Gustavo Martins: engenharia de custos, internet e mercado

Helena Dutra

Escrito por Helena Dutra

20 de março 2018| 9 min. de leitura

Compartilhe
Gustavo Martins: engenharia de custos, internet e mercado

 

Gustavo Martins trabalha com Engenharia de Custos há 15 anos.

Em 2014, decidiu investir no potencial da internet. A escolha deu certo: com quase quatro anos, seu blog Engenheiro de Custos se consolidou como uma referência na área. Com mais de 39 mil leitores, Martins publica posts, materiais úteis e promove cursos por meio da plataforma. O êxito fez com que ele ainda começasse a produzir vídeos e conteúdo para redes sociais.

Martins, que reside na cidade paulista de Lins, também é professor de pós-graduação na Unigrad, com sede em Vitória da Conquista, Bahia.  Nesta entrevista, ele conversa com o blog do Sienge sobre a importância estratégica da engenharia de custos, a criação de seu blog e o mercado da construção.

Acompanhe!

perfil da construção SIENGE: Fale-nos um pouco sobre sua trajetória profissional.

Sou formado em Engenharia de Controle e Automação pela antiga Escola de Engenharia de Lins, atualmente conhecida como Unilins, e atuo como engenheiro de custos há 15 anos.

Comecei nessa área no primeiro ano da faculdade, como estagiário de uma construtora, no departamento de orçamento. Após sete anos, passei a gerenciar obras na mesma empresa.

Pouco tempo depois, ingressei em outra construtora da minha região, como engenheiro de orçamentos e gerente de obras.

Em 2013, comecei minha experiência como empreendedor, abrindo minha própria empresa.

SIENGE: Como surgiu a ideia de criar o blog?

Há muito tempo tinha vontade de ter um blog para ensinar outras pessoas a realizar orçamento de obras, pois percebia que encontrar engenheiros qualificados nessa área era bem difícil. Pude constatar isso nas empresas em que trabalhei, em associações e conversando com outros profissionais do setor.

Como sempre treinei estagiários, recém-formados, arquitetos e até mesmo engenheiros mais experientes na parte de orçamento e planejamento, pude confirmar que a faculdade não preparava o aluno da maneira adequada para a realidade das empresas.

Então, em 2014, quando ainda tentava empreender na área, lembrei-me da minha segunda transição, quando mudei de emprego. Nessa ocasião, fiz um teste com mais de 20 profissionais, entre eles arquitetos e engenheiros experientes, com currículos que somavam mais de dez anos de experiência comprovada na área.

Até minha entrevista, nenhum dos 20 canditatos conseguiu realizar a estimativa  de orçamento de uma residência de 80 m² utilizando apenas uma planta baixa. Foi aí que tive a validação de que o blog poderia ajudar as pessoas.

Então, em junho de 2014, comecei o blog apenas como um hobby. Nunca imaginei que fosse ter o alcance e o impacto que teve já no seu primeiro ano. Acredito que o motivo do sucesso seja a forma como nos comunicamos com o público, passando de maneira simples um conteúdo que a maioria acredita ser complexo.

SIENGE: Quais são as principais dúvidas de seus leitores?

Uma das maiores dúvidas é sobre como começar o orçamento, já que a maioria é recém-formada ou não tem experiência na área. Depois, começam a surgir perguntas sobre composições de preços, produtividade de mão de obra, BDI e impostos. São as campeãs de busca!

SIENGE: Por que é tão importante para os engenheiros aprofundarem o conhecimento em orçamento de obras?

Geralmente, após se graduar, o primeiro contato do engenheiro com a construtora ocorre no escritório, desempenhando funções administrativas. Nesse contexto, o orçamento e o planejamento são as áreas que mais exigem capacitação.

Além disso, o conhecimento em custos irá acompanhar o profissional mesmo que ele mude de função, transferindo-se do escritório para o campo. Caso passe a gerenciar obras, por exemplo, a base em orçamento será importantíssima para planejar e administrar os projetos de maneira eficiente, contribuindo para que seja um excelente gestor.

SIENGE: Quais as características mais importantes de um bom orçamentista?

Organização, bom senso para antecipar imprevistos e capacidade analítica para ler e interpretar de maneira coerente os requisitos do projeto.

Também  é importante desenvolver a habilidade de trabalhar em equipe, já que o orçamentista transita em diversos setores da empresa para elaborar o orçamento, como suprimentos, projetos e áreas externas.

Por fim, é preciso adquirir uma visão clara dos métodos construtivos da empresa para elaborar os quantitativos e prever o andamento da obra antes de sua execução.

Comparo o profissional de custos ao jogador de xadrez. É necessário que ele se antecipe em relação ao “oponente”, prevendo três, quatro ou cinco jogadas e formulando uma estratégia bem definida.

SIENGE: Como o engenheiro de custos pode colaborar para evitar atrasos na entrega da obra?

Com o auxílio do engenheiro de custos, o gerente pode ter uma análise rápida e precisa dos desvios na hora da execução do projeto.

Assim, fica mais fácil mudar a estratégia e recuperar o prazo da obra, principalmente quando os desvios são identificados na fase inicial. Por isso, é fundamental que esse profissional realize de forma cuidadosa tanto o planejamento quanto o acompanhamento da obra.

SIENGE: Como a atuação desse profissional pode evitar o desperdício no canteiro de obras?

O engenheiro de custos pode auxiliar no acompanhamento da obra, apontando como cada valor deve ser aplicado. Como ele faz essa previsão no orçamento e no planejamento, fica fácil ajudar no gerenciamento da obra caso ocorram desvios de insumos, materiais, equipamentos ou mão de obra.

Se ele retroalimentar o sistema de orçamento com as métricas medidas em campo, a empresa poderá entender a produtividade real da sua equipe. Assim, terá um parâmetro para futuras obras e poderá evitar que sejam cometidos desvios similares.

Dessa forma, esse profissional deve acompanhar o projeto e ajudar o gerente da obra na tomada de decisão. Além disso, a implementação do Lean Construction [ou Construção Enxuta, em português] pode melhorar o processo da empresa e eliminar algumas perdas.

SIENGE: Qual é o poder decisório do engenheiro de custos na obra?

Por ter as estimativas de custo e a previsão de todas as etapas da obra, o engenheiro de custos detém um poder decisório “absurdo”‘ para modificar estratégias.

SIENGE: Em sua opinião, quais são os principais desafios enfrentados atualmente pelas empresas da construção civil no Brasil?

Nestes últimos anos, os desafios enfrentados pelas empresas de construção aumentaram. Mas sigo acreditando que o planejamento deveria ser levado mais a sério, porque a falta de um processo bem definido mata as margens de lucro e o resultado das empresas.

As empresas precisam entender suas métricas e sua produtividade efetiva, identificando onde ocorrem os desvios e tomando medidas de correção. Vejo uma falta de controle gigantesca nesse sentido, o que deixa as empresas sem clareza na hora de tomar uma decisão.

Com isso, tudo se torna nebuloso, e muitas vezes os gestores não sabem nem mesmo se as obras estão gerando lucro ou grandes prejuízos.  

Em breve, apresentaremos nova entrevista com um profissional de destaque no setor da construção! Não perca!