IPO na construção civil: como funciona e quais as empresas listadas

Giseli Barbosa Anversa

Escrito por Giseli Barbosa Anversa

10 de março 2021| 12 min. de leitura

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IPO na construção civil: como funciona e quais as empresas listadas

No começo de 2020, ainda antes do início da pandemia de Covid-19, voltamos a falar de IPO na construção civil depois de cerca de dez anos. Isso mesmo, fazia praticamente uma década que não havia abertura de capital por uma construtora brasileira. 

Num período de apenas duas semanas em fevereiro, tivemos o IPO da Mitre (MTRE3) e logo depois da Moura Dubeux (MDNE3), primeira incorporadora nordestina no mercado de ações.

À época, tal feito reforçou a tendência de retomada do mercado imobiliário depois de alguns anos de regresso nas atividades. Vale lembrar que o ano de 2019 foi muito positivo para as incorporadoras no mercado de ações, uma vez que o setor de construção foi o que teve maior retorno na Bolsa de Valores (105,8%), segundo levantamento realizado pela Economática. 

Portanto, o objetivo deste post é falar sobre IPO na construção civil. Então, se você não entende do assunto ou deseja se atualizar sobre ele, continue conosco e boa leitura!

O que significa IPO?

A sigla IPO vem do inglês “Initial Public Offering” ou “Oferta Pública Inicial”, na tradução para o português. Ou seja, trata-se do primeiro momento em que uma companhia é listada em bolsa e passa a ter partes do seu capital social compradas por acionistas. Dessa forma, a empresa se torna uma companhia de capital aberto com papéis negociados no pregão da Bolsa de Valores.

A sigla IPO vem do inglês “Initial Public Offering” ou “Oferta Pública Inicial”

Em geral, as empresas que fazem um IPO estão em um estágio de maturidade avançado dos seus negócios. E têm como objetivo atrair dinheiro para a companhia. Historicamente, essas operações no Brasil são bastante grandes, podendo atingir a casa das centenas de milhões de reais. 

No IPO, as ações são negociadas no chamado mercado primário. Significa que todo o dinheiro oriundo da compra dos papéis vai diretamente para a empresa. 

Depois que todas as ações do IPO são vendidas, os papéis passam a ser negociados no mercado secundário, quando o proprietário de ações pode vendê-las para outros investidores interessados nelas.

O que leva uma empresa a realizar um IPO?

Em geral, o IPO é um processo complexo e muitas vezes caro para as empresas. Pois envolve uma mudança relevante de mentalidade da gestão. Além disso, a empresa passará a ter de fornecer informações próprias para o mercado e a conviver com novos acionistas.

Então, não se trata de uma decisão simples. Mas analisando mais a fundo, vemos que há vantagens em realizar um IPO na construção civil ou em qualquer outro setor. 

Uma das principais razões, por exemplo, é o acesso ao capital. Assim, emitir ações é uma das maneiras que as empresas têm para levantar recursos, que, em geral, financiam investimentos necessários para que a empresa cresça e prospere.

Abrir o capital também pode representar uma maneira de as empresas darem liquidez a seus empreendedores ou sócios. Dessa forma, é uma possibilidade para que eles vendam suas ações a outros investidores do mercado, transformando papéis em dinheiro no bolso.

A questão da imagem da empresa também é levada em consideração. Quando realiza o IPO, uma empresa precisa adequar seus processos internos e elevar tremendamente o nível de transparência sobre suas operações e resultados. Isso tudo para que os investidores tenham acesso detalhado ao que acontece nela e, assim, possam decidir sobre manter seus recursos aplicados ou não.

Dessa forma, isso normalmente tem dois resultados práticos:

  1. ganho de credibilidade, já que o mercado entende que uma companhia aberta apresenta um grau de governança corporativa mais elevado;
  2. mais projeção e reconhecimento público, decorrentes da maior visibilidade na mídia e do acompanhamento recorrente por investidores e analistas.

Portanto, o IPO na construção civil pode representar, entre outras coisas, uma forma da construtora obter grande volume de recursos, dar liquidez a sócios que desejam sair do negócio e melhorar a imagem da construtora perante o mercado.

Como fazer um IPO na construção civil

Como falamos, não se trata de uma tarefa simples, porque a empresa deve cumprir uma série de requisitos legais e regulatórios. Por exemplo: estar juridicamente constituída como uma sociedade anônima (“S/A”), em que seu capital é dividido em ações (e não em cotas, como no caso das companhias limitadas).

Além disso, precisa apresentar uma série de exigências relacionadas à emissão de relatórios financeiros auditados externamente, aspectos fiscais, governança corporativa, controles internos, conformidade, recursos humanos e também à sua própria estrutura societária.

De forma simplificada e com informações do portal InfoMoney, listamos a seguir as principais etapas para você ter uma ideia de como realizar um IPO na construção civil. 

