Indicadores de sustentabilidade que agregam à construção civil

Brenda Bressan Thomé

Escrito por Brenda Bressan Thomé

29 de agosto 2022| 19 min. de leitura

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Indicadores de sustentabilidade que agregam à construção civil

Você sabe o que são indicadores de sustentabilidade e sua importância na construção civil?

A indústria da construção civil é uma grande geradora de desenvolvimento econômico, representando 8% do PIB do Brasil. Contudo, é um dos setores que mais consome recursos naturais e gera resíduos sólidos. Com a crescente conscientização da sociedade frente à crise ambiental, é essencial que o mercado da construção inclua definitivamente os indicadores de sustentabilidade em seus projetos.

Essa decisão beneficiará as presentes e futuras gerações. Também resultará em economia e vantagens competitivas, além de favorecer sua imagem institucional.

O que são indicadores de sustentabilidade?

Os indicadores de sustentabilidade são parâmetros ou valores, baseados em dados científicos, que fornecem informações sobre certos fenômenos. Na indústria da construção civil, servem para analisar as modificações que determinada atividade gera em todo o ciclo de vida do empreendimento.

Tais indicadores ajudam a calcular os impactos ambientais e socioeconômicos de empreendimentos da construção civil. Com base nessas métricas, os gestores podem desenvolver estratégias de desenvolvimento sustentável mais eficazes.

Conheça alguns dos indicadores mais conhecidos em âmbito mundial e nacional.

1. ONU

A Organização das Nações Unidas (ONU) começou a desenvolver indicadores de sustentabilidade a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (UNCED). O evento foi realizado em Estocolmo, em 1972.

Vinte anos depois, na Rio-92, no Rio de Janeiro, foi criada a Comissão das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável (CSD). Entre 1995 e 2000, o órgão realizou um programa de trabalho, dividido em 3 partes, para estabelecer indicadores de desenvolvimento sustentável.

Esse trabalho originou 57 indicadores, divididos em 15 temas e 38 subtemas, publicados com o título Indicators of sustainable development: guidelines and methodologies (Nações Unidas, 2001).

2. Agenda 21

Agenda 21 foi um dos principais resultados da Rio-92. Esse documento definiu a prioridade de cada país analisar como os governos, empresas, ONGs e demais setores da sociedade poderiam colaborar para a solução dos problemas ambientais.

A Agenda 21 foi um marco, reunindo orientações quanto ao desenvolvimento e à implementação de indicadores de sustentabilidade.

Hoje, cada país desenvolve a sua própria Agenda 21. No Brasil, as discussões são coordenadas pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável (CPDS) e da Agenda 21 Nacional.

3. OECD

Fundada em 1961, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) começou a publicar indicadores ambientais em 1989.

Com sede em Paris, França, a OECD é composta por 35 países. Trata-se de uma organização comprometida com economias de mercado em democracias representativas.

Uma das missões da OECD é propor políticas para a solução compartilhada de problemas econômicos, sociais e ambientais, visando ao chamado “crescimento verde”.

A seguir, confira os grupos de indicadores de sustentabilidade propostos pela OECD e os tópicos abrangidos:

Grupos de indicadores Tópicos 
1Indicadores de acompanhamento da produtividade ambiental e dos recursos• Produtividade de carbono e de energia
• Produtividade dos recursos: materiais, nutrientes, água
• Produtividade multifatores
2Indicadores de acompanhamento da base de ativos naturais• Reservas renováveis: água, floresta, recursos haliêuticos
• Reservas não renováveis: recursos minerais
• Biodiversidade e ecossistemas
3Indicadores de acompanhamento das oportunidades econômicas e respostas políticas• Saúde ambiental e riscos
• Serviços e comodidades ambientais
4Indicadores de acompanhamento das oportunidades econômicas e respostas políticas• Bens e serviços ambientais
• Fluxos financeiros internacionais
• Tecnologia e inovação
• Preços e transferências
• Competências e formação
• Regulamentações e abordagens de gestão
O contexto socioeconômico e as características do crescimento• Crescimento e estrutura econômicos
• Produtividade e comércio
• Mercados de trabalho, educação e rendimento
• Modelos sociodemográficos

4. Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal

A Caixa criou uma classificação socioambiental para os projetos habitacionais que financia. O chamado Selo Casa Azul é a forma que o banco encontrou de promover o uso racional de recursos naturais nas construções e a melhoria da qualidade da habitação. A principal missão é reconhecer projetos que adotam soluções eficientes na construção, uso, ocupação e manutenção dos edifícios. São 53 critérios de avaliação, divididos em 6 categorias:

Qualidade Urbana
Projeto e Conforto
Eficiência Energética
Conservação de Recursos Materiais
Gestão da Água
Práticas Sociais.

Para receber o Selo Casa Azul, o empreendimento deve obedecer a 19 critérios obrigatórios e, de acordo com o número de critérios opcionais atendidos, o projeto ganha o selo nível bronze, prata ou ouro:

Bronze: atende aos 19 itens obrigatórios;
Prata: atende aos 19 itens obrigatórios, mais 6 opcionais;
Ouro: atende aos 19 itens obrigatórios, mais, pelo menos, 12 opcionais.

A adesão ao Selo é voluntária e o proponente deve manifestar o interesse em obtê-lo para que o projeto seja analisado. A certificação se aplica a todos os tipos de projetos de empreendimentos habitacionais apresentados à Caixa para financiamento ou nos programas de repasse. Podem se candidatar ao Selo as empresas construtoras, o Poder Público, empresas públicas de habitação, cooