Crise política: impactos para a indústria da construção

Alonso Mazini Soler

Escrito por Alonso Mazini Soler

5 de agosto 2017| 4 min. de leitura

Compartilhe

Ainda estamos sob o efeito da ressaca do recente tsunami político que abalou o país com as delações da JBS. Cabe fazer um rescaldo imediato sobre a crise política. A finalidade é avaliar os impactos específicos provocados na atividade econômica da indústria da construção. O setor da construção representa, atualmente, o segundo maior setor econômico do país. Vem logo atrás da agroindústria, com 16% do PIB e 3,5 milhões de empregos, ou 6% do total.
A crise política do país que se estende e agudiza, sem trégua, ao longo dos últimos anos, tem impactado significativamente os resultados desse segmento. A construção civil se caracteriza, principalmente, por ser altamente dependente de grandes investimentos. Sem segurança institucional, principal efeito perceptível da crise política, sem perspectivas de crescimento econômico sustentável e sem a oferta de financiamentos adequados, elevam-se os riscos dos investidores. Consequentemente, inviabilizam-se  projetos de construção, paralisando o segmento e impactando negativamente potenciais resultados econômicos e sociais.

Consequências da crise política

Nesse contexto, a mais nova crise política divulgada, estopim de uma crise institucional sem paralelo na história do país, promove um desserviço significativo à retomada das grandes obras de infraestrutura. Além disso, impõe uma nova carga de desalento à massa de desempregados do setor da construção. Investidores privados, nacionais e internacionais, contabilizam seus riscos e se retraem. Pior, transferem seus capitais para outros locais com maior previsibilidade e segurança de retorno.
Instâncias da administração pública direta não conseguem investir em obras devido ao estado caótico de suas contas que apontam para a insolvência generalizada. Estatais se retraem com receio de tornarem-se alvos de novos capítulos de operações criminais. Bancos privados deixam de ofertar crédito sem o aval de bancos públicos. Bancos de fomento se mantêm paralisados em suas operações de crédito para a construção. Aguardam uma solução de governança que lhes permitam retomar as operações em conjunto com empreiteiras que se encontram expostas no centro da crise. Seguradoras não dispõem de obras para garantir. Mesmo que as tivessem, devido aos riscos que representam, cobrariam prêmios incompatíveis com a viabilidade dos projetos.
Enfim, enquanto não houver solução ou um encaminhamento bem aceito pela sociedade para a crise política e institucional do país, não haverá investimentos disponíveis. Não haverá a retomada da indústria da construção, reverberando negativamente o seu martírio no conjunto da economia. Que se encontre uma solução para Brasília, rápida e contundente, para que o setor da construção volte a representar uma força econômica de sustentação do país.
Por: Alonso Mazini Soler, D.ENG – Professor do Insper
amsol@j2da.com.br