Quando o içamento de cargas exige plano de rigging?

Gustavo Prata

Escrito por Gustavo Prata

26 de dezembro 2022| 15 min. de leitura

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Um plano de rigging é essencial para a segurança da movimentação de cargas, pois identificará as situações de risco que podem ocorrer durante o içamento e o transporte na obra

Quem já pisou alguma vez em um canteiro de obras já sabe: içamento de cargas é uma operação com alto grau de risco, que pode ser até fatal. Para garantir a segurança de todos dentro da obra (e até fora dela), é obrigatória a realização de um planejamento para as operações de içamento – o plano de rigging, ou plano de movimentação de carga.

A obrigatoriedade do plano de rigging consta em algumas normas do Ministério do Trabalho. Primeiramente, a NR-12 define o plano de rigging como “o planejamento formalizado de uma movimentação com guindaste móvel ou fixo, visando à otimização dos recursos aplicados na operação (equipamentos, acessórios e outros) para se evitar acidentes e perdas de tempo”. Ou seja, sempre que houver carga içada por guindaste ou grua, é preciso realizar esse planejamento.

E o que deve constar no plano de rigging? Resumidamente, são as soluções de içamento para que ele seja realizado com segurança e eficiência. Assim, devem constar as especificações para a realização das operações, a definição das máquinas, desenhos técnicos, memoriais descritivos, e outros documentos.

Mas quais são os itens que devem ser avaliados, e o que deve ser simulado para que um engenheiro consiga elaborar essas soluções? É o que veremos nos próximos itens.

O que deve conter um plano de rigging?

O plano de rigging deve conter, no mínimo, as informações exigidas na norma regulamentadora do Ministério do Trabalho NR-18. A norma foi revista em 2020, ficando mais “enxuta”. Ela não detalha passo a passo do plano, mas por outro lado, os profissionais têm mais responsabilidade.

A implantação, instalação, manutenção e retirada de gruas deve ser supervisionada por engenheiro legalmente habilitado. Para esses serviços, o profissional deve emitir uma ART – Anotação de Responsabilidade Técnica.

E quais são os itens mínimos de um plano de rigging? Eles são os seguintes: 

  • Dados do empreendimento, da construtora e do equipamento;
  • Responsável pela montagem e pela manutenção da grua;
  • Local de instalação;
  • Sistema de segurança;
  • Pessoal técnico e responsabilidades;
  • Conteúdo programático para treinamento dos operadores;
  • Documentação obrigatória.

Para chegar nesse ponto, é preciso realizar o estudo de cargas, das máquinas disponíveis, dos acessórios, das condições do solo e a ação do vento no local da obra. Também é necessário fazer uma simulação das ações previstas, para prever as possíveis ocorrências da operação.

Local de instalação da grua

É claro que um plano de transporte vertical de cargas deve conter, necessariamente, o local de instalação desse equipamento. E esse local não deve ser somente descrito, mas sim definido e situado em um croqui ou planta. Por sua vez, essa planta com a localização da grua deve se originar da planta baixa da obra na projeção do térreo e/ou níveis pertinentes.

O desenho deve conter os seguintes elementos:

  • Canteiro(s), contêineres, áreas de vivência;
  • Vias de acesso, circulação de pessoal, veículos;
  • Áreas de carga e descarga de materiais;
  • Áreas de estocagem de materiais;
  • Outros equipamentos como elevadores, guinchos, geradores etc.;
  • Redes elétricas, transformadores e outras interferências aéreas;
  • Edificações vizinhas, recuos, vias, córregos, árvores;
  • Projeção da área de cobertura da lança e da contralança;
  • Projeção da área de abrangência das cargas com indicações dos trajetos.

Todas as modificações, tanto nas áreas de carregamento quanto no posicionamento ou outras alterações, verticais ou horizontais.

