Quais as principais patologias de obras e como evitá-las

Gustavo Prata

Escrito por Gustavo Prata

21 de fevereiro 2024| 12 min. de leitura

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Quais as principais patologias de obras e como evitá-las

O que patologia e construção civil têm em comum? Assim como define o “estudo das doenças” na medicina, esta palavra de origem grega também representa o estudo dos defeitos que podem surgir e comprometer uma edificação. Ou seja, patologias de obras são comparadas a doenças, devendo ser prevenidas e diagnosticadas antes que representem risco à construção.

Tecnicamente, uma manifestação patológica é definida pela norma de desempenho NBR 15575 como uma irregularidade que se manifesta no produto em função de falhas no projeto, na fabricação, na instalação, na execução, na montagem, no uso ou na manutenção, bem como problemas que não decorram do envelhecimento natural.

Se quiser garantir a saúde do seu empreendimento, acompanhe esse artigo até o final para conhecer as principais patologias de obras e saber como evitá-las!

Principais causas das patologias de obras

Um projeto bem elaborado é a primeira garantia para que sua obra saia do papel exatamente como o previsto. Quando esta etapa do empreendimento é incompleta ou aponta informações incorretas, todas as demais fases da obra ficam comprometidas.

Observe o que pode estar por trás do problema:

  • Falha no projeto
  • Falha na execução
  • Baixa qualidade do material
  • Uso inadequado
  • Entre outros

Fatores de risco

A execução do projeto é decisiva para evitar o aparecimento das principais patologias de obras. O uso equivocado dos materiais e a disponibilidade de uma mão-de-obra pouco qualificada são fatores que colocam em risco o empreendimento.

Patologias identificadas na fase de execução, como o recalque diferencial, têm um efeito cascata que se desdobram em outros problemas na construção. Fique atento a esses fatores de risco:

  • Excesso de carga na obra
  • Variações térmicas no ambiente
  • Variações de umidade no ambiente
  • Ação de agentes biológicos
  • Materiais incompatíveis
  • Ação de agentes atmosféricos
  • Alta rotatividade de mão-de-obra
  • Mão-de-obra pouco qualificada

Problemas comuns em habitações

Um levantamento em 1,4 mil unidades habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida mostra como as patologias de obras são comuns: mais da metade dos imóveis avaliados (56,4%) apresentaram defeitos na construção.

A pesquisa foi publicada em 2017, com avaliações em habitações construídas em 12 Estados brasileiros. O estudo apontou, na prática, o impacto destes problemas na qualidade de vida dos seus moradores.

Veja o percentual de algumas patologias encontradas na unidades analisadas:

  • Infiltrações 46%
  • Trincas 23,6%
  • Fissuras 21,3%
  • Depressões 13,8%
  • Recalques 4,7%

Principais patologias de obras

A literatura especializada apresenta uma série de manifestações patológicas decorrentes de fatores externos, vícios de construção e da falta de preparo durante a execução de uma obra.

Veja abaixo algumas destas principais patologias e como evitá-las, conforme apontado em publicações científicas.

Eflorescência (mancha de sais)

São formações de sais que aparecem como manchas na cor branca, mais frequentemente nas paredes de tijolos, em razão da umidade. Estes sais podem ser encontrados na água utilizada para a mistura do material e até mesmo na areia.

Dica: Além de zelar pela qualidade dos materiais utilizados, você pode evitar esse problema com atenção ao período adequado de secagem do reboco, estimado em 28 dias. Só depois desse prazo, portanto, é que a pintura deve ser providenciada.

Corrosão da estrutura de aço

Esta condição normalmente decorre da reação do aço quando exposto ao ambiente, o que provoca sua oxidação. Como consequência, a durabilidade da armadura de aço fica comprometida e pode colocar a obra em risco.

Dica: Fique atento para que o volume do reboco seja suficiente na proteção da armadura de aço, impedindo seu contato direto com o ambiente. A deterioração do concreto também pode levar ao mesmo problema.

Carbonatação

Outro processo que compromete a durabilidade da estrutura de aço é a carbonatação. Nesse caso, a corrosão é causada a partir das moléculas de gás carbônico presentes na atmosfera que penetram na estrutura do concreto. Uma vez em contato com a umidade no local, formam um tipo de ácido que corrói o metal.

Dica: A forma de evitar esse risco também se dá em atenção à integridade da camada de concreto que protege a estrutura de aço. Fique atento às condições do reboco e garanta que o concreto tenha volume suficiente para resistir ao ambiente em que se encontra.

Deterioração do concreto armado

Ocorre quando blocos de concreto se desprendem do restante da estrutura. Esse processo se dá pela perda do potencial aglomerante do cimento, seja por choques, vibrações, infiltrações e outros agentes que levam à desintegração do concreto armado.

