Como funcionam as plataformas digitais na construção civil

Bruno Loturco

Escrito por Bruno Loturco

26 de abril 2021| 15 min. de leitura

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Como funcionam as plataformas digitais na construção civil

Este artigo é uma continuação do texto “Como plataformas digitais integram a cadeia produtiva da construção”. Vamos avançar no assunto falando sobre as plataformas digitais na construção civil e como elas são concebidas para tornar os canteiros de obra mais eficientes por meio da criação de valor agregado em cada uma das etapas que antecedem e acompanham a execução.

Para deixar a discussão ainda mais rica, recomendo que você leia a primeira parte do artigo. Eu dividi o conteúdo justamente para criar discussões mais focadas em cada tema abordado. Boa leitura!

Obras integradas a partir dos dados

A construção é um mercado tão pulverizado quanto o varejo e com dores até mais evidentes. Como a própria McKinsey pontua, grandes construções extrapolam, em média, 80% do orçamento e 20% do tempo. E os players sabem disso. Tanto é que os investimentos em tecnologia por parte de empresas de construção mais do que dobraram na última década, passando de cerca de US$ 8 bilhões entre 2009 e 2013 para US$ 20 bilhões no período de 2014 a 2018 e US$ 5 bilhões apenas em 2019.

Entretanto, isso não significa que as tecnologias foco desses investimentos estão, necessariamente, integradas. Na maior parte dos casos são soluções pontuais, que não proporcionam uma solução completa. Logo, podemos imaginar oportunidade semelhante à do varejo também para a construção.

Isso porque o setor já entendeu a importância dos dados para o ganho de eficiência, sendo uma questão de tempo demandar cada vez mais integração e capacidade de extração de informações estratégicas, algo que somente as plataformas digitais são capazes de proporcionar.

Afinal, digitalização não é a mesma coisa que integração. E soluções tecnológicas que não conversam entre si podem tornar a cadeia produtiva tão ou mais complexa do que ela é agora.

Não é à toa, portanto, que Fabrício Schveitzer, Diretor de Operações do Sienge, costuma dizer que o sucesso da Dimas Construções, empresa que comandou entre 2016 e 2019, se deve em muito ao fato de esta ter passado a se portar não como uma construtora, mas ter se tornado uma empresa de tecnologia que constrói.

A construtora Dimas utiliza plataformas digitais
Imagem: divulgação Dimas Construções

Afinal, a Dimas, que é um dos cases de sucesso de uso do Sienge Plataforma, foi capaz de reinventar processos a partir da adoção de ferramentas de gestão integrada, técnicas de Design Thinking e investimento em BIM (Building Information Modeling).

O resultado foi um aumento muito relevante na assertividade da oferta do produto. Nesse contexto, o cliente passa a ser elemento chave não só lá no momento da compra, mas já no processo de projeto, que é quando dá tempo de tomar as decisões corretas sobre o produto que será oferecido para ele.

Plataformas digitais na construção civil geram valor

Lembra que lá no tópico sobre “efeito de rede”, eu falei que as plataformas digitais na construção civil criavam valor de uma forma escalável que seria inviável para cadeias lineares? Ou seja, a estrutura do fornecedor numa ponta e o consumidor na outra não existe na lógica das plataformas.

Se pensarmos que as interações entre incorporadoras, construtoras, projetistas, fornecedores e clientes nunca foram lineares na construção, mas estabelecidas em forma de matriz, conseguimos visualizar o canteiro de obras como uma plataforma. Só o que faltava era a tecnologia, que agora, com soluções como o Sienge Plataforma, está disponível e, mais do que nunca, acessível.

Essa afirmação encontra respaldo na percepção de Natalia de Dios, Gerente de Obras da Dimas Construções. De acordo com ela, toda obra se apóia em três pilares: custo, prazo e qualidade.