Alguns detalhes devem ser observados. A NR-12 estabelece que o planejamento deve adotar medidas de segurança necessárias para que não haja pessoas sob a carga. O planejamento também deve priorizar a existência de áreas exclusivas para a circulação de cargas suspensas, que serão devidamente delimitadas e sinalizadas.

Dados e documentações necessários

Existem algumas informações mínimas que devem ser formalizadas no plano de rigging. São nomes, números de registro, descrições, entre outras. Confira a lista abaixo:

  • Dados do local de instalação: nome do empreendimento, endereço completo e número máximo de trabalhadores na obra;
  • Dados da empresa responsável pela obra;
  • Dados do equipamento: tipo, altura inicial e final, comprimento da lança, capacidade de ponta e capacidade máxima, entre outras características singulares do equipamento;
  • Fornecedor: dados do locador ou proprietário do equipamento, como razão social, CNPJ e o responsável técnico com número de registro no CREA;
  • Responsável pela manutenção, com número de registro no CREA, número de registro da empresa no CREA e demais dados como razão social, CNPJ, endereço etc.;
  • Responsável pela montagem e outros serviços da grua, com número de registro no CREA, número de registro da empresa no CREA e demais dados como razão social, CNPJ, endereço etc.

Registros e documentações obrigatórias

O plano de rigging (ou plano de cargas) deve estar devidamente preenchido e assinado em todos os seus itens. Além disso, ele deve ficar disponível no canteiro durante todo o período de execução da obra.

No canteiro de obras deve estar sempre disponível a documentação referente ao equipamento. A NR-18 especifica que toda intervenção no equipamento deve ser registrada em relatório próprio a ser fornecido, devendo tal relatório ser registrado ou anexado ao livro de inspeção de máquinas e equipamentos.

Os serviços de montagem, desmontagem, ascensões, telescopagens e manutenções, devem estar sob supervisão e responsabilidade de engenheiro legalmente habilitado responsável com emissão de ART específica para a obra e para o equipamento em questão.

Pessoal técnico e responsabilidades no plano de rigging

Já sabemos que o responsável pelo plano de rigging deve ser um engenheiro que emita ART. Mas e quanto aos outros profissionais envolvidos nessa atividade? A operação de uma grua ou guindaste exige funções tanto de técnicos quanto de engenheiros responsáveis, desde o próprio operador de grua e amarrador de cargas, até os responsáveis pela obra, pelo equipamento, e pela manutenção.

As funções desses profissionais devem estar especificadas no plano de rigging. Conheça os detalhes para cada um deles.

Operador da grua

O plano de rigging deve mencionar a existência de um profissional para operar o equipamento e suas atribuições. Ele deve realizar inspeções periódicas semanais e fazer a “lista de verificação de conformidades” – checklist – com frequência mínima semanal ou periodicidade maior (em um intervalo de tempo menor), conforme especificação do responsável técnico do equipamento.

O operador também deve ter treinamento adequado, que é definido ou pelo fabricante/locador da grua ou pelo responsável pela obra. O treinamento deve ter conteúdo programático e carga horária mínima necessários para capacitação.

Sinaleiro/amarrador de cargas

As funções do amarrador de cargas também devem constar no plano de rigging. Este profissional deve realizar: amarração de cargas para o içamento; escolha correta dos materiais de amarração de acordo com as características das cargas; orientação para o operador da grua referente aos movimentos a serem executados; observância às determinações do plano de rigging e sinalização e orientação dos trajetos.

Assim como o operador, o sinaleiro/ amarrador de cargas também deve executar inspeções com frequência mínima semanal ou periodicidade maior (em um intervalo de tempo menor), conforme especificação do responsável técnico do equipamento.

Por outro lado, seu treinamento tem carga horária mínima especificada na NR-18, que deve ser de pelo menos 8 horas.

Responsável pela obra

Esta é a pessoa que faz a elaboração, implementação e coordenação do plano de rigging. Por isso, o responsável pela obra deve atentar para todos os procedimentos e verificações quanto à segurança de todos.

