Análise Preliminar de Riscos antecipa perigos da obra

Gustavo Prata

Escrito por Gustavo Prata

19 de dezembro 2022| 17 min. de leitura

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Análise Preliminar de Risco permite identificar situações de perigo nas atividades da obra e adotar medidas preventivas, como o uso de Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva

Independentemente do porte da obra, as atividades de construção civil envolvem riscos para a segurança e a saúde não apenas de trabalhadores, como também para a comunidade do entorno. Nesse contexto, a Análise Preliminar de Riscos (APR) é uma etapa indispensável do planejamento para evitar acidentes que tragam prejuízos durante a execução do projeto.

A versão vigente do texto da Norma Regulamentadora nº 18 – Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria da Construção, cita o termo análise de risco por 13 vezes. O número é apenas um sinal da importância do assunto para engenheiros, arquitetos e outros trabalhadores que atuam no dia a dia da obra.

Neste artigo, vamos mostrar o que é a análise preliminar de riscos, como estruturar este trabalho e as informações mais importantes que devem constar no documento. Assim, você poderá elaborar um trabalho consistente para garantir uma obra segura, sem surpresas nem dores de cabeça para a sua empresa e seus funcionários. Vamos lá?

O que é Análise Preliminar de Riscos (APR)?

A Análise Preliminar de Riscos é um estudo de riscos realizado na fase inicial de um projeto. Ele permite:

  • Avaliar as diferentes conceitos de projeto sob a ótica de seus riscos;
  • Concentrar a atenção do construtor nos aspectos de segurança mais importantes; e
  • Planejar análises de riscos mais detalhadas para situações críticas do projeto.

A elaboração da análise preliminar não costuma tomar muito tempo das equipes de engenharia. A APR cobrirá os principais riscos das etapas de construção se elaborada por uma equipe qualificada e bem dimensionada. Com essa listagem em mãos, a equipe de planejamento, se possível com auxílio da equipe de mão de obra, será capaz de detalhar as recomendações para mitigar os riscos.

Vale lembrar, no entanto, que a elaboração da Análise Preliminar de Riscos é apenas o início de um trabalho contínuo de gestão da segurança no canteiro. O processo também envolve a comunicação eficaz das recomendações de trabalho – incluindo o treinamento das equipes de obra e a sinalização dos espaços de trabalho –, além da supervisão permanente das atividades sob a ótica da segurança. Cabe à construtora, ainda, fornecer os EPIs (equipamentos de proteção individual) adequados a cada atividade e providenciar a instalação dos EPCs (equipamentos de proteção coletiva), como telas de proteção, guarda-corpos, linhas de vida e bandejas.

Quais são os objetivos de uma Análise Preliminar de Riscos?

O objetivo da APR é antecipar os eventos mais perigosos durante o processo de construção. Com isso, é possível elaborar planos de controle mais detalhados para evitar acidentes durante a fase de execução, ou planos de ação para mitigar suas consequências, caso eles ocorram.

Pense, por exemplo, em uma atividade comum em obras de edificações: a concretagem de uma laje. Tente imaginar quais os diversos riscos à segurança dos trabalhadores nesse momento: um profissional pode cair de alturas elevadas, ele pode se machucar com um vergalhão pontiagudo, o mastro da bomba pode acertá-lo sem ele ver… o ambiente é perigoso, mas muitos perigos podem ser antecipados. E para cada risco, há uma medida de mitigação que pode ser colocada em prática.

Assim, quanto mais documentado o processo, melhor. Análises de risco de uma obra podem servir de base para projetos posteriores, contribuindo para a ampliação da base de conhecimentos da construtora, assim como para a melhoria contínua de seus processos.

Quando é necessário fazer a Análise Preliminar de Riscos?

Uma das práticas indispensáveis para obras de qualquer porte, a Análise Preliminar de Riscos deve ser realizada na etapa de planejamento da execução, antes mesmo da mobilização do canteiro de obras. Sua elaboração é responsabilidade de um profissional especializado em segurança do trabalho, que também planejar ações e recomendações para os trabalhadores e supervisores das obras no momento da execução.

A análise dos riscos também deverá ser levada em consideração pelos responsáveis por decisões mais estratégicas da obra. Isso porque os riscos envolvidos nas atividades e a probabilidade de acidentes acontecerem podem ser fatores determinantes para mudanças na locação de equipamentos, no planejamento do plano de ataque ou até mesmo na escolha do sistema construtivo do projeto.

Como parte da fase de pré-construção, a análise de riscos exige um trabalho integrado do especialista em segurança com outros especialistas, como arquitetos, coordenadores de obras, equipes de planejamento e de orçamento, entre outros. 

Quais atividades precisam da Análise Preliminar de Riscos?

A análise de riscos é imprescindível em casos de trabalho em altura, trabalho em espaços confinados e movimentação de cargas por gruas e guindastes. Também deve identificar os riscos físicos e químicos de cada atividade no canteiro, como aqueles que envolvem eletricidade, carga e descarga manual, manipulação de produtos ácidos, básicos ou que gerem vapores tóxicos, entre outros.

Choques elétricos

O choque elétrico é um dos acidentes mais comuns na construção civil e está ligado à operação de equipamentos energizados com fios desencapados e instalações sem aterramento e dispositivos de proteção elétricos.

Queda de altura

Uma das mais frequentes causas de acidentes graves na construção, deve ser alvo de acompanhamento atento das equipes de engenharia, seja no sentido de orientar os trabalhadores, seja no de garantir o uso de EPIs e a instalação dos EPCs.

Cortes e lesões

A operação de equipamentos como serras manuais, serras de bancada e furadeiras é um dos pontos de atenção das equipes de segurança no trabalho. Além da possibilidade de cortes graves nos membros decorrentes do manuseio equivocado, pode haver o lançamento de fagulhas em direção ao olho do trabalhador.

Explosão

Algumas atividades realizadas no canteiro de obra empregam produtos inflamáveis que devem ser protegidos do fogo e fagulhas que possam provocar incêndios ou explosões.

Ruídos

A proteção contra ruídos não deve ser negligenciada, uma vez que o canteiro de obras tem uma grande variedade de fontes de ruído. A exposição contínua e sem proteção dos trabalhadores a esses estímulos pode provocar surdez parcial ou total irreversível.

Movimentação de cargas

A logística de transporte interna dos materiais no canteiro de obras pode oferecer riscos não só de quedas de objetos sobre os trabalhadores – no caso de gruas e guindastes –, como também de esmagamentos e atropelamentos por veículos em solo.

Poeira e gases tóxicos

Muitas atividades geram uma fina poeira que não podem ser inspirados, sob o risco de provocar danos no pulmão a longo prazo. É o caso, por exemplo, do corte de granitos e mármores. Tintas, removedores e outros produtos químicos também contém os chamados Compostos Orgânicos Voláteis e oferecem riscos, principalmente quando aplicados em ambientes confinados.

Como fazer uma APR passo a passo?

A elaboração da Análise preliminar de risco passa por seis etapas, começando pela avaliação do histórico das obras da construtora, passando pela avaliação das atividades e, por fim determinando as responsabilidades pela supervisão e controle das atividades.

  1. Levante o histórico das obras anteriores: empresas estabelecidas há mais tempo no mercado geralmente já têm documentadas as Análises Preliminares de Risco de projetos do passado. Esse levantamento permite pular etapas de análise de atividades e serviços de riscos já conhecidos. Com mais tempo livre, a equipe pode se concentrar na avaliação de atividades novas e processos construtivos inovadores.
  2. Avalie e revise os detalhes da atividade em foco: este é o de entender o processo construtivo em detalhes, suas etapas de execução, materiais e equipamentos utilizados, dimensionamento da equipe de obra, requisitos de desempenho e mais.
  3. Liste quais os principais riscos da atividade: a equipe de planejamento utilizará sua experiência para identificar todos os eventos que podem ocorrer naquela atividade que coloquem em risco a saúde e a segurança dos trabalhadores, prioritariamente. 
  4. Aponte as medidas para eliminar riscos: já ciente dos riscos envolvidos nas atividades, a equipe deve se perguntar o que pode ser feito para evitar que os acidentes aconteçam. Quais procedimentos de segurança devem ser adotados no trabalho, que EPIs e EPCs devem ser providenciados, que comportamentos devem ser evitados ou incentivados.
  5. Descreva as ações de redução de danos: é importante ter uma visão realista de que, mesmo se cercando de cuidados, os acidentes podem acontecer. Aqui, a equipe deve ter a clareza sobre o que fazer, nesses casos, para reduzir os danos caso os eventos de risco ocorram.
  6. Identifique os responsáveis pela segurança da atividade: cada atividade deve ter um responsável por acompanhar o atendimento às recomendações detalhadas na APR.

O que deve conter a Análise Preliminar de Risco?

