Tendências da construção civil

Juliana Nakamura

Escrito por Juliana Nakamura

24 de novembro 2019| 19 min. de leitura

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Quando pensamos sobre 2018 no Brasil, podemos verificar dois opostos. Foram 365 dias bastante agitados na política. Já na economia, foi um ano devagar, quase parando. Assim, é possível que você esteja se perguntando quais as tendências da construção civil em 2019?

Pois saiba que as perspectivas são positivas para este e os próximos anos. De acordo com especialistas, a tendência é, finalmente, a volta dos investimentos, especialmente a partir do segundo trimestre. Seria a tão aguardada retomada da construção civil!

Quer saber mais sobre as principais tendências para 2019?

Elaboramos este conteúdo para ajudar você a se preparar para esse novo ciclo que se inicia. Falaremos sobre:

  • Perspectivas para o setor
  • Entrevistas com líderes setoriais
  • Tendências de mercado
  • Carreiras que terão destaque
  • Projeções de entidades e construtoras para 2019
  • Os principais eventos do setor da construção em 2019

Tendências da construção civil para 2019

A confiança dos empresários da construção civil aumentou gradativamente ao longo do ano passado, sobretudo no último trimestre.

O Índice de Confiança da Construção (ICST) calculado pela FGV/IBRE era de 80,3 em setembro. Subiu para 81,8 no mês seguinte e chegou a 84,7 em novembro . Este é o maior nível atingido pelo índice desde janeiro de 2015.

Outro dado positivo do estudo da FGV/IBRE é a capacidade de produção da indústria da construção. Pela terceira vez consecutiva, a utilização da capacidade instalada cresceu 3,5 pontos percentuais e chegou a 65,6%, de acordo com a coleta de dados da FGV.

Segundo Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção da FGV IBRE, “a atividade setorial ainda está muito aquém de sua média histórica, mas a direção é de retomada”.

Redução de estoques

Enquanto a construção civil apresenta queda em suas atividades desde 2014, o mercado imobiliário registrou aumento do número de lançamentos e incremento das vendas em 2018.

“Houve uma redução do estoque, o que dá uma perspectiva positiva. É o momento de reação do mercado, de gerar mais empreendimentos”, diz a economista Ieda Vasconcelos, da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

Os indicadores nacionais da CBIC são positivos. Eles mostram que os lançamentos residenciais cresceram 30,1% no terceiro trimestre de 2018, em relação ao mesmo período de 2017. As vendas, por sua vez, registraram aumento de 23,1%.

Com relação às vendas, foram 118,4 mil unidades escoadas no acumulado em 12 meses encerrado em setembro de 2018. Isso contra 93,5 mil unidades nos 12 meses anteriores a esse período.

Se mantido o ritmo atual de vendas, o estoque será zerado em 14 meses.

PIB da construção

Em 2018, o produto interno bruto da construção civil registrou o quinto ano seguido de retração. Mas a expectativa é a de que, em 2019, esses números negativos fiquem para trás.

A projeção de crescimento de 1,3% pode parecer tímida, mas já significa uma mudança de direção.

Para o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, “a projeção leva em consideração o início de uma retomada no segundo semestre de 2018”. Ele continua: “e a expectativa é de uma política econômica de reequilíbrio das contas públicas. Ou seja, com reforma da Previdência e desburocratização para empreender”.

Segundo dados apresentados na pesquisa Focus do Banco Central, espera-se que em 2019 o PIB do Brasil cresça em 2,8%. É um valor expressivo em comparação com o crescimento de 1,01% registrado em 2017.

A visão de líderes setoriais

A equipe de Buildin conversou com dois líderes setoriais da indústria da construção para entender melhor o que esperar de 2019.

Confira a seguir um compilado bem objetivo dessas entrevistas realizadas com:

  • José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC)
  • José Romeu Ferraz Neto, presidente do Sindicato da Indústria da Construção em São Paulo (SindusCon-SP)

Sobre o novo governo

De que forma o novo Governo pode auxiliar na retomada da construção?

José Carlos Martins – Primeiramente é preciso tratar bem o capital privado para que ele invista. Para isso, segurança jurídica e crédito são fundamentais. Também é necessário um planejamento confiável. Com isso, o capital privado entra no jogo e teremos anos de muita demanda para a construção civil.

José Romeu Ferraz Neto – O mais importante é aprovar a reforma da previdência e implementar medidas de reequilíbrio fiscal e estímulo ao ambiente de negócios. No segmento imobiliário, com a retomada da confiança na economia, será possível atrair novos investidores. Além disso, na habitação popular, é preciso reforçar o FGTS e os subsídios para diminuirmos o déficit habitacional. Também é necessário estimular as parcerias público-privadas, as privatizações e as concessões.

Quais são as perspectivas com relação ao novo Governo?

Martins – O governo eleito está atacando problemas estruturais. Está sinalizada, por exemplo, uma efetiva redução da máquina pública, que trará economia de dinheiro público e produtividade. Mas, independente de qualquer coisa, a eleição passou. Precisamos dar uma trégua ao novo governo, nos engajarmos e construir um Brasil melhor para nossos filhos e netos.

Ferraz Neto – A sinalização dada em busca do reequilíbrio fiscal e do incremento das privatizações e concessões é positiva. Mas determinadas tarefas devem seguir sob coordenação do governo, como o estímulo à habitação popular.

Grau de otimismo

Os efeitos de tais medidas serão sentidos a partir de quando?

Martins – Creio que a partir de janeiro. Nossas propostas ao novo Governo geram efeito imediato, como a retomada das 4.378 obras paralisadas no Brasil. Também há o programa de concessões municipais. Já foram contratados 46 projetos e é possível acelerar.

Ferraz Neto – Possivelmente a partir do segundo trimestre de 2019 e com mais intensidade a partir de 2020.

Como o empresário da construção pode se preparar para 2019?

José Romeu Ferraz Neto, presidente do SindusCon-SP

Martins – Somos otimistas, contudo conservadores. Se as propostas que fizemos forem implantadas, estamos certos de que funcionará. Digo aos nossos associados que sejam conservadores e levem o barco devagar. E que fiquem preparados para a arrancada.

Ferraz Neto – Apostamos continuamente na elevação da produtividade. Isso envolve melhoria na gestão, modernização de processos produtivos e abertura para inovações tecnológicas e de sustentabilidade ambiental.

Tendências para a construção civil

Se olharmos para o futuro próximo e para o que foi apontado como tendência para 2018, não há diferenças marcantes.

Na verdade, o uso de tecnologias como BIM, inteligência artificial, impressão 3D e internet das coisas foi reforçado ao longo ano e deve continuar assim por um bom tempo. Assim, o perfil das edificações tende a mudar, com presença de serviços agregados compartilhados, como mostra a Vitacon.

Falarei mais sobre essas soluções a seguir:

BIM (Building Information Modeling)

A modelagem 3D dos projetos permite organizar informações da obra de forma consolidada em uma única plataforma. Assim, seu uso facilita o compartilhamento do projeto e a compatibilização de projetos em tempo real.

De acordo com o consultor Tiago Ricotta, a digitalização da construção possibilitada pelo BIM já provou garantir resultados da ordem de 99%, 92% e 90% de precisão. “Isso vale para custos, cronograma e auditoria de qualidade respectivamente”, disse o especialista em entrevista recente ao Buildin.

Segundo ele, “com a digitalização e acesso dos projetos em dispositivos móveis, os engenheiros podem ganhar até 16% do seu tempo. Não utilizar a tecnologia disponível atualmente é perder dinheiro no curto prazo e competitividade no médio e longo prazo”.

Uma tendência da construção civil é o que o atual difícil acesso a esse tipo de tecnologia deixe de existir, com mais disponibilidade no mercado.

Construção modular

Muito forte no hemisfério norte, a construção modular é uma solução para racionalizar recursos e aumentar a produtividade. Estamos falando sobre edificações pré-fabricadas montadas a partir de módulos produzidos fora do canteiro, sob rigorosos controles industriais.

Conforme estudo da Turner and Townsend, a expectativa é que a de que esse tipo de construção aumente globalmente 6% até 2022.

A construção modular pode ser aplicada com diversas finalidades (comerciais, residenciais, hotelaria etc.). Ela também não precisa se restringir a um material estrutural específico, podendo se basear no uso do aço, do concreto, madeira ou mesmo novos materiais.

Qualidade construtiva, redução de prazo de execução, previsibilidade de custo, menor dependência de mão de obra e eliminação de desperdícios são motivos que justificam a implementação da construção modular pré-fabricada no Brasil.

Outro exemplo é a construção de casas modulares para reduzir o déficit habitacional.

O engenheiro Jonas Medeiros escreveu mais detalhadamente sobre isso em artigo publicado pelo Buildin. Confira.

Sustentabilidade e eficiência energética

A sociedade tende a exigir, cada vez mais, edifícios eficientes, que gerem menos danos ao ambiente. Isso se deve à maior conscientização das pessoas e, também, a uma questão de custo.

De acordo com o Green Building Council Brasil, um projeto de construção sustentável médio é capaz de reduzir em 40% o uso de água, 35% a emissão de gás carbônico e 65% o desperdício.

Não custa lembrar que, além de ser uma das tendências da construção civil, todos ganham quando se investe em sustentabilidade na construção.

Para os empreendedores, práticas ambientalmente corretas para construção valorizam os empreendimentos.

Para o consumidor, o ganho está na redução de custos de operação e na disponibilidade de usufruir de ambientes com melhor qualidade interna. Isso sem contar nos impactos positivos das construções sustentáveis que beneficiam toda a sociedade.

O professor Masa Noguchi, da rede ZEMCH (Zero Energy Mass Custom Home), falou sobre essa tendência em palestra recente no Construsummit.

Inteligência artificial

A inteligência artificial (IA) é uma das tendências da construção civil. A tecnologia já é utilizada, em maior ou em menor grau, por muitas empresas da construção civil. Assim, em 2019 a expectativa é a de que essas aplicações se intensifiquem ainda mais.

A IA envolve ciência da computação, matemática, estatística, programação de computadores, visão computacional e, até mesmo, linguística. Ela permite aos computadores aprenderem e a tomarem decisões com o mínimo de intervenção humana.

