM, vamos entender a sigla: o termo vem do inglês Building Information Modeling. Ao traduzir, fica “Modelagem de Informação da Construção”. 

Mas o que isso quer dizer, afinal?

Tradicionalmente, a construção civil trabalha os projetos por meio de plantas, desenhos técnicos feitos em 2D que representam as características de cada obra. O BIM revoluciona esse processo por introduzir novas camadas de modelagem, como 3D, 4D e por aí vai.

Isso permite que o projeto seja visto como uma maquete digital, o que facilita muito seu planejamento e execução, ainda mais se for um empreendimento complexo. Mais do que isso, o BIM engloba no mesmo arquivo informações relevantes para todos os profissionais envolvidos na obra, desde o engenheiro até um paisagista.

O que o BIM faz na prática?

Um software BIM de qualidade permite que vários profissionais trabalhem ao mesmo tempo no mesmo arquivo, sem problemas para salvar os dados. Em outras palavras, cada um realiza as mudanças relacionadas a suas funções específicas e as informações são atualizadas em tempo real, ficando disponíveis a todos. 

Isso integra e centraliza toda a comunicação essencial, com informações críticas do projeto, e impede que problemas de comunicação causem qualquer tipo de revés na obra.

O nível de detalhe a que o BIM chega é outra grande vantagem. Além de especificar medidas e quantidade de materiais, é possível até determinar qual tipo de insumo deve ser usado em determinado aspecto do projeto. Isso inclui paredes, piso, telhas, canos e muito mais.

Conheça as principais funcionalidades 

Há quem pense que essa metodologia serve só para modelar o empreendimento e ver de forma mais clara como ele vai ficar depois de pronto. Mas aqui está o segredo:

O BIM pode (e deve) ser usado para melhorar a gestão de obra. Afinal, é como se a edificação fosse construída por completo de forma digital antes de se concretizar. Assim, fica mais fácil abortar decisões ruins e validar boas práticas antes de qualquer máquina se mover no canteiro de obras.

BIM melhora a gestão de obras

Todas as funções, que permitem aos envolvidos no projeto saber o que precisa ser feito com antecedência e de maneira precisa, geram ganhos para a produção, como:

  • redução de custos: a primeira economia acontece na compra de materiais. Além disso, menos trabalho precisa ser refeito ou fica paralisado por falta de comunicação;
  • aumento da produtividade: qualquer tipo de trabalho especulativo fica de fora da equação quando o projeto é realizado primeiro no BIM;
  • organização do trabalho: além de entender o próprio papel no andamento do projeto, cada envolvido pode ter uma visão geral do que a obra requer. Isso deixa o trabalho mais organizado e confiável.

O que são as 5 camadas de modelagem

Existem 5 ciclos, ou camadas, de modelagem no sistema BIM. A cada nova camada, novos elementos tornam o projeto cada vez mais completo. Entenda agora quais são estes ciclos e como eles atuam no desenvolvimento de uma obra antes mesmo de um tijolo ser colocado:

3D – Desenvolvimento de protótipo

Nesta etapa da modelagem é feito o desenvolvimento do protótipo do edifício. Esse modelo inicial serve para criar diferentes cenários e encontrar possíveis problemas preliminares, como conflitos em elementos construtivos.

4D – Protótipo + planejamento físico da obra

Depois de ter o protótipo pronto, é possível uni-lo ao planejamento das tarefas físicas. Ou seja, alinhar o que foi projetado virtualmente com o cronograma do que será realizado no canteiro de obras. 

Mais uma vez, é possível criar vários cenários e analisar qual o impacto de cada abordagem no andamento geral da obra.

5D – Inclusão de softwares de orçamentação

Como já vimos antes, a plataforma BIM permite que um alto nível de detalhes seja adicionado ao projeto, o que inclui os tipos e quantidades de cada material. Nesta etapa do ciclo, é possível integrar softwares específicos para facilitar o processo de definição de orçamento.

6D – Integração com ferramentas de análise

Depois de concluir as outras etapas, ainda é necessário expor o projeto a análises importantes, como de eficiência energética, sequestro de carbono e consumo de energia. Com a modelagem 6D você consegue integrar todas as ferramentas de análise de que precisar para garantir o diagnóstico completo.

7D – Incorporação da gestão de manutenção

Por fim, o trabalho do BIM não estaria completo se não permitisse gerenciar a manutenção da edificação de forma eficiente e precisa. Isso inclui cada equipamento e material usado na construção. 

Com o último ciclo, você consegue fácil acesso a garantia de todos os equipamentos e materiais usados e aos planos de manutenção preparados previamente. Além disso, tem acesso facilitado aos fornecedores, bem como as informações que eles oferecem sobre os produtos utilizados na obra.

Mapeamento Maturidade BIM Brasil

Com todas essas vantagens à disposição, qual a maturidade da metodologia na Indústria da Construção Brasileira?

As respostas para essa questão guiaram a pesquisa Mapeamento de maturidade BIM Brasil“, realizada pelo Sienge e a Grant Thornton em 2020. Informações colhidas com mais de 600 empresas e profissionais mostraram uma realidade nacional ainda distante dos países na vanguarda do BIM.

Por outro lado, o estudo identificou um segmento atento às novidades e disposto a realizar ações de estruturação e aprendizado, o que abre caminho para o desenvolvimento do BIM no Brasil.

  • 38,4% das empresas e profissionais declararam que já utilizam a Metodologia BIM
  • 55,5% dos usuários BIM estão em empresas mais jovens (entre 0 e 10 anos)
  • 70% das empresas pretendiam adotar o BIM nos próximos dois anos em 2020

Segmentos com participação significativa na adoção da metodologia:

  • Escritórios de Projeto
  • Indústria de materiais, componentes e sistemas construtivos e
  • Loteadoras

Principais motivos apontados para a não adoção:

  • Barreiras financeiras quanto aos softwares e equipamentos necessários
  • Barreiras organizacionais (estrutura de colaboradores insuficiente para adotar a metodologia)
  • Barreiras financeiras quanto aos treinamentos necessários

Os dados consolidados sinalizaram a barreira financeira como um grande obstáculo. A maioria dos respondentes afirmou que os custos de softwares e equipamentos necessários para a implantação de processos BIM foram impeditivos para os próximos passos.

Barreiras financeiras também foram alegadas na viabilização dos treinamentos necessários à adoção. Além disso, a estrutura das empresas mostrou-se tão impactante quanto o aspecto financeiro. 

E hoje, a adoção está maior no Brasil?

Se em 2020 até 70% das empresas pretendiam adotar o BIM em seus processos, será que hoje podemos dizer que esta transformação digital na indústria da construção de fato avançou? 

Passados dois anos do primeiro levantamento, chegou a vez da segunda etapa do estudo: Pesquisa Maturidade BIM no Brasil. Trata-se de mais uma realização do Sienge com a Grant Thornton e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Quer ficar por dentro da pesquisa? Então clique aqui.

BIM é a principal ferramenta para a compatibilização de projetos

A pesquisa “Cenário Construtivo Brasileiro 2021” também traz um diagnóstico recente da expansão do BIM na indústria da construção civil. Para mais da metade das empresas consultadas, o sistema já é uma realidade na rotina de operações. O estudo, inclusive, identificou uma tendência de aumento na quantidade de empresas com mais de sete projetos em BIM dentro de suas atividades. Alguns números se destacam:

  • 58% das empresas contrataram ou trabalharam com projetos BIM em 2021
  • 71% recomendariam o BIM a um amigo ou colega
  • 87% dos usuários BIM relataram menos incompatibilidades nas obras após seu uso

Principais motivos para a adoção da metologia:

  • Melhorar a compatibilização dos projetos 87%
  • Melhorar o detalhamento dos projetos 73%
  • Melhorar a assertividade nos quantitativos de materiais 56%
  • Melhorar o planejamento 53%
  • Simular a construção e/ou custo do edifício 46%
  • Diminuir o custo final da obra 38%
  • Eliminar o desperdício no canteiro de obras 32%
  • Não ficar desatualizado 31%

Melhorar a compatibilização, portanto, foi o principal motivo apontado pelas empresas na busca pela metodologia BIM. Quais os reflexos desse movimento na indústria da construção? Algumas reflexões foram compartilhadas por um time de peso no webinar do Sienge “Tendências da Construção Civil para 2022“. Os participantes debateram os principais achados da pesquisa, incluindo dados relativos ao BIM.