E quais são esses procedimentos? Eles começam desde antes da instalação da grua, com a implementação do PCMAT (Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho), que por sua vez deve prever a operação com gruas. O PCMAT é independente do Plano de Cargas. Já durante a instalação, o responsável deve checar o aterramento da estrutura da grua, fiscalizar o isolamento de áreas e de trajetos.

Existem especificações de segurança específicas quanto à disposição das instalações sanitárias no canteiro, em relação à cabine do operador. Essas instalações devem se situar a uma distância máxima de 30 m no plano vertical e de 50 m no horizontal em relação à cabine.

Além de tudo isso, o responsável pela obra deve checar a correta aplicação de todas as determinações do plano de rigging. Essa pessoa também deve confirmar que os dispositivos de segurança estejam funcionando corretamente, principalmente: logo após a instalação do equipamento; após cada alteração de posição; após cada manutenção e/ou regulagem nos sistemas de freio.

Responsável pela manutenção, montagem e desmontagem

Como o nome diz, este profissional deve supervisionar as atividades de manutenção, montagem, desmontagem e também a telescopagem, ascensão e conservação do equipamento. Ele deve checar os dispositivos de segurança e registrar os eventos relativos ao equipamento no livro de inspeção.

É atribuição deste responsável realizar a designação do pessoal que vai executar as atividades do equipamento, lembrando de garantir o treinamento e a qualificação necessária desse pessoal.

Responsável pelo equipamento

Embora este profissional não deva constar no plano de rigging, é importante notar que a pessoa que vai fornecer o equipamento deve emitir ART (anotação de responsabilidade técnica) antes da entrega, prezando pelo perfeito estado de conservação e funcionamento do equipamento.

Perguntas e respostas

O que é plano de rigging?

O Plano de Rigging, também conhecido como plano de movimentação de cargas, é o planejamento formal de uma movimentação com guindaste móvel ou fixo, e tem como objetivo otimizar os recursos aplicados na operação – como equipamentos, acessórios e outros – a fim de se evitar acidentes e perda de tempo. Considerando o estudo da carga a ser içada, das

máquinas disponíveis, dos acessórios, das condições do solo e da ação do vento, ele aponta as melhores soluções para fazer um içamento seguro e eficiente.

Qual NR fala de plano de rigging?

A NR 12 – Segurança no trabalho em máquinas e equipamentos – é a norma regulamentadora que traz a definição do plano de movimentação de cargas, a responsabilidade do profissional de movimentação de cargas e outras obrigações e proibições relacionadas a essa atividade.

Quando é necessário fazer plano de rigging?

Um plano de rigging é desenvolvido sempre que uma carga pesada precisa ser içada e transportada na obra. O objetivo principal é ter um maior controle do procedimento e estabelecer recomendações de segurança. É um planejamento importante, que identificará as situações de risco que podem ocorrer durante o içamento.

Plano de rigging ou plano de rigger?

O Plano de Rigging é um documento que define como a carga será movimentada no canteiro. Rigger é o profissional de movimentação de carga responsável pela elaboração deste documento.

Quem elabora o plano de rigging?

O profissional de movimentação de carga, também chamado de Rigger, é o responsável técnico pelo planejamento e elaboração do plano de movimentação de cargas.

Conclusão

O plano de movimentação de cargas, ou Plano de Rigging, é um documento indispensável para garantir, primeiramente, a segurança dos trabalhadores no canteiro de obra, além do uso otimizado de materiais e equipamentos de transporte de materiais.

O documento é elaborado por um profissional qualificado, com a emissão de uma Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Entre os itens mais importantes a considerar estão a definição do fluxo de cargas, com recomendações para os métodos de transporte mais eficientes; a indicação dos equipamentos necessários para realizar a movimentação; a definição do trajeto, considerando as condições ambientais, vias de trânsito e pontos de acesso; entre outros.