Concepção estrutural: qual é a melhor para o meu empreendimento?

Marcos Monteiro

Escrito por Marcos Monteiro

24 de outubro 2017| 10 min. de leitura

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Estudo para definição da concepção estrutural deve considerar as particularidades de cada projeto

Você sabe que ser assertivo na escolha da concepção estrutural de um empreendimento é uma das ações mais importantes para garantir sua viabilidade financeira, certo?
Contudo, muito se discute sobre as diferentes alternativas para a estrutura de um edifício.
De fato, elas são muitas. Estamos falando da escolha entre concreto moldado in loco, concreto pré-fabricado, aço, alvenaria estrutural, estruturas mistas, lajes nervuradas, lajes planas, etc.
Mas será que existe uma concepção estrutural capaz de oferecer vantagens significativas com relação às demais?
Além disso, quais aspectos devem ser considerados na hora de escolher a melhor concepção estrutural de um empreendimento?
Muitas vezes sou questionado sobre qual a melhor solução estrutural para um edifício. Sempre que ouço essa pergunta, devolvo com um questionamento. “Você conhece algum empreendedor que não queira maximizar o resultado do seu investimento?”
Você há de concordar que se houvesse uma concepção estrutural que claramente trouxesse mais benefícios que as demais, ela estaria sendo usada em todos os edifícios. Parece óbvio, não?

Como definir a melhor concepção estrutural para um empreendimento?

Você já sabe que não existe uma resposta única para essa questão.
No entanto, há fatores que, quando bem analisados, podem orientá-lo na escolha do melhor sistema estrutural para uma edificação.
A seguir, vou listar os quatro aspectos mais importantes a serem considerados no momento de comparar soluções estruturais. Confira:

1- Características do empreendimento

Há uma série de particularidades de cada projeto que impactam diretamente a escolha da melhor concepção estrutural.
Entre elas, cabe destacar:

  • Altura da edificação;
  • Tipo de ocupação (comercial, residencial, institucional);
  • Geometria e vãos livres;
  • Repetitividade;
  • Localização da obra;
  • Tipo de solo.

Vou citar três exemplos para você entender mais claramente sobre a que me refiro:

  • Edifícios com mais de vinte pavimentos tornam a alternativa em alvenaria estrutural, em geral, inviável por causa de motivos técnicos e/ou econômicos.
  • Além disso, edifícios com forros nos ambientes (em geral, prédios comerciais) tornam o uso de lajes nervuradas mais interessante. Essa solução, no entanto, não é comum em edifícios residenciais.
  • Geometrias muito irregulares dificultam o uso da alvenaria estrutural, uma vez que a necessidades de complementos grauteados prejudicam a produtividade do processo.

2- Fluxo de caixa da obra

Você sabe que a forma de desembolso dos investidores determina o ritmo desejado para a construção e, consequentemente, os processos a serem utilizados na obra, certo?
Veja o caso dos processos construtivos industrializados, tais como, estruturas metálicas e pré-fabricadas.
Essas tecnologias se mostram muito viáveis em empreendimentos industriais, shoppings, centros comerciais, etc.  Nesses casos, a redução do cronograma possibilita a retorno do investimento mais rápido pela geração antecipada dos resultados da atividade que será instalada no local. Em outras palavras, o custo mais elevado desses processos construtivos acaba sendo compensado pela antecipação da entrega.
Por outro lado, empreendimentos residenciais tendem a não usufruir diretamente da redução de prazo de execução proporcionada pelos processos industrializados.
Isso porque, nesses casos, o fluxo de caixa está atrelado à capacidade de pagamento dos compradores. Em residenciais, portanto, a utilização de processos pré-moldados ou de outros sistemas industrializados se justifica mais em função da racionalização da construção, da redução de desperdícios e de um eventual ganho de qualidade.

3- A filosofia de trabalho de cada construtora


Muitas construtoras possuem critérios de execução que limitam ou direcionam a uma determinada concepção estrutural.
Fatores como insucessos anteriores em alguma tecnologia, localização do empreendimento, ou características da mão de obra disponível, podem excluir do rol de possibilidades alguma concepção estrutural. Isso é perfeitamente compreensível.
Os construtores costumam se perguntar se ao alterar a concepção estrutural não irá alterar também a segurança do empreendimento.
De modo bem objetivo e enfático: a resposta para essa pergunta é NÃO.
Sabe por quê?
As normas técnicas, independentemente do sistema estrutural utilizado, conduzem a uma mesma segurança para o sistema estrutural.
É claro que, para isso, o projetista de estruturas deve respeitar as prescrições normativas com relação aos limites de ruptura da edificação e seus elementos estruturais (ELU).
Também devem atender as normas existentes com relação ao funcionamento da estrutura em serviço (ELS). Estas referências técnicas verificam as deformações, abertura de fissuras, vibração etc.

4- Ênfase no custo

Você pode estar se perguntando: Afinal de contas, qual é o fator mais importante na escolha do sistema estrutural a ser utilizado?
Na minha visão, o fator mais importante a ser considerado na concepção estrutural é sua construtibilidade.
Estou me referindo à concepção que conduza a processos mais produtivos, consideradas as características citadas acima. E, consequentemente, a um menor custo final do empreendimento.
A ênfase no menor custo final é importante, é claro.
Mas você sabia que, muitas vezes, a redução de custos parciais eleva o custo final do empreendimento? Por isso mesmo, é fundamental que se tenha uma visão sistêmica do processo de construção para garantir os resultados esperados.
A escolha de um sistema estrutural ou a implantação de qualquer inovação em um empreendimento deve ter como foco o menor custo final do empreendimento.
Por isso mesmo, o estudo para definir um sistema estrutural deve considerar:

Materiais

A redução de custos de materiais nem sempre conduz a um menor custo final da construção.
Há casos em que a utilização de produtos de maior valor agregado pode significar um maior custo inicial. No entanto, esse investimento pode trazer benefícios posteriores. Posso citar como exemplo o aumento de produtividade, a redução de desperdícios, ou ainda, a melhor interação com os demais sistemas da obra. Pense nisso.
Mão de obra
A forma de contratação da mão de obra e sua capacitação são vitais para que se alcancem menores custos finais de mão de obra.
Não custa frisar que novos processos construtivos, sem uma mão de obra preparada para executá-los, não trarão bons resultados. 
Se quiser saber mais sobre mão de obra, leia esse artigo que mostra como a contratação pode comprometer a implantação de novas tecnologias no canteiro.

Planejamento

Cada sistema construtivo deve ser planejado de uma forma.
É preciso considerar o planejamento do canteiro, a logística de movimentação e armazenamento de materiais, o dimensionamento de equipes, etc.

Racionalização de processos

A construção deve ser pensada sistematicamente, e não como processos independentes. Afinal de contas, os sistemas se relacionam.

Projetos

Não podemos nos esquecer de que a forma mais racional e menos custosa de estudar soluções diferentes é no papel.
Lembre-se que o sucesso depende, fundamentalmente, de uma equipe de projetistas afinada, alinhada com os objetivos do empreendimento e preocupada em promover a integração dos projetos.

Conclusão sobre definição da concepção estrutural

Ao longo desse artigo você pode perceber o quão importante é evitar pautar a escolha do sistema estrutural em paradigmas e preconceitos.
Você também viu que existem diversos aspectos a serem considerados na escolha do melhor sistema estrutural para um empreendimento. Eles passam pela análise de suas características, pela experiência da construtora, por formas de financiamento, etc.
Nos próximos artigos, comentaremos mais sobre esses tópicos apresentados hoje! Não deixe de ler.
Acompanhe também o farto conteúdo do Buildin. Nele, você pode encontrar textos interessantes sobre estruturas, novos sistemas construtivos e estudos de viabilidade financeira, entre outros assuntos.
Espero que esse artigo tenha sido útil para você. Não esqueça de deixar sua opinião nos comentários. Se curtiu, compartilhe com sua rede de contatos!
Até a próxima!