Passo a passo para abrir capital

  • Planejamento e auditoria: a preparação de uma empresa para a abertura de capital pode levar de oito meses a três anos, segundo cálculos de consultorias como a PWC. Uma das causas disso é a auditoria das finanças da empresa. A legislação exige que, para abrir o capital, a empresa apresente três anos de balanços auditados. 
  • Roadshow: são as reuniões de apresentação da empresa e da oferta para o mercado, a fim de despertar o interesse de grandes investidores. Esses encontros costumam ser com analistas financeiros, corretoras e potenciais investidores. 
Roadshow são as reuniões de apresentação da empresa e da oferta para o mercado, a fim de despertar o interesse de grandes investidores
  • Registro e listagem: há uma série de procedimentos burocráticos a cumprir para realizar um IPO. O primeiro é solicitar o registro de companhia aberta junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Ao mesmo tempo, a empresa também precisa solicitar a sua listagem na B3. Apenas quem está devidamente listado pode ter seus papéis negociados no pregão.
  • Prospecto: documento mais importante de um IPO, que apresenta as informações essenciais para que o investidor entenda a companhia que está abrindo o capital, de modo que possa tomar uma decisão de investimento bem embasada.
  • Período de reserva e bookbuilding: grandes investidores, como fundos e fundações de previdência, costumam demonstrar interesse por participar de um IPO durante os roadshows. Mas para os investidores não institucionais (pessoas físicas, por exemplo), as ofertas preveem um período de reserva, que é um prazo de alguns dias em que eles podem enviar seus pedidos, por meio das corretoras de valores.
  • O Dia D: representa a estreia, a data em que as ações efetivamente começarão a ser negociadas no pregão. O desempenho dos papéis nesse dia costuma ser acompanhado com entusiasmo pelos investidores, porque é um indicativo de como o mercado recebeu a operação e a companhia que passou a ser listada. 

IPO na construção civil em 2020

Como dissemos anteriormente, o setor de construção vem recebendo um bom retorno e, em 2019, apresentou os melhores resultados de valorização entre os setores.

Em 2019, o setor da construção apresentou os melhores resultados de valorização das ações

No mesmo ano, diversas construtoras aumentaram suas quantidades de ações na bolsa, por meio de ofertas subsequentes de ações (processo chamado de follow-on). Foi o caso de Tecnisa, Trisul, Eztec, Helbor e Gafisa. Juntas, elas captaram mais de R$ 5 bilhões de reais para novos projetos, aquecendo o mercado imobiliário.

Já em 2020, o IPO na construção civil veio forte. Ao todo, 6 construtoras debutaram na Bolsa de Valores. Veja quais são e quanto elas captaram em sua oferta inicial de ações: 

  • Mitre Realty (MTRE3), que levantou R$ 1,02 bilhão;
  • Moura Dubeux (MDNE3), R$ 1,25 bilhão;
  • Lavvi (LAVV3), R$ 1,16 bilhão:
  • Melnick Even (MELK3), R$ 713,58 milhões; 
  • Plano & Plano (PLPL3), R$ 690 milhões;
  • Cury Construtora (CURY3), R$ 977,5 milhões.

Segundo o portal Eu Quero Investir, poderíamos ter mais IPOs na construção civil em 2020, mas as empresas decidiram esperar um momento mais favorável. Ao total, foram cinco desistências: One Innovation, Patrimar Engenharia, You INC, Riva 9 e Canopus Holding.

Prova disso é que das seis construtoras que realizaram IPO em 2020, cinco tiveram queda nas suas ações durante o ano. Apenas os papéis da Cury tiveram alta, informa o portal E-Investidor, do Estadão.

Não é novidade para ninguém que a pandemia afetou profundamente a economia. Dessa forma, a expectativa é que, com a recuperação da economia pós-Covid, haja uma retomada dos IPOs na construção civil neste e nos próximos anos.

Construtoras com capital aberto 

Então, com a entrada de 6 construtoras em 2020 (listadas acima), o setor da construção civil, representado pelo segmento “Incorporações” na lista da B3, conta agora com as seguintes companhias:

  1. Alphaville
  2. Construtora Adolpho Lindenberg  
  3. Construtora Tenda
  4. CR2 Empreendimentos Imobiliários  
  5. Cury Construtora e Incorporadora
  6. Cyrela Brazil Realty
  7. Direcional Engenharia
  8. Even Construtora e Incorporadora
  9. EZTEC Empreendimentos e Participações
  10. Gafisa
  11. Helbor Empreendimentos
  12. Inter Construtora e Incorporadora
  13. JHSF Participações
  14. João Fortes Engenharia 
  15. Lavvi Empreendimentos Imobiliários
  16. Melnick
  17. Mitre Realty Empreendimentos e Participações
  18. Moura Dubeux Engenharia 
  19. MRV Engenharia e Participações
  20. PDG Realty
  21. Plano & Plano Desenvolvimento Imobiliário
  22. RNI Negócios Imobiliários
  23. Rossi Residencial
  24. Tecnisa
  25. Tegra Incorporadora 
  26. Trisul
  27. Viver Incorporadora e Construtora

IPO na construção civil: expectativas

De forma geral, os analistas do mercado financeiro avaliam que o setor deve retomar o ritmo de crescimento, já que foi um dos segmentos da economia menos afetados pela crise causada pela pandemia. Inclusive, foi o setor que mais gerou empregos no ano passado.

Portanto, tudo indica que poderemos ter novos IPOs na construção civil e também valorização das ações das companhias que já possuem capital aberto. 

O lado bom é que as próximas empresas do setor a se aventurarem na Bolsa podem aprender com as experiências de quem entrou em 2020. 

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