As aplicações da IA na indústria da construção são infinitas. Elas podem apoiar estratégias de relacionamento e atendimento personalizado ao cliente, bem como garantir melhores níveis de segurança no canteiro.

Se quiser saber mais sobre essa tendência, veja a palestra realizada por Bruno Loreto, CEO da Construtech Ventures.

Internet das Coisas

Fundamental para se chegar à Construção 4.0, a Internet of Things (IoT) aplicada à indústria da construção está causando transformações profundas com o maior uso de sensores para monitoramento.

Na área de manutenção, esses dispositivos permitem monitorar o ciclo de vida de edifícios e seus componentes com mais precisão.

Integrada a etiquetas para Identificação por Rádio Frequência (RFID), a IoT pode ajudar as construtoras a rastrear toda e qualquer movimentação de matéria-prima, evitando problemas que comprometam a produtividade.

Confira o potencial de utilização da IoT explica pelo presidente da Teleco, Eduardo Tude.

Tendências para carreiras na construção civil

Em sintonia com essas tendências que acabei de te mostrar, novas habilidades e conhecimentos serão demandados dos profissionais que atuam na indústria da construção.

Assim, seja no escritório ou nos canteiros de obras, uma mudança irreversível é a influência das novas tecnologias no dia a dia do trabalho.

Você deve ter notado que, felizmente, uma das tendências da construção civil é que o setor está cada vez mais aberto à informatização.

Refiro-me principalmente à gestão de projetos online, às ferramentas BIM e às plataformas de colaboração baseadas em nuvem (cloud computing). Isso sem falar nas possibilidades referentes a realidade aumentada e realidade virtual, por exemplo.

Dessa forma, os profissionais que atuam na construção civil serão cada vez mais exigidos a conhecer os softwares e apps para engenharia civil mais importantes.

Além disso, cabe lembrar que a inovação é um vetor de crescimento para as empresas da construção civil. E não é exagero dizer que as empresas – construtoras ou fornecedoras – estão cada vez mais conscientes da necessidade de serem inovadoras.

Isso indica que:

  • Portas devem ser abertas para gestores de inovação e;
  • Oportunidades tendem a ser oferecidas aos profissionais que sejam capazes de liderar projetos de inovação.

Além disso, tudo indica que o segmento de habitação estará aquecido em 2019. Logo, profissionais com experiência nessas áreas, incluindo eletricistas, mestres de obras, engenheiros e projetistas (estruturais, de instalações e de automação), deverão ser bastante procurados.

Projeções de entidades e construtoras para 2019

Sobratema  – Para 2019, a sondagem junto às construtoras e locadoras aponta que 61% das empresas consultadas estão otimistas com a economia brasileira e 48% se mostram otimistas com o setor da construção. Os dados são do Estudo do Mercado Brasileiro de Equipamentos para Construção 2018/2019 da Sobratema(Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração).

Abramat – O faturamento da indústria de materiais de construção deve fechar 2018 com uma expansão real de 1,5%. Trata-se do primeiro resultado positivo após três anos consecutivos de retração. Para os próximos quatro anos, a produção de materiais de construção deverá ter crescimento anual médio em torno de 5%, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Rodrigo Navarro.

Cyrela – A construtora e incorporadora acumula cerca de R$ 800 milhões em vendas de outubro a novembro de 2018. Esse montante equivale a 90% das vendas de todo o quarto trimestre de 2017. Assim, para 2019, a expectativa é de crescimento e diversificação das operações imobiliárias.

Eztec – A construtora e incorporadora pretende elevar os lançamentos de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão em 2019. Em 2018, a empresa aguardou o resultado das eleições presidenciais e lançou a maior parte dos empreendimentos após a definição do futuro governo.

Eventos que irão movimentar a indústria da construção em 2019

Se as tendências da construção civil estiverem certas, profissionais e empresários do setor vão precisar se preparar para a retomada. Ou seja, isso significa que será necessário se informar, se atualizar, explorar novas tecnologias e fazer networking.

Construsummit 2018 recebeu mais de 500 pessoas para debater sobre inovação e tecnologia na indústria da construção

Nesse sentido, uma boa prática é participar de eventos setoriais da construção.

Assim, para te incentivar, listamos abaixo uma série de feiras/congressos interessantes que acontecerão ao longo do ano.

Além disso, para saber sempre quais as tendências da construção civil, fique por dentro também dos eventos do Buildin.

Em 2019 haverá novas edições do Construtalk, evento itinerante sobre inovações na indústria da construção, e do Construsummit 2019.

Conclusões

Ao longo desse artigo, você viu que a retomada da construção civil pode finalmente acontecer em 2019. É verdade que essas tendências da construção civil para 2019 dependem de medidas governamentais que ainda não foram concretizadas, mas o clima é de otimismo.

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Por fim, se quiser saber ainda mais sobre tendências da construção civil brasileira não deixe de ler o artigo de Aldo Dórea Mattos sobre o tema.

Então, que tenhamos um 2019 com muita prosperidade, boas notícias e repleto de ideias inovadoras! Até breve!