Inovação na Construção Civil de Goiás: Panorama do ecossistema local

Vanessa Farias

Escrito por Vanessa Farias

20 de junho 2018| 12 min. de leitura

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Quando se fala em inovação na construção civil é muito comum que venham em mente nomes de grandes centros urbanos, como São Paulo e outras capitais com um forte polo tecnológico, não é mesmo?
No entanto, é preciso olhar também para cidades fora desse eixo. Afinal de contas, o setor da construção, famoso por ser tradicional, tem sede de inovação. Os profissionais da área já perceberam isso e existem algumas figuras importantes fazendo a diferença pelo país.
Neste post, você vai conhecer como anda a inovação na construção civil de Goiás. Localizado no centro-oeste do Brasil, o estado é ponto estratégico para o setor, mas ainda está engatinhando quando se trata de tecnologia na construção.

Construção civil foi o setor que mais empregou em Goiás, em 2017

Pode parecer um paradoxo, mas enquanto a inovação no setor engatinha, a construção civil saiu na frente e foi o que mais empregou entre janeiro e setembro de 2017, em Goiás. De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mais de mil novas vagas de trabalho foram criadas durante os primeiros nove meses do ano passado.
Para 2018, a expectativa é semelhante. Junto de outras áreas como finanças, gestão e TI, a construção segue como um dos mais promissores em número de vagas no estado.

Goiânia lidera a recuperação do mercado imobiliário

Outro ponto positivo é que Goiânia está entre as capitais que lideram a recuperação do mercado imobiliário, conforme divulgado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Na cidade, foram vendidos 5.170 novos imóveis em 2017, uma alta de 23% em relação ao ano anterior. Segundo dados da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Goiás (Ademi-GO), as vendas aumentaram 127%, movimentando R$ 2,5 bilhões.
Em 2018, o ritmo continua acelerado. A Ademi-GO espera que o número de lançamentos de novos empreendimentos cresça mais de 106%. Cerca de 33 lançamentos devem ser realizados em 2018 nos arredores da capital goiana, contra os 16 que foram lançados em 2017.

O outro lado da moeda

Os dados promissores que você acabou de ver em nada combinam com o investimento em inovação na construção civil de Goiás. Segundo o engenheiro civil Romeu Neiva Neto, membro do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Goiás (Sinduscon-GO), um dos estados mais importantes para a região centro-oeste do país fica bem atrás no uso de tecnologia no setor.
Questionado sobre o número de construtechs (startups da construção civil) fundadas no estado, Romeu não soube responder. Ele conhece apenas a sua própria.
A Maleta do Engenheiro, onde é CEO, nasceu em 2015 com o objetivo de ser uma plataforma de gerenciamento de documentos. “A Maleta do Engenheiro se diferencia das demais plataformas do mercado brasileiro por ser a primeira focada em processos BIM de projeto”, destaca.
De acordo com o engenheiro civil, a ideia surgiu depois que ele começou a trabalhar na construtora de sua família. Ele sentiu na pele a dificuldade de atuar com gerenciamento de projetos de maneira centralizada e local. “A comunicação era bem difícil. Depois que implantei o armazenamento em nuvem, o gerenciamento ficou descentralizado, o que ajudou muito no dia a dia”.
Ações inovadoras como essa, por exemplo, são raras na região, de acordo com Romeu. “A Innovar Construtora, empresa da minha família, foi a pioneira no uso da tecnologia BIM em 2013, em Goiás. A partir daí que surgiu a ideia de criar uma startup”.
Segundo o Mapa de Construtechs do Brasil, em 2017 existiam apenas duas startups do setor nascidas em Goiás: a Seu Condomínio e a Bolsa da Permuta, além da Maleta do Engenheiro. Realidade bem diferente de estados como Santa Catarina, onde em 2017 já existiam 53 construtechs propondo ideias inovadoras e tecnológicas para a construção civil.

Quem faz a diferença na inovação na construção civil de Goiás

Ainda que propostas de inovação na construção civil de Goiás sejam tímidas, há grupos preocupados em fazer a diferença.
Um deles é o Sinduscon Jovem, que começou seus trabalhos em 2014. A maior parte dos membros da equipe era formada por estudantes de engenharia e filhos de empresários do setor da indústria da construção, como o Romeu, que também faz parte do grupo.
Desde o início, o objetivo era envolver os jovens com as demandas do setor para aprimorar seus sucessores e fortalecer o Sinduscon-GO.
Entre os projetos desenvolvidos pela equipe está a promoção de ações sociais junto ao Núcleo de Proteção aos Queimados (NPQ), disseminação da tecnologia BIM e Lean Construction.
O Sinduscon Jovem já ofereceu treinamentos para disseminação do BIM para diferentes construtoras da região. Além disso, possui parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) para oferecer oficinas dentro dos laboratórios da instituição.
“Atualmente, o Sinduscon-GO e o Sinduscon Jovem trabalham em conjunto para trazer um hub de inovação para construtechs para dentro do Sindicato. A sede do Sinduscon seria como um catalisador de ideias e também funcionaria como um espaço de coworking”, destaca Romeu.
O propósito deles é alavancar o mercado para construir novas soluções e resolver os problemas locais referentes à construção civil.

Dores e desafios no investimento de tecnologia

Mesmo que o termo “inovação” seja bem visto aos olhos dos profissionais da construção, muitos têm receio em adotar efetivamente medidas inovadoras.
Um bom exemplo disso é o uso da tecnologia BIM. Apesar de ser uma ferramenta cada vez mais importante para o setor, a maioria dos engenheiros e projetistas ainda não trabalha com essa tecnologia no seu cotidiano. Para Romeu, a principal dor que ele enxerga dentro das construtoras é a dificuldade de implantação do BIM. “Falta vontade por parte dos profissionais, ninguém toma partido para dar o primeiro passo”, afirma.
Na visão do engenheiro, existe muita apreensão quando se pensa em colocar inovação em prática. Na opinião dele, investir em tecnologia não é algo tão concreto para as construtoras. “Elas não conseguem enxergar o retorno que isso pode gerar”.
Romeu declara: “querem tecnologia, mas não querem colocar dinheiro para isso. É preciso quebrar os paradigmas e entender que investir em tecnologia é, na verdade, um bem necessário”.

Construtalk Goiânia

Construtalk Goiânia
Para ajudar a desenvolver o mercado local, o Construtalk, série de eventos itinerantes sobre inovação e tecnologia na construção civil, visitou Goiânia no dia 12 de junho de 2018.
O principal evento do centro-oeste sobre inovação na indústria da construção teve entre os palestrantes:
  • Head of Business Development do QuintoAndar, Felipe Schucman;
  • Gerente de Produto da Alphaville Urbanismo, Hugo Serra;
  • CEO do Construtech Ventures, Bruno Loreto;
  • Diretor Executivo do Gyntec, Marcos Campos;
  • E também o CEO da Maleta do Engenheiro, Romeu Neiva Neto, que você teve a oportunidade de conhecer neste post.

Além desses profissionais, o evento reuniu outros palestrantes altamente capacitados e envolvidos na transformação da indústria da construção.
Na ocasião, os participantes também tiveram a chance de interagir com construtechs do setor, que apresentaram um pitch cada uma no dia do evento.

Gyntec

O Construtalk Goiânia foi realizado no Gyntec (Instituto de Inovação e Parque Tecnológico). O objetivo do espaço é acelerar o desenvolvimento do ecossistema de startups por meio da inovação disruptiva. Para isso, fomenta o investimento privado em inovação através de Fundos de Investimento Anjo.
O Instituto Gyntec atua com startups em fase de pós-incubação e pré-aceleração, contribuindo com o desenvolvimento da prototipagem e a devida validação pelo mercado. Também acompanha o desenvolvimento de novos modelos de negócios por meio de spinoffs e criação de novas startups formadas por membros internos da empresa tradicional.
“Ficamos muito contentes em receber o Construtalk em Goiânia. O evento ajuda a estimular a inovação na construção civil”, diz Marcos Campos, diretor executivo do Gyntec.

Palestra do Gyntec no Construtalk Goiânia

Como Marcos exibiu em sua palestra no dia do evento, de acordo com a Revista Exame de 14 de julho de 2014, o eixo Goiânia-Anápolis-Brasília é o maior polo de atração de novos negócios entre os dez principais eixos de desenvolvimento brasileiros. Desde 2009, mais de 31.000 empresas foram abertas nas cidades do corredor de riqueza formado por Goiânia, Anápolis e Brasília.
Goiânia-Anápolis-Brasília
Marcos também trouxe dados sobre o cenário macroeconômico do mercado da região central do Brasil. São seis estados que ocupam 25% do território nacional, com mais de 20 milhões de habitantes e dois milhões de metros quadrados. Um território impossível de se fechar os olhos quando se fala em inovação.

Parque tecnológico

E por falar em inovação, diante da importância de uma região como a Centro-Oeste, o Gyntec surge como eixo tecnológico. Um hub de inovação que promove investimentos em startups e atrai centros de pesquisa em localização estratégica em Goiânia.
O Gyntec pretende se transformar em um parque empresarial tecnológico voltado para quatro grandes setores:

  • Agritech – Inovação para o setor do agronegócio
  • Fintech – Tecnologia para o mercado financeiro
  • Healthtech – Startups na área da saúde
  • Construtech – Inovação para a construção civil

Desafio Construtech

Em parceria com o Sinduscon-GO e apoio do SENAI e SEBRAE, o Gyntec lança em Goiânia o primeiro Desafio Construtech.
Confira o vídeo-convite do desafio e inscreva a sua startup:

O desafio surgiu da necessidade de atender a demanda por inovação de empresas da construção civil por meio das startups. “Vamos nos reunir com os parceiros locais para definir o modelo. Provavelmente serão duas empresas, uma de estrutura metálica e outra de refrigeração predial. Elas vão lançar os problemas a serem resolvidos”, conta o diretor do Gyntec.
A startup que se sair melhor no Desafio Construtech receberá investimento. O primeiro desafio acontecerá no final de agosto de 2018.