4 exemplos práticos de industrialização na construção

Juliana Nakamura

Escrito por Juliana Nakamura

25 de setembro 2018| 10 min. de leitura

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Você sabe que industrializar a construção civil é algo que precisa ser feito com urgência, se quisermos solucionar o grave problema que temos de produtividade em nossas obras.
Esse também é o caminho que vem sendo adotado por algumas empresas no Brasil para reduzir a demanda por mão de obra (cada vez mais cara e escassa), aumentar a previsibilidade de custos e prazos, bem como garantir a qualidade exigida pelas normas técnicas.
Você acha que esse assunto muitas vezes fica restrito à teoria? Então, esse post foi feito para você. Nele apresentamos 4 exemplos de empreendimentos que incorporaram soluções construtivas industrializadas. Com diferentes portes e graus de industrialização, eles obtiveram vantagens consideráveis ao deixar de lado os métodos mais convencionais. Quer saber mais? Continue conosco!

1. Parque da Cidade – São Paulo, SP

Industrialização_Parque da Cidade_crédito Carlos-Gueller
O empreendimento é composto por cinco torres corporativas, uma torre de escritórios, duas torres residenciais com um total de 399 unidades, um shopping center com 22.400 m² de área bruta locável, um hotel e seis restaurantes.
  • Situação: No empreendimento da Odebrecht Realizações Imobiliárias (OR), engenheiros e projetistas buscaram uma solução estrutural que abreviasse os ciclos de concretagem e reduzisse a quantidade de homens no canteiro. O projeto arquitetônico assinado por Aflalo & Gasperini previa vãos-livres de até 12 m.
  • Solução: A saída de melhor custo-benefício foi combinar pilares moldados in loco com fôrmas metálicas, vigas pré-moldadas produzidas em uma central instalada no canteiro e lajes alveolares protendidas pré-fabricadas. A obra acabou se transformando em uma grande montagem, com vigas e lajes sendo içadas por gruas. Para solidificar tudo isso, foi utilizada uma capa de 5 cm de concreto, deixando as lajes com espessura final de 26 cm.
  • Resultados: A construtora trabalhou com seis dias de ciclo de concretagem na execução da estrutura. Se utilizasse um sistema inteiramente moldado in loco, o ciclo seria de oito a dez dias. Também foi possível reduzir entre 30% e 40% o custo com mão de obra dedicada a essa etapa. Outros ganhos foram percebidos em função do melhor acabamento proporcionado pelos elementos pré-fabricados. A obra também registrou vantagens com o uso de banheiros prontos. Além da eliminação de custos indiretos, a solução permitiu reduzir 230 itens que seriam gerenciados pelo setor de compras e pelo almoxarifado a um único fornecedor.

2. Complexo hoteleiro Vitória-régia – Coari, AM

Em uma área de aproximadamente 100 km² foram construídos dois alojamentos de 1.386 m² cada, um prédio central com 2.035 m² e um edifício de recepção com auditório de 610 m². O objetivo era prover instalações confortáveis para os trabalhadores de um campo de extração de petróleo e gás natural, minimizando os impactos ambientais de sua construção ao máximo.

  • Situação: Em meio à Floresta Amazônica, a obra teve de lidar com situações especiais, como a falta de infraestrutura local e o clima tropical. Era condição primordial que as edificações pudessem ser desmontadas no futuro, uma vez que a produção dos campos de petróleo não é eterna.
  • Solução: Foram adotados nessa obra fundação com radier de concreto, estrutura em steel frame, fechamento externo com placas cimentícias, fechamento interno com drywall, e cobertura com telhas metálicas tipo sanduíche.

Durante dois meses, a equipe de engenheiros e arquitetos se dedicou ao desenvolvimento de protótipos que permitiram avaliar a compatibilidade de materiais, identificar os custos de transporte etc.

  • Resultados: Na primeira etapa do empreendimento, foram erguidos dois alojamentos para 260 pessoas e um prédio central, somando 5 mil m². Tudo isso em apenas seis meses.