“Estes pilares não trabalham isoladamente e é necessário que se comuniquem de forma ágil e rápida para que o gestor da obra possa tomar as melhores decisões e em tempo hábil para que não acabem se tornando obsoletas, visto que a obra é um ecossistema extremamente dinâmico e repleto de variáveis”, afirma Natalia.

Para ela, é nesta integração que as plataformas digitais ajudam, tirando o gestor de obras do achismo e o orientando por dados.

“Em 15 anos de experiência, vi várias transformações no setor e, como usuária de plataformas digitais na construção civil, posso afirmar que, aliadas a ferramentas de gestão ágil, elas são fundamentais para qualquer empresa de construção civil que queira se destacar no mercado.”

Mais do que isso, ela acredita que, num futuro bastante próximo, empresas que ainda não tiverem feito a virada de chave para usar plataformas digitais irão ficar de fora do mercado, incapazes de acompanhar a velocidade com que as demais empresas atuam.

O case do Sienge Plataforma

Para saber o que isso significa na prática, fui conversar com o Luciano Cervo, que é o Gerente de Ecossistema do Sienge, a mais importante plataforma de gestão para a construção brasileira, com mais de 3,5 mil clientes. Ele nos sugeriu pensar na integração entre ferramentas de planejamento e controle de produtividade de equipes e ilustrou a atuação do Sienge Plataforma da seguinte maneira:

“Com base no orçamento do Sienge, a construtora elabora o planejamento e faz a aferição da produtividade dos serviços executados pelas equipes através da ferramenta parceira. Com isso, o que resultava antes em uma planilha de medição física, agora retorna uma medição preenchida no Sienge, eliminando eventuais erros de digitação e consumo de tempo para preenchimento, com disponibilidade da informação a qualquer momento”.

A partir da fala de Cervo vemos que a construção do ecossistema de inovação em torno da plataforma é imprescindível para a integração da cadeia. Afinal, o Sienge não faz a captação direta de dados em canteiro, mas depende de parceiros especializados nessa função, como é o caso do Agilean.

O founder e CEO do Agilean, André Quinderé, me explicou como isso funciona na prática: “a solução Agilean trabalha captando informações no canteiro em tempo real e enviando tudo diretamente para o Sienge, que entrega para os gestores informações completas em relação à gestão da obra”.

Como falamos anteriormente, isso é muito diferente de ter uma gama de soluções isoladas, pois sem uma infraestrutura de integração as empresas de construção precisam alocar equipes inteiras para compilar dados e alimentar seus sistemas de gestão, como ERPs.

É uma rotina manual baseada em coletar dados de diversas áreas para extração de relatórios de desempenho consolidados.

“Atualmente, mesmo empresas de médio e pequeno porte conseguem visualizar um conjunto de informações extremamente rico e atualizado a cada segundo, resultando em decisões mais assertivas e em operações mais rentáveis”, explica Quinderé.

Benefícios da plataformas digitais na construção civil

Para entender como os clientes de plataforma enxergam seus benefícios, eu falei com a Kalindi Duarte Souza, Gerente de Projetos na Dimas Construções. Para ela, uma plataforma como o Sienge atua como uma grande concentradora de informações. Isso porque a tecnologia proporciona um sistema integrado, que passa por toda a cadeia.

“Nasce no momento de criar um empreendimento, com a criação do orçamento e do planejamento da obra, envolvendo todos os aspectos financeiros e controlando o fluxo de caixa”, explica.

Então, na prática, a obra consegue buscar as informações e a plataforma gera visualizações estratégicas para os gestores, que permitem prever quando e onde vai precisar de cada material e, assim, mantendo o estoque em nível saudável.

As mesmas possibilidades de controle e visualização se aplicam a muitas outras frentes, como a de contratos, permitindo ver o que já foi pago e o que será pago.

“Controlar tudo isso em planilha seria muito difícil e na plataforma consigo ter um histórico muito refinado, com dados das últimas obras que trazem um balizamento muito importante sobre custos”, afirma Kalindi.

Então, ao colocarmos juntos todos esses fatos podemos concluir que o momento é absolutamente propício para o desenvolvimento e consolidação do setor da construção em torno de plataformas digitais na construção civil, que proporcionem a integração para o tão necessário e desejado salto de produtividade.

A McKinsey acredita que as próximas etapas de adoção e crescimento das plataformas vão proporcionar novos níveis de eficiência para a construção, com integração de tecnologias diretamente no canteiro de obras e ganho de capacidade de análise preditiva.

Ecossistema do Sienge Plataforma
Ecossistema do Sienge Plataforma

Assim, para evitar o risco de que os canteiros de obras se tornem uma panaceia de novas tecnologias que não se conversam, causando uma pulverização de processos ainda mais complexa, a perspectiva da McKinsey é de que “a era das plataformas criará a plataforma sobre a qual essas tecnologias emergentes são construídas”.

É exatamente este o ponto sobre o qual o Sienge atua com máxima eficiência, captando tecnologias de gestão que atuam em pontos específicos e transformando o conjunto de soluções em uma ferramenta poderosa para tomada de decisões estratégicas. Ou seja, exterminando incertezas geradas ao longo da cadeia e preservando os canteiros de decisões (inevitavelmente equivocadas) de última hora.

Oportunidades latentes de integração

Ao unificar a visibilidade e a gestão de tecnologias em frentes diversas, as plataformas digitais reduzem a incidência de erros e proporcionam elevação na produtividade dos empreendimentos de construção. Um exemplo é a adoção de tecnologias para planejamento e gerenciamento da execução, que, integradas a plataformas, encontram correlação imediata com rotinas de Suprimentos e Contas a Pagar, dentre outras.

Há, ainda, várias atividades de gestão de contratos e documentos que demandam mão de obra intensiva e estão sujeitas a erros de toda natureza que se beneficiam da integração proporcionada pelas plataformas.

Até mesmo a automação de rotinas em canteiro de obras pressupõe certo grau de sofisticação na gestão de informações que é encontrado em plataformas digitais. Afinal, ferramentas de automação consomem e geram dados que precisam ser processados e têm potencial para dar origem a informações estratégicas sobre produtividade. Nada disso é possível sem que exista, por trás, uma plataforma digital capaz de confrontar dados de frentes diferentes da operação.

Em resumo, podemos afirmar que, ao processar dados de projeto e execução em tempo real, uma plataforma digital proporciona conexão muito mais ampla em todas as frentes de um empreendimento.

As plataformas digitais e as diversas soluções a elas integradas enfim conectam os canteiros de obra aos escritórios de projeto e de desenvolvimento de produto, eliminando problemas históricos da construção, como as diferenças entre o orçado e o executado.

Conclusão

Certamente, além dos exemplos citados, há uma infinidade de possibilidades associadas à criação de um ecossistema tecnológico em torno de plataformas digitais para a construção.

O ponto mais importante é o potencial que as plataformas têm de transformar a atividade construtiva num encadeamento de atividades que se conectam e trocam informações em tempo real, pois pertencem a um mesmo projeto.

Ou seja: não se trata mais de um apanhado de projetos que a construtora – ou melhor, os responsáveis operacionais pelo canteiro de obras – se encarrega de fazer virar uma edificação depois de alguns anos conciliando informações que foram criadas de forma desencontrada.

Especialmente no Brasil, que tem na construção uma de suas principais atividades econômicas – ainda mais numa fase de retomada como o atual, o momento é extremamente propício para consolidar a construção em torno de plataformas tecnológicas capazes de organizar o fluxo de informações e, assim, colocar um ponto final no histórico problema de falta de integração da cadeia construtiva.

Não faria sentido escrever tanto sobre esse tema se não fosse para gerar debates! Por isso, tenho muito interesse em saber a sua opinião sobre o que foi apresentado neste texto. 

Para ir mais fundo no tema plataformas digitais na construção civil e em outros setores, recomendo as seguintes leituras: