Contratação da mão de obra: como esse procedimento afeta a implantação de novas tecnologias no canteiro?

Marcos Monteiro

Escrito por Marcos Monteiro

3 de outubro 2017| 8 min. de leitura

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Contratação da mão de obra: como esse procedimento afeta a implantação de novas tecnologias no canteiro?

Muito pode ser feito para a melhoria do processo de contratação da mão de obra, obtendo-se avanços na qualidade da execução e viabilizando a implantação de novas “tecnologias”. É preciso que nos tornemos os agentes das mudanças!
No post anterior, afirmamos que a atual forma de contratação de mão de obra, por m³ de estrutura executada, é um processo cômodo, mas não é conveniente. Quais as características dessa contratação?

  • Valor de fácil entendimento e medição: o processo de contratação da mão de obra não depende de outros fatores, como por exemplo, os projetos estarem disponíveis ou o planejamento de execução definido. Uma proposta é solicitada ao empreiteiro e a resposta é o valor da MO/m³ concretado. Características do empreendimento como área, número de subsolos, número de andares etc, servirão para convencê-lo a reduzir o valor inicial apresentado. A medição é simples, pois, o pagamento será função da quantidade de m³ executados no período.
  • Simplificação do gerenciamento: a partir da contratação, na maior parte das situações, o gerenciamento do contratante com relação à mão de obra fica restrito às exigências do cronograma de obra. Eventuais problemas com mão de obra são levados ao responsável pela mesma, para providências e, se necessário, substituições.

Portanto, a mão de obra se mantendo dentro dos custos previstos e a execução dentro do cronograma, entende-se que está tudo bem. Mas, será que apenas esses pontos são importantes?

Quais as distorções trazidas pela contratação da mão de obra por m³ de estrutura executada?

Esse tipo de contratação da mão de obra, por se basear apenas em custos e prazos, pode mascarar problemas de execução e limitar ações de melhorias dos processos:

  • Falta de procedimentos de execução e de critérios de avaliação: a contratação de mão de obra terceirizada não transfere a responsabilidade técnica da obra para o empreiteiro. Os serviços executados devem seguir procedimentos e exigências do contratante. Este também tem a obrigação de fiscalizar e avaliar se a estrutura executada está dentro dos parâmetros estabelecidos. Porém, nem sempre esses cuidados são tomados.
  • Desconsideração das características do empreendimento e da concepção estrutural na definição do valor da contratação da mão de obra: decisões durante a concepção estrutural de uma edificação podem afetar significativamente os resultados finais do empreendimento. A participação da equipe técnica, responsável pela produção, no desenvolvimento dos projetos, é de vital importância para a melhoria desses resultados. Isso vale tanto no aspecto de fornecer diretrizes para sua concepção, quanto para transmitir ao empreiteiro de mão de obra os processos que estão sendo adotados e que tornarão sua equipe mais produtiva.
  • Dificuldades de implantação de novos processos e tecnologias durante a execução do empreendimento: como já foi dito, a implantação de novas tecnologias ou de materiais industrializados trazem custos adicionais para o empreendimento. Estes devem ser compensados pela maior produtividade e redução de custos de mão de obra. Se o valor da mão de obra é global, fica difícil avaliar impactos de melhorias no processo.

Detalhamento dos processos de execução da estrutura: vantagens e desvantagens

Evidentemente, o detalhamento dos custos de mão de obra para execução de estruturas é trabalhoso. Mas será que um insumo que representa mais de 10% do custo de execução de um empreendimento não merece maior atenção?
Não se pode negar que esse detalhamento trará novas preocupações e cuidados na gestão do empreendimento. Também é esperado que o detalhamento das atividades exponha a realidade dos custos de mão de obra. Ou seja, indicando que valores hoje praticados são inviáveis, significando que sua manutenção implicará em problemas futuros para o empreendimento.
Mas essas “desvantagens” não devem servir de justificativa para não se buscar o desenvolvimento dos canteiros. A maior vantagem do detalhamento é a construtora passar a ter maior domínio sobre custos de mão de obra. Consequentemente, melhorando sua gestão e permitindo a evolução do processo construtivo. Afinal, a avaliação da redução de custos de mão de obra pelo aumento na produtividade na aplicação de novos processos, materiais ou equipamentos pode ser avaliada de forma mais direta e precisa.

É necessário medir

Quem já obteve algum sucesso em regimes alimentares sabe que o grande segredo é ter uma balança em casa. Medir o peso constantemente traz motivação quando se percebe sua redução. Ou que se redobre os cuidados com a alimentação quando o peso não muda ou, pior, aumenta!
Da mesma forma, o grande segredo do sucesso na implantação de inovações é saber o quê e como medir. A obra deve ter total domínio sobre a produtividade da mão de obra em cada processo de execução. Deve ainda entender como cada processo se relaciona e interfere nos serviços posteriores. Esse conhecimento permitirá a definição do quê  e como medir os resultados das inovações implementadas. Como resultado, avaliando seu real potencial e a viabilidade de sua implementação.

Como melhorar o processo de contratação da mão de obra

Como se pode perceber, o detalhamento dos custos da mão de obra permite ampliar as ferramentas de gestão do empreendimento. É um assunto que precisa ser discutido por todos os participantes da cadeia: contratantes, construtoras, empreiteiros, fornecedores, projetistas e academia. É um trabalho árduo, mas que deve ser enfrentado!
Porém, isso não quer dizer que cada um de nós não pode iniciar o seu processo de melhoria contínua. Começar medindo a produtividade de cada processo de execução da estrutura, comparando os resultados com os obtidos em outros estudos. Fazer constar do processo de contratação da mão de obra os procedimentos executivos a serem seguidos. Além disso, os critérios de avaliação dos serviços executados. Medir os resultados obtidos e discutir alterações no processo executivo para melhoria dos mesmos. Afinal, as mudanças podem (e devem) começar por nós mesmos!
Concorda com essa opinião? Deixe seu comentário! Ele será muito importante para darmos continuidade a essa discussão!