De acordo com os engenheiros da construtora Sequência, responsável pela obra, os sistemas industrializados permitiram reduzir drasticamente a quantidade de entulho gerado. Dos 53 contêineres de material de construção transportados até o local da obra, apenas meio retornou à cidade na forma de entulho.
A construção industrializada também reduziu a quantidade de mão de obra em aproximadamente 40%, em comparação a uma construção tradicional.

3. Escolas de educação infantil – Belo Horizonte, MG

Industrialização_Escolas em BH_crédito divulgação Inova BH
A parceria público-privada firmada entre a prefeitura de Belo Horizonte e a Inova BH culminou na construção de 46 unidades de educação infantil. Voltadas a alunos de até seis anos de idade, as escolas possuem 1.100 m² de área construída distribuídos por dois pavimentos. Cada unidade tem capacidade para receber até 440 alunos.
  • Situação: O prazo para a construção das escolas era de apenas 36 meses. Também era preciso respeitar a tipologia padrão utilizada nas escolas da cidade, com vários recortes e curvas. A técnica de execução precisava, ainda, garantir determinado padrão de qualidade e proporcionar baixo custo de manutenção/operação.
  • Solução: O empreendimento foi viabilizado tendo o steel frame como método construtivo. A estrutura é composta por perfis leves de aço galvanizado formados a frio com 95 mm de espessura espaçados a cada 40 cm entre os montantes, fixados com parafusos autobrocantes também galvanizados.

Os fechamentos externos foram executados com placas cimentícias revestidas com pastilhas cerâmicas. Internamente as vedações são em chapas de drywall preenchidas com lã mineral para melhor desempenho acústico. A cobertura possui treliças, ripas, terças e caibros estruturados em LSF, onde são fixadas e apoiadas telhas de PVC. As instalações prediais hidráulicas utilizam PEX (polietileno reticulado).

  • Resultados: De acordo com os engenheiros da Odebrecht Infraestrutura, responsáveis pela obra, a industrialização das principais etapas do processo construtivo permitiu reduzir o prazo de execução da obra e agregou qualidade dimensional.

Também houve redução de mão de obra empregada. No pico das obras foram cerca de 700 operários atuando simultaneamente. Esse contingente equivale a aproximadamente a metade do que seria necessário se tivesse sido empregado uma metodologia construtiva com concreto moldado in loco e alvenaria.

4. Torre INC – Itu, SP

Trata-se de um empreendimento comercial com 15 pavimentos, sendo dois subsolos. A arquitetura de linhas contemporâneas teve como principal premissa a flexibilização do layout interno dos pavimentos tipo, que podem ser subdivididos em oito conjuntos de escritórios ou forma um open space com 440 m² de laje privativa.

  • Situação: Segundo o arquiteto e incorporador Sérgio Sampaio, a opção pelos sistemas construtivos industrializados se deu pela vontade de racionalizar ao máximo a obra.
  • Solução: O empreendimento utilizou estruturas mistas (aço + concreto). Os pilares de aço foram revestidos de concreto, enquanto as vigas de aço receberam proteção passiva através de argamassa projetada. As lajes foram executadas em steel deck. Subsolos e térreo empregaram laje painel treliçada maciça.

As fachadas foram executadas em steel frame. Os fechamentos internos foram construídos com drywall duplo. Já o fechamento externo se deu com chapas cimentícias envelopadas por membrana que protegem a fachada das intempéries e auxiliam no desempenho termoacústico da edificação. Para o revestimento foi utilizada massa acrílica branca para melhor reflexão do calor.

  • Resultados: A combinação de sistemas construtivos industrializados permitiu máxima redução de desperdícios. Além disso, possibilitou maior controle de custos em função da maior precisão.

Conclusão

Os exemplos que citamos acima mostram que a industrialização na construção não é um objetivo distante. Muito pelo contrário. É aplicável em grandes empreendimentos, como o Parque da Cidade, em situações desafiadoras, como a de Coari, e também em pequenos edifícios, como a Torre INC.
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Antes de concluir, gostaríamos apenas de sugerir a leitura de dois outros conteúdos publicados pelo Buildin. O primeiro aborda uma série de tecnologias para industrializar a construção. O segundo foca mais especificamente nas estruturas de aço, mostrando os potenciais ganhos que podem ser obtidos com essa solução.