As Built: o que é e para que serve?

Entenda a importância do As Built não apenas para a construção de um empreendimento, mas também para a operação, manutenção e futuras reformas

Juliana Nakamura

Escrito por Juliana Nakamura

5 de agosto 2019| 10 min. de leitura

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As Built: o que é e para que serve?

*atualizado em 06/07/2023*

Você já ouviu falar sobre o As Built? Esse termo em inglês é muito conhecido entre os profissionais do setor de construção e da área de engenharia. Ele pode ser traduzido ao pé da letra como “Como Construído”.

Trata-se de um projeto com representações técnicas. Ou seja, plantas, cortes, fachadas etc., com todas as alterações e modificações promovidas durante a construção ou reforma de um imóvel.

O As Built é de enorme importância na área da arquitetura e da engenharia, na gestão de edifícios residenciais, comerciais e industriais. Não à toa, esse tema é tratado em norma técnica da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), no caso, a NBR 14.645:2001 – Elaboração do “como construído” (as built) para edificações.

Neste post, você vai entender melhor como o As Built é realizado e suas principais aplicações.

Qual a importância do As Built?

Você sabe que toda obra de engenharia tem como referências principais os projetos arquitetônicos e executivos do empreendimento que será construída, não é mesmo?

No entanto, é natural que, durante a execução das obras, novas alterações sejam realizadas, modificando o projeto original. O mesmo ocorre durante a vida útil de um edifício, quando reformas e adaptações são, invariavelmente, realizadas pelos usuários. Assim, é de se esperar que o desenho técnico inicial sofra alterações ao longo da vida útil da edificação.

O registro completo e confiável de todas essas modificações é imprescindível. Sabe por quê? Para que, no futuro, reformas e eventuais manutenções possam ser realizadas sem que se comprometa a qualidade da estrutura construída.

O As Built trata justamente disto. Ele relaciona todas as mudanças efetivadas num empreendimento civil durante sua execução e, também, durante o seu uso.

Ao registrar técnica e formalmente eventuais mudanças não documentadas, ele ajuda a prevenir possíveis acidentes que podem ocorrer em intervenções em imóveis mais antigos.

Com o As Built também fica mais fácil averiguar se, na atual situação, a construção está dentro das normas vigentes. Dessa forma, evitam-se problemas legais como alvarás de funcionamento e laudo do Corpo de Bombeiros, por exemplo.

Principais tipos de projeto “Como construído”

A elaboração do As Built se aplica tanto no projeto arquitetônico, quanto nos projetos complementares. Ou seja, de todos os elementos que compõem as instalações elétricas, hidráulicas e outras.

Por isso mesmo, pode ser classificado em diversos tipos. Em cada um deles é realizado o levantamento das instalações em suas especificidades, como te mostro a seguir:

  • As Built arquitetônico – Contempla o levantamento total da construção, incluindo áreas internas e fachadas. Esse tipo de As Built apresenta as dimensões e as medidas geométricas, bem como traz o detalhamento de materiais empregados em vedações, coberturas e revestimentos.
  • As Built elétrico – Como é de se supor, se dedica às instalações elétricas. Esse tipo de As Built consiste no levantamento de toda a instalação elétrica e analisa a distribuição dos circuitos, a demanda de energia, elementos que compõem as instalações, quantidade, potência e localização de pontos de alimentação.
  • As Built hidrossanitário – Consiste na identificação dos diversos conjuntos de instalações que fazem parte do sistema hidráulico e hidrossanitário. Apresenta todo o posicionamento, as medidas de tubulações e as ramificações, seja de água fria ou quente.
  • Outras tipologias – O As Built pode ser realizado, ainda, para analisar o sistema de comunicação de voz e dados, de prevenção de incêndio, de climatização, entre outras disciplinas.

Como o As Built é feito?

as built

Para elaborar o documento em conformidade com as normas técnicas brasileiras, os profissionais de arquitetura e engenharia devem consultar as normas técnicas da ABNT que disciplinam o as built.