Preste atenção no que o diretor de Portfólio na AltoQi, Rodrigo Broering Koerich, destacou:

“Durante muito tempo, a cultura da construção no Brasil trazia o improviso em obra como a realidade. Mas uma das coisas que a tecnologia vem nos mostrando é que dá para fazer melhor. Hoje, é normal que as construtoras e incorporadoras apontem a falta de compatibilização como sendo o problema. Isto mostra que essa dor sentida por eles já caminha na direção de buscar a solução, que é justamente o BIM

Como o BIM é usado no mundo

Apesar de estar ganhando espaço no Brasil só nos últimos anos, projetar e analisar um projeto com o apoio de uma plataforma BIM já é padrão nos principais mercados do mundo há algum tempo. Nos Estados Unidos, por exemplo, o sistema é obrigatório para todas as obras públicas desde 2006.

O mesmo acontece em vários países desenvolvidos, como Reino Unido, Holanda, Noruega e Dinamarca. Na América do Sul, o Chile é um dos pioneiros no uso da plataforma, obrigatória desde 2011.

E o que o Governo Federal espera?

Disseminar nacionalmente o BIM é uma missão da chamada Estratégia BIM BR do Governo Federal.

O plano foi inicialmente instituído pelo Decreto 9.377/18, mas depois veio a ser substituído pelo Decreto 9.983/2019, que criou o Comitê Gestor da Estratégia BIM BR. O Decreto 10.306/2020, por sua vez, estabelece a utilização do BIM na execução direta ou indireta de obras públicas da União no âmbito da Estratégia Nacional.

A estratégia tem os seguintes objetivos:

  • Difundir o BIM e os seus benefícios
  • Coordenar a estruturação do setor público para a adoção do BIM
  • Criar condições favoráveis para o investimento, público e privado, em BIM
  • Estimular a capacitação em BIM
  • Propor atos normativos que estabeleçam parâmetros para as compras e as contratações públicas com uso do BIM
  • Desenvolver normas técnicas, guias e protocolos específicos para adoção do BIM
  • Desenvolver a Plataforma e a Biblioteca Nacional BIM
  • Estimular o desenvolvimento e a aplicação de novas tecnologias relacionadas ao BIM
  • Incentivar a concorrência no mercado por meio de padrões neutros de interoperabilidade BIM

O que mais se espera da estratégia:

  • Aumentar a produtividade das empresas em 10% (produção por trabalhador das empresas que adotarem o BIM)
  • Reduzir custos em 9,7% (custos de produção das empresas que adotarem o BIM)
  • Aumentar em dez vezes a adoção do BIM (Governo estima que 5% do PIB da Construção Civil adote o BIM hoje)
  • Elevar em 28,9% o PIB da construção civil até 2028

Projeto Construa Brasil

Com a proposta de melhorar o ambiente de negócios do setor da Construção Civil, o Ministério da Economia lançou em abril de 2022 o Projeto Construa Brasil. A iniciativa é estruturada em três pilares: desburocratização, industrialização e digitalização da construção civil. Sabe o que sustenta este último pilar? Exatamente o BIM.

Conforme descrito no projeto, o BIM é a “porta de entrada” para a digitalização da construção no país. 

O governo tem diversas metas para disseminar a utilização desta inovação e, com isso, reduzir o desperdício e aumentar a produtividade e a transparência no setor. As metas, como visto no tópico anterior, estão justamente alinhadas à Estratégia BIM BR.

Confira o que já está disponível ao público em relação às metas:

Meta: Apoiar Ações de Estruturação do Setor Público para a Adoção do BIM

Meta: Estimular o Desenvolvimento e Aplicação de Novas Tecnologias Relacionadas ao BIM

Se quiser saber mais do projeto Construa Brasil, você pode assistir a live de lançamento aqui.

Conclusão

Ficou claro que o desenvolvimento da indústria da construção passa pela adoção do BIM em seus projetos, certo? Alguns países do mundo atravessaram esta ponte de inovação primeiro, mas o Brasil vem logo atrás e também aposta na expansão do sistema em seus negócios.

Quem já aderiu à metodologia é testemunha das vantagens desta tecnologia nas operações construtivas. E quem não incorporou a metodologia nas rotinas da empresa ainda tem tempo de se atualizar e tirar proveito dos mesmos benefícios!

E atenção: após dois anos do nosso primeiro levantamento e da obrigatoriedade prevista em legislação, será que a adoção do BIM avançou?

Vamos juntos identificar o cenário atual dessa verdadeira transformação digital no setor. Saiba mais detalhes da nossa pesquisa e participe!