Engenheiro civil pode assinar projeto de estrutura metálica?

Gabriela Torres

Escrito por Gabriela Torres

4 de setembro 2023| 14 min. de leitura

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Engenheiro civil pode assinar projeto de estrutura metálica?

Se você já se fez essa pergunta do título, a resposta objetiva é: sim, engenheiro civil pode assinar projeto de estrutura metálica. Mas não basta apenas concluir a graduação para calcular estruturas complexas e de grande porte. O conhecimento específico na área de estruturas de aço é adquirido com muitos anos de estudos e de experiência prática em obras de pequeno e médio porte.

Neste texto, você vai entender quais profissionais podem assinar projetos de estruturas metálicas e saber quais as principais habilidades para atuar no segmento de cálculo estrutural, com foco nas estruturas de aço e nas estruturas mistas de aço e concreto.

Qual engenheiro pode assinar estrutura metálica?

O entendimento da Câmara Especializada de Engenharia Civil do Crea-MG é que o engenheiro civil está habilitado para assinar projetos, cálculos e execução de estruturas metálicas, desde que se trate de montagem e elaboração de projeto a partir de componentes já fabricados. Essas atribuições incluem a montagem de conjuntos como vigas, cortes, execução de furações, parafusos, telhas e soldas.

O Crea-MG reforça que a atribuição não abrange atividades fabris de produção seriada de elementos metálicos, incluindo processos como extrusão, conformação, fundição e laminação, que requerem o acompanhamento técnico de um engenheiro industrial especializado em mecânica.

Segundo o Crea-RS, aliás, os engenheiros mecânicos também podem assinar ART com responsabilidade técnica necessária as obras de estruturas metálicas, com fiscalização em projetos, fabricação e montagem de estruturas. Mas é importante destacar que essa atribuição é restrita às estruturas metálicas: de acordo com o Crea-RS, ele não pode assinar ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) para projetos de pequenas construções e reformas, que são atribuições de engenheiros civis.

Arquiteto pode assinar estruturas metálicas?

Vale lembrar que também os arquitetos são habilitados para emitir Registro de Responsabilidade Técnica de projetos de estruturas metálicas junto ao Conselho de Arquitetura e Urbanismo de sua Unidade Federativa (CAU/UF) de domicílio.

Quais regulamentações regem a responsabilidade técnica profissional para projetos de estruturas metálicas?

As atribuições profissionais não fazem referência específica às estruturas metálicas, mas a obras de edificações, infraestrutura e instalações industriais e mecânicas. É a partir dessas atribuições mais genéricas que os conselhos interpretam a atribuição específica de responsabilidade técnica para as estruturas metálicas.

Engenharia

No caso de profissionais de engenharia, as atribuições são regidas pela Resolução n° 218, de 29 de junho de 1973, do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. Ela lista 18 atividades sob responsabilidade da entidade:

  1. Supervisão, coordenação e orientação técnica;
  2. Estudo, planejamento, projeto e especificação;
  3. Estudo de viabilidade técnico-econômica;
  4. Assistência, assessoria e consultoria;
  5. Direção de obra e serviço técnico;
  6. Vistoria, perícia, avaliação, arbitramento, laudo e parecer técnico;
  7. Desempenho de cargo e função técnica;
  8. Ensino, pesquisa, análise, experimentação, ensaio e divulgação técnica; extensão;
  9. Elaboração de orçamento;
  10. Padronização, mensuração e controle de qualidade;
  11. Execução de obra e serviço técnico;
  12. Fiscalização de obra e serviço técnico;
  13. Produção técnica e especializada;
  14. Condução de trabalho técnico;
  15. Condução de equipe de instalação, montagem, operação, reparo
  16. ou manutenção;
  17. Execução de instalação, montagem e reparo;
  18. Operação e manutenção de equipamento e instalação;
  19. Execução de desenho técnico.

O item “2. Estudo, planejamento, projeto e especificação” é o mais importante para os projetos de estruturas metálicas.