É importante chamar atenção para uma atualização recente da norma: até 2022, o principal texto que tratava do assunto, a NBR 14.645:2001, se dividia em três partes. No entanto, após um processo de revisão, apenas a parte 1 se manteve com o título original fazendo referência ao “as built”. As partes 2 e 3 foram canceladas e substituídas por textos novos, indicados a seguir:

  • ABNT NBR 14645-1:2001 Versão Corrigida:2001 – Elaboração do “como construído” (as built) para edificações – Parte 1: Levantamento planialtimétrico e cadastral de imóvel urbanizado com área até 25 000 m², para fins de estudos, projetos e edificação – Procedimento
  • ABNT NBR 17047:2022 Levantamento cadastral territorial para registro público – Procedimento
  • ABNT NBR 17058:2022 Locação topográfica e controle dimensional de edificação – Procedimento

De modo geral, a elaboração do As Built pode ser dividida em duas etapas principais.

A primeira delas consiste no levantamento de todas as medidas e análises dos sistemas que compõem a edificação.

A segunda parte abarca o relato e a representação gráfica (desenhos e plantas) das alterações analisadas em obra.

Um ponto que vale ser ressaltado. Muito embora o As Built seja uma versão final de um projeto, é importante que ele contemple o histórico de todas as revisões realizadas. Dessa forma fica mais fácil entender o motivo que levou às mudanças aplicadas.

Novas tecnologias para elaboração de As Built

Como falamos anteriormente, a finalidade de um projeto As Built é documentar as condições de uma construção. É como uma radiografia do que foi efetivamente construído.

Ao englobar sua configuração arquitetônica, bem como suas instalações, o As Built pressupõe a manutenção de um registro sempre atualizado da edificação.

Tradicionalmente, o As Built é elaborado a partir de um levantamento métrico detalhado de forma manual.

Mais recentemente, contudo, passou-se a utilizar tecnologias que permitem captar digitalmente os ambientes. O resultado de tais avanços são notados em maior detalhamento, maior qualidade, precisão e, principalmente economia de recursos e tempo.

Esse é o caso, por exemplo, da sondagem com ultrassom de elementos estruturais. 

Outro exemplo relevante é o escaneamento a laser (3D), com uso crescente a partir de 1990.

O laser scan fornece de forma rápida, precisa e detalhada os dados de cenas digitalizadas por meio de uma nuvem de pontos 3D. Tais nuvens podem ser utilizadas para a criação de modelos As Built 3D em BIM, por exemplo. 

Lembre-se que, mais do que oferecer uma representação tridimensional, o BIM (Building Information Modeling) centraliza informações de toda a edificação, possibilitando a gestão automática de dados para a manutenção e operação.

Confira no vídeo a seguir um case bem interessante de As Built arquitetônico realizado através da tecnologia laser scanning 3D.

Além disso, se quiser saber mais sobre o uso de laser scanning 3D, confira este post que preparamos há pouco tempo.

Considerações finais

Ao longo do artigo de hoje você pode entender um pouco mais sobre o que é o As Built.

Você viu, por exemplo, que o projeto “Como Construído” é de suma importância ao permitir a identificação das instalações existentes no edifício com nível de detalhamento profissional, com plantas baixas, cortes específicos, a distribuição de circuitos etc.

Você viu, também, que o As Built de uma obra deve conter a descrição daquilo que foi efetivamente implantado e a identificação dos desvios ocorridos no decorrer do processo. Além disso, ele deve contemplar os desenhos atualizados quanto aos elementos alterados em relação ao projeto original.

Antes de encerrar gostaria de indicar a você a leitura de alguns conteúdos bem interessantes produzidos pelo sienge:

Ah, e se quiser complementar ainda mais seus conhecimentos, sugiro, ainda, a leitura de dois trabalhos acadêmicos bem ricos:

  • “A importância do As Built (como construído) em projetos de controle dimensional voltados para topografia industrial”, apresentado por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa;
  • Projeto As Built 3D”. O paper de Camila Therbas apresenta um projeto de As-Built 3D para uma unidade petroquímica brasileira.

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Até a próxima!