Dica: Como as principais causas da deterioração são de ordem mecânica, é preciso estar atento a possíveis impactos no concreto e tomar providências para evitá-los. Uma sinalização adequada ajuda a evitar colisões provocadas por veículos em um estacionamento, por exemplo.

Infiltrações

Paredes, pisos, lajes e qualquer outra superfície numa construção estão sujeitos à infiltração. Esta condição se dá quando a água ou outro fluido invade espaços indevidos nestas estruturas. As implicações não são apenas de ordem estética, pois comprometem a segurança da edificação e colocam em risco a saúde dos usuários.

Dica: Mais importante do que remediar o problema é descobrir sua causa. Portanto, preste atenção a todos os pontos de concentração de umidade que podem dar origem à infiltração: lençol freático, vazamentos subterrâneos, áreas expostas à água da chuva e à condensação (ex: vapor no banheiro). A falta de ventilação e de insolação costumam contribuir para o problema. Você também pode providenciar uma boa impermeabilização da área construída.

Retração do concreto

A retração de concreto é caracterizada, principalmente, pela redução do volume do composto em razão da perda de água existente em seu interior. Trata-se de um processo lento e gradual, que provoca fissuras e traz complicações estéticas e estruturais se não houver medida corretiva.

Dica: Cuide para que a superfície não fique exposta a condições extremas, como vento forte e temperaturas elevadas. É importante também prestar atenção à qualidade do material e ao processo de mistura, evitando o excesso de água na composição.

Atenção para o recalque diferencial

Você já brincou com blocos de montar, certo? Se a base de encaixe estiver desalinhada, as peças não terão equilíbrio. Situação aparecida acontece numa construção, onde as diferenças entre os recalques da fundação são chamados de recalque diferencial.

A edificação pode até permanecer de pé, a exemplo dos prédios inclinados da cidade de Santos (SP), mas torna-se mais vulnerável com o passar do tempo.

Esta condição proporciona o aparecimento de outras patologias de obras, como fissuras e trincas em paredes, pisos e revestimentos. Dependendo das dimensões e das consequências, estas não conformidades podem comprometer a construção por inteiro.

Dicas:

  • A falta de homogeneidade do terreno é um fator de risco. Providencie uma avaliação do solo para identificar a necessidade de reforçar a fundação.
  • Analise se carga de trabalho no local não está acima da que pode ser suportada pelo solo.
  • Certifique-se de que o terreno não sofre influência da vegetação ou tubulações nas proximidades.
  • Inundações e outros eventos naturais podem interferir nas condições do terreno.
  • Modificações não previstas no projeto e no uso da edificação podem provocar condições diferenciadas de apoio e carga

Diferenças entre fissuras, trincas e rachaduras

As aberturas em forma de linha que aparecem nas superfícies de uma obra costumam ser confundidas aos olhos de quem não tem conhecimento técnico. Mas a verdade é que, apesar das semelhanças, o risco e o tamanho da dor de cabeça variam conforme a classificação destas alterações.

Estas aberturas indesejadas também têm causas e soluções específicas para cada caso. 

Fissura

Abertura com até 0,5 mm, decorrente da ruptura por ações que superam a resistência do material construído. Surge em direções verticais, horizontais, diagonais e misturadas.

Trinca

Abertura de 0,5 mm a 1,0 mm, decorrente da ruptura de parte da massa do material usado na construção da superfície. É uma evolução da fissura.

Rachadura

Abertura acima de 3 mm, normalmente profundas e acentuadas. É o estágio mais grave neste grupo de patologias. São facilmente notadas pelas frestas que permitem a entrada de luz, água e ar. Nesta condição, o risco para a estrutura é evidente e requer atenção imediata.

5 dicas finais para evitar patologias de obras no seu empreendimento

  1. Projeto – Garanta que seu investimento seja executado de acordo com todas as normas de construção civil previstas ao tipo de empreendimento
  2. Controle de qualidade – Os materiais adotados devem atender às normas técnicas e precisam ser utilizados conforme as orientações do fabricante
  3. Fiscalização – Estabeleça uma rotina de fiscalização para que todas as etapas da obra tenham o mesmo padrão de qualidade na execução
  4. Utilização adequada – Atente para que sua obra não receba cargas e alterações estruturais que não condizem com o limite suportado no projeto original.
  5. Manutenção – A identificação de patologias durante ou após a conclusão da obra demanda medidas imediatas. A correção de um pequeno problema hoje evita um problema maior no futuro.

Conclusão

Você deve ter percebido como as patologias de obras são comuns e colocam em risco as estruturas do seu projeto. Embora frequentes, estes problemas podem ser evitados com medidas preventivas e atenção às diretrizes do projeto. 

Lembre-se: as despesas com reparos serão muito maiores do que o investimento em materiais de qualidade e mão de obra qualificada.

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