No caso dos engenheiros civis, a resolução declara explicitamente no artigo 7° que compete ao engenheiro civil ou ao engenheiro de fortificação e construção o desempenho das atividades 01 a 18 referentes a edificações, estradas, pistas de rolamentos e aeroportos; sistema de transportes, de abastecimento de água e de saneamento; portos, rios, canais, barragens e diques; drenagem e irrigação; pontes e grandes estruturas; seus serviços afins e correlatos. É este trecho, portanto, que permite afirmar que engenheiro civil pode assinar projeto de estrutura metálica.

Já no caso dos engenheiros mecânicos, cujas atribuições são detalhadas no Artigo 12°, a interpretação é de que eles podem desempenhar as atividades de 1 a 18 referentes, entre outros, a “instalações industriais e mecânicas” – nas quais se incluem as estruturas metálicas.

Arquitetura

Como falamos, não somente o engenheiro civil pode assinar projeto de estrutura metálica. No caso das atribuições específicas dos Arquitetos, a especificação se encontra na Resolução n° 21, de 5 de abril de 2012, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/BR). O Artigo 2° traz 12 atividades sob responsabilidade desses profissionais:

  1. Supervisão, coordenação, gestão e orientação técnica;
  2. Coleta de dados, estudo, planejamento, projeto e especificação;
  3. Estudo de viabilidade técnica e ambiental;
  4. Assistência técnica, assessoria e consultoria;
  5. Direção de obras e de serviço técnico;
  6. Vistoria, perícia, avaliação, monitoramento, laudo, parecer técnico, auditoria e arbitragem;
  7. Desempenho de cargo e função técnica;
  8. Treinamento, ensino, pesquisa e extensão universitária;
  9. Desenvolvimento, análise, experimentação, ensaio, padronização, mensuração e controle de qualidade;
  10. Elaboração de orçamento;
  11. Produção e divulgação técnica especializada; e
  12. Execução, fiscalização e condução de obra, instalação e serviço técnico.

Novamente, o item 2. Estudo, planejamento, projeto e especificação é o mais importante para os projetos de estruturas metálicas.

Em um parágrafo deste mesmo artigo, o texto define explicitamente que as atribuições se aplicam, entre outros campos de atuação, ao de “sistemas construtivos e estruturais, estruturas, desenvolvimento de estruturas e aplicação tecnológica de estruturas”.

As estruturas metálicas são mencionadas explicitamente no Artigo 3°, que trata do Registro de Responsabilidade Técnica (RRT), no item 1. Projeto > 1.2 Sistemas construtivos e estruturais > 1.2.4. Projeto de estrutura metálica.

Especialização em engenharia de estruturas metálicas

O engenheiro civil pode assinar projeto de estrutura metálica, mas ser habilitado é apenas o começo. A expertise necessária para navegar com sucesso na complexidade dessas estruturas vai muito além do diploma de graduação. É aí que entra a engenharia estrutural, uma subespecialidade focada inteiramente em estruturas.

Vamos, agora, mergulhar nas habilidades e conhecimentos que diferenciam um engenheiro estrutural especialista de outros profissionais da construção. Vamos explorar como a experiência prática, o conhecimento do comportamento estrutural do aço e o domínio de ferramentas e softwares especializados são vitais para a especialização nesse campo. Além disso, discutiremos alguns dos desafios mais complexos que esses profissionais enfrentam, como a segurança contra ações do vento, do fogo e até atividades sísmicas em estruturas metálicas.

Habilidades para elaborar projetos de estruturas metálicas

Enquanto um engenheiro civil ou mecânico pode estar qualificado para lidar com projetos que envolvem estruturas metálicas, há um nível de expertise que só pode ser alcançado através de especialização.

A engenharia de estruturas metálicas é uma subespecialidade que demanda um conjunto de habilidades e conhecimentos que vão além do currículo básico da engenharia civil ou mecânica. Abaixo, exploramos alguns dos elementos cruciais dessa especialização.

Dominar as habilidades a seguir tornam o projeto não apenas mais seguro, mas também mais mais econômico, e é o diferencial dos profissionais e empresas especializados em estruturas metálicas.

Experiência prática

A teoria é apenas um lado da moeda; a prática é o outro. Trabalhar em empresas especializadas na fabricação e montagem de estruturas metálicas ou em escritórios de engenharia focados neste sistema construtivo oferece uma experiência inigualável. Este ambiente permite que o profissional entenda as nuances da materialização de um projeto, desde a escolha dos materiais até os desafios da montagem e manutenção.

Domínio das características específicas do aço

O aço é um material com propriedades únicas que necessitam ser profundamente compreendidas para serem efetivamente utilizadas em estruturas metálicas. Isso inclui, mas não se limita a, seu comportamento sob diferentes temperaturas, seu limite de elasticidade, e como ele interage com outros materiais como o concreto em estruturas mistas.

Ferramentas e softwares especializados

Softwares de análise estrutural e modelagem 3D são ferramentas essenciais para qualquer engenheiro de estruturas metálicas. O domínio dessas ferramentas não apenas acelera o processo de projeto, mas também permite análises mais precisas, minimizando erros e otimizando recursos.

Conhecimento em análises específicas

O comportamento de estruturas metálicas pode ser profundamente afetado por uma série de fatores externos como vento, fogo e atividades sísmicas. A capacidade de realizar análises estruturais que considerem esses fatores é uma habilidade avançada que pode fazer toda a diferença em termos de segurança e viabilidade de um projeto.

Pós-graduação em estruturas metálicas vale a pena?

Quem atua no segmento de estruturas metálicas precisa estar em constante atualização, não apenas em cursos lato sensu (especialização), como no strictu sensu (mestrado e doutorado), e cursos breves sobre tópicos específicos, incluindo softwares e técnicas analíticas.

A título de exemplo, veja o resumo do programa de uma pós-graduação (curso de especialização) com carga de 360 horas oferecido pela Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Poli-UFRJ):

Módulo l – Projeto em aço visando a concepção do desenho (CAD/CAM/BIM), aspectos de fabricação como detalhamento da estrutura e lista de materiais e os produtos em aço.

Módulo II – Cálculo básico em aço visando projeto e dimensionamento de estruturas: ações e segurança, perfis laminados e soldados, perfis tubulares e perfis formados a frio.

Módulo III – Projeto complementar que trata de disciplinas não vistas normalmente na graduação: dimensionamento em situação de incêndio, fundações de estruturas de aço, tópicos especiais.

Módulo IV – Projeto avançado em aço, abordando ligações aparafusadas e soldadas, pontes em aço e estruturas mistas.

Conclusão

Vimos que o engenheiro civil pode assinar projeto de estrutura metálica. Mas a complexidade envolvida no projeto e na execução de estruturas metálicas torna a especialização em engenharia de estruturas metálicas não apenas desejável, mas muitas vezes crucial. O panorama legal já fornece um quadro básico de quem está autorizado a assinar projetos envolvendo estruturas metálicas, que abrange engenheiros civis, mecânicos e arquitetos. No entanto, como demonstrado, a capacidade de lidar com questões intrincadas que vão desde a especificação de materiais até análises estruturais avançadas é o que distingue um especialista no campo.

A excelência em engenharia de estruturas metálicas é uma combinação de formação acadêmica sólida, experiência prática e domínio de ferramentas e técnicas especializadas. Estes elementos, quando harmonizados, capacitam o profissional a lidar com os desafios singulares deste segmento, que incluem questões de segurança, eficiência e inovação. É a habilidade de integrar teoria e prática que permite aos engenheiros de estruturas metálicas oferecer soluções que são tanto viáveis quanto seguras, e que se adequam aos padrões e regulamentos atuais.

Ademais, em um mundo onde a construção civil e de estruturas estão em constante evolução, impulsionadas por avanços tecnológicos e demandas sociais, a necessidade de profissionais altamente qualificados nunca foi tão premente. Investir em especialização é mais do que um diferencial competitivo; é um imperativo para qualquer engenheiro ou arquiteto que deseja não apenas participar, mas também liderar na elaboração de projetos que definirão o nosso futuro construído.

Se pudermos resumir este conteúdo em uma frase, ela seria: engenheiro civil pode assinar projeto de estrutura metálica, mas quanto mais especializado ele for, melhor a qualidade do projeto.