![Reúso da água nas edificações: cada vez mais necessário](https://www.sienge.com.br/wp-content/uploads/Design-sem-nome-97-768x185.png)
O reúso da água vem sendo uma solução adotada por todos os projetos de engenharia com visão sustentável. Em alguns casos, inclusive, trata-se de uma obrigação. Há leis municipais que já estabelecem programas de reaproveitamento das águas nas edificações.
A água potável acessível às pessoas está cada vez mais escassa. Por isso, soluções de engenharia que visam à ecoeficiência das construções são imprescindíveis nos dias de hoje.
De toda a água existente no mundo, menos de 1% está disponível para consumo humano. Contudo, a maioria dela é utilizada pela agricultura, pecuária e atividades industriais. Do que resta, boa parte está poluída devido a resíduos industriais, esgotos e lixões.
Para agravar a situação, diversas regiões de mundo estão sofrendo com a falta de água provocada por secas e estiagens.
Crise de abastecimento no Brasil
Ainda que o Brasil possua 12% das reservas de água doce do mundo, o maior volume delas situa-se na região Norte, a menos habitada do território. Além da distribuição desigual, a má gestão de nossos recursos hídricos acarreta problemas cada vez maiores.
Ao falarmos de secas no País, sempre pensamos na região Nordeste. A falta de chuvas característica do clima semiárido, associada ao desmatamento da Zona da Mata, contribui para compor a realidade dramática enfrentada no sertão nordestino.
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Entretanto, alterações no regime das chuvas fizeram com que a próspera e populosa região Sudeste também passasse a sofrer com o racionamento de água. Nos últimos cinco anos, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo vêm sentindo intensamente os efeitos da estiagem, agravada pelo desmatamento, poluição e falta de planejamento urbano.
Falta de água no mundo
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 850 milhões de pessoas em todo o mundo não têm acesso à água potável. E, se nada for feito para gerenciar de forma correta os recursos hídricos disponíveis, esse número aumentará.
A África é o continente com o pior abastecimento de água do mundo. Mesmo regiões costeiras e turísticas estão sendo duramente atingidas. É o caso da África do Sul, que no início deste ano declarou estado de catástrofe natural em todo o país devido à seca.
Em 20107, grande parte do sul da Europa experimentou secas prolongadas. Portugal e Espanha foram os países que mais sofreram – em outubro, 90% do território português estava com falta de água.
Nos Estados Unidos, regiões como a Califórnia já enfrentam escassez de chuvas, e especialistas apontam para o risco de uma estiagem de até 35 anos em partes do país a partir de 2050.
A Austrália também enfrenta secas recorrentes. O período mais grave, de 1997 a 2009, foi batizado de Millennium Drought (Seca do Milênio).
Na Índia, 54% da nação enfrenta problemas extremos com água.
Na China, a poluição e a demanda geradas pela industrialização e urbanização estão devastando os recursos hídricos. Em 2012, mais de 40% dos rios estavam gravemente poluídos e cerca de 300 milhões de pessoas não tinham acesso à água potável. Em 2016, as autoridades admitiram que 80% das águas subterrâneas da China estão poluídas.
Como reverter o problema?
Diante de um quadro tão dramático, a sociedade está sendo obrigada a adotar medidas para gerenciar de forma eficiente os recursos hídricos. Após tanto tempo dissipando e desperdiçando essa riqueza natural, os especialistas são taxativos: é hora de racionalizar o uso e diminuir a demanda.
A Construção Civil tem papel fundamental nesse sentido. Cabe a ela promover medidas para redução do desperdício e utilização de fontes alternativas de água nas edificações. Essas iniciativas podem proporcionar uma economia de água da ordem de 40%.
Confira agora o percentual de consumo de água em uma unidade habitacional unifamiliar:
- Chuveiro – 55%
- Pia – 18%
- Lavadora de roupas – 11%
- Lavatório – 8%
- Bacia Sanitária – 5%
- Tanque – 3%
(Fonte: ROCHA et al. 1999)
Essas informações podem servir para impulsionar boas práticas visando ao uso racional dos recursos hídricos. Como você viu, é no banheiro que se esvai a maior parte da água potável de uma residência. Por isso, veja aqui 10 dicas para economizar água nesse cômodo de sua casa.
![reúso da água](https://www.sienge.com.br/wp-content/uploads/size_960_16_9_torneira-pingando47-300x200.jpg)
Contudo, além de atitudes individuais, as soluções técnicas para evitar desperdício e vazamentos nas construções também são decisivas. Entre elas, podemos citar:
- bacias sanitárias de volume reduzido de descarga;
- chuveiros e lavatórios de volumes fixos de descarga;
- hidrômetros individuais;
- torneiras com arejadores.
Medição individualizada pode diminuir consumo de água em até 40% (Divulgação)
E em relação à utilização de fontes alternativas?
As ações incluem a captação, armazenamento e reúso da água das chuvas e das águas cinzas (ou servidas). Os sistemas para isso devem ser concebidos e executados com base no diagnóstico de uma empresa de Engenharia. Em alguns casos, a instalação pode ser dificultada devido à falta de espaço para novas tubulações e reservatórios.
Já em projetos para edifícios novos, as medidas de uso racional da água devem estar compatibilizadas com os projetos de arquitetura, estrutura, ar-condicionado, automação predial e paisagismo. É preciso também considerar o custo inicial da implantação do sistema e a redução dos custos de operação do edifício, sempre prevendo o retrofit dos equipamentos.
Entretanto, caso neste momento você não tenha condições de implementar equipamentos para reúso de água, é importante que faça ao menos a manutenção corretiva do sistema hidráulico existente. Afinal, de acordo com o Instituto Trata Brasil…
…quase 40% da água tratada no País é perdida devido a vazamentos nas tubulações, ligações clandestinas e erros de medição.
Reúso da água da chuva
A água das chuvas deve ser captada na cobertura das edificações e encaminhada a uma cisterna ou tanque. Poderá, então, ser utilizada em atividades como lavagem de vidros, calçadas, pisos, veículos e irrigação de áreas verdes.
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A maior parte das impurezas da água está presente nos primeiros minutos de chuva. Por isso, nas zonas urbanas, é recomendável que se descarte cerca de 2 mm da primeira água que cair (first flush). Essa remoção pode ser feita por meio de um separador de fluxo.
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Para saber ao certo a quantidade de água a ser descartada e o tamanho do tanque de armazenamento, é necessário avaliar o tamanho do telhado e incidência de chuvas na região, de acordo com a norma da ABNT NBR 15527:2007.
Quanto aos reservatórios, devem ser limpos e desinfetados com solução de hipoclorito de sódio, no mínimo uma vez por ano, conforme preconiza a ABNT NBR 5626:1998.
Etapas básicas
De acordo com o manual Conservação e reúso de água em edificações, as etapas básicas para projetos de sistemas de coleta, tratamento e uso de água pluvial são:
- determinação da precipitação média local (mm/mês).
- determinação da área de coleta (no caso de telhados, deve ser determinada de acordo com a NBR-10844: Instalações prediais de águas pluviais);
- determinação do coeficiente de escoamento superficial, a depender do material e do acabamento da área de coleta;
- caracterização da qualidade da água pluvial, utilizando sistemas automáticos de amostragem;
- projeto do reservatório de descarte, para retenção temporária e posterior descarte da água coletada na fase inicial da precipitação.
- projeto do reservatório de armazenamento, que geralmente são aos equipamentos mais caros do sistema;
- identificação dos usos da água (demanda e qualidade);
- estabelecimento do sistema de tratamento necessário;
- projeto dos sistemas complementares (grades, filtros, tubulações etc.).
Reúso das águas cinzas
As águas cinzas são aquelas que foram utilizadas em tanques, pias, máquinas de lavar, chuveiros e outros equipamentos. Elas devem ser captadas, direcionadas por meio de encanamento próprio e conduzidas a reservatórios destinados a abastecer as descargas de vasos sanitários ou mictórios.
O reaproveitamento das águas cinza para utilização nas descargas sanitárias pode reduzir de 30% a 50% o consumo de água potável.
As águas cinzas podem contar com diversos tipos de contaminações, em decorrência do uso dos vasos sanitários. Assim, o sistema hidráulico destinado ao tratamento e distribuição de água de reúso proveniente da água cinza deve estar totalmente separado do sistema hidráulico de água potável.
As águas são coletadas separadamente e direcionadas a uma estação de tratamento específica. O tratamento pode ser realizado utilizando-se microrganismos, plantas e agentes físico-químicos, dependendo de cada situação. Em prédios residenciais, o tratamento mais indicado é o físico-químico.
Finalizada essa etapa, a água de reúso é bombeada para um reservatório exclusivo.
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Etapas básicas
Ainda de conforme o manual Conservação e reúso de água em edificações, os principais elementos do projeto de sistemas de reúso de águas cinzas são os seguintes:
- pontos de coleta de águas cinzas e pontos de uso;
- determinação de vazões disponíveis;
- dimensionamento do sistema de coleta e transporte das águas cinzas brutas, composto pelos condutores horizontais e verticais que transportam as águas cinzas coletadas ao sistema de tratamento para posterior armazenamento;
- determinação do volume de água a ser armazenado;
- estabelecimento dos usos das águas cinzas tratadas;
- definição dos parâmetros de qualidade da água em função dos usos estabelecidos;
- tratamento da água;
- dimensionamento do sistema de distribuição de água tratada aos pontos de consumo.
Reúso da água – conclusão
Como vimos, o reúso da água nas edificações pode diminuir significativamente o consumo de água potável, preservando os mananciais e diminuindo a geração de esgoto. Em tempos de crise de abastecimento, trata-se de uma medida mais do que necessária nos projetos de Engenharia.
Essa evolução técnica e cultural influenciará diretamente a qualidade de vida das presentes e futuras gerações.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ROCHA, A. L., BARRETO, D.; IOSHIMOTO, E. Caracterização e monitoramento do consumo predial de água. São Paulo, janeiro, 1999. Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água. (DTA – Documento Técnico de Apoio nº E1).