A Análise Preliminar de Riscos se materializa no formato de fichas com as informações básicas sobre cada atividade,  assim como seus riscos, probabilidade de ocorrência, além de recomendações e ações de mitigação caso ocorram. Ao elaborar esse documento, nunca deixe de incluir:

Cabeçalho

  • Identificação da construtora: um cabeçalho com logotipo, nome da empresa e, opcionalmente, informações como telefones de contato e email.
  • Identificação da obra: identifique o local de trabalho e, se necessário, a área específica em que a atividade será realizada (ex.: Bloco A, bloco B).
  • Identificação do processo: É o nome do serviço que será executado (por exemplo: montagem de armaduras de lajes).
  • Identificação do documento: segue a padronização interna de siglas e numeração da construtora, a título de arquivamento.
  • Data: Identifica quando o documento foi elaborado.

Corpo do documento

  • Atividade: Um processo construtivo é composto por diferentes atividades, que devem estar contempladas no corpo do documento. A montagem de armadura em lajes, por exemplo, tem uma atividade de movimentação de vergalhões, por exemplo. Para cada atividade, desse modo, são identificados os respectivos perigos, danos e controles, como veremos a seguir.
  • Perigo: Uma atividade tem um ou mais perigos envolvidos. Na movimentação de vergalhões, de acordo com o exemplo anterior, existe o risco de queda do material sobre os trabalhadores durante o transporte com grua, por exemplo. Esse risco deve estar descrito nesta parte do documento.
  • Dano: Quais os danos estão relacionados com o risco descrito anteriormente? Traumatismos? Lesões? Esse campo elenca os danos provocados em caso de acidente.
  • Controle: neste campo, são descritas as medidas preventivas e mecanismos para evitar que o problema descrito venha a acontecer. Treinamento de pessoal, uso de EPIs, instalação de EPCs são descritos neste momento.
  • Número de pessoas expostas: Dimensionamento das equipes expostas ao risco
  • Probabilidade: Avaliação do grau de risco de um evento ocorrer
  • Impacto: Avaliação das consequências para a obra caso o problema ocorra
  • Plano de ação: São as medidas a serem adotadas caso o evento aconteça, a fim de minimizar os danos para a saúde do trabalhador.

Quais profissionais podem produzir a APR?

O ideal é que profissionais com conhecimento técnico sobre normas de segurança no trabalho, preferencialmente de engenharia, conduzam essa análise. No entanto, a participação das equipes responsáveis pela execução dos serviços no canteiro de obra pode contribuir para a elaboração de uma análise mais rica e detalhada.

A documentação da APR deve conter a assinatura da equipe que a elaborou. Além disso, a construtora deve arquivá-la para consultas posteriores durante a execução da obra. Caso ocorram alterações posteriores, o responsável pelo documento deve registrar adequadamente, para que seja possível identificar o histórico de modificações, bem como sua autoria.

O supervisor de obras tem um papel importante não só para controlar a aplicação das recomendações da Análise Preliminar de Riscos, como também para garantir a manutenção do canteiro de acordo com as regulamentações de segurança. Investir em seu treinamento e capacitação, bem como dos trabalhadores que vão atuar no dia a dia da obra, é a chave do sucesso para construções de qualquer porte.

Quais normas falam de Análise Preliminar de Risco?

Diferentes normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho regem as atividades realizadas na construção civil. Desse modo, é importante consultá-las durante a elaboração da APR. Veja quais são as mais importantes para a indústria da construção civil:

  • NR-1 – Disposições gerais e gerenciamento de riscos ocupacionais
  • NR-9 – Avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos
  • NR-10 – Segurança em instalações e serviços em eletricidade
  • NR-11 – Transporte, movimentação, armazenagem e manuseio de materiais
  • NR-12 – Segurança no trabalho em máquinas e equipamentos
  • NR 15 – Atividades e operações insalubres
  • NR-16 – Atividades e operações perigosas
  • NR-17 – Ergonomia
  • NR-18 – Segurança e saúde no trabalho na indústria da construção
  • NR-19 – Explosivos
  • NR-20 – Segurança e saúde no trabalho com inflamáveis e combustíveis
  • NR-26 – Sinalização de segurança
  • NR-33 – Segurança e saúde nos trabalhos em espaços confinados
  • NR-35 – Trabalho em altura

Conclusão

A Análise Preliminar de Riscos é uma ferramenta indispensável para o planejamento de uma obra, e permite antecipar, para cada atividade realizada no canteiro, os eventos mais perigosos para os trabalhadores. É, portanto, um trabalho técnico e especializado de avaliação do processo construtivo sob a ótica da segurança no trabalho.

É obrigatória para identificar problemas como riscos de queda de altura, choques elétricos e cortes e lesões.  Com essas informações, a construtora pode agir na prevenção de acidentes e na mitigação de danos, caso ocorram. Mas ela só funcionará se o canteiro contar com um bom trabalho de sinalização, assim como com uma rigorosa supervisão dos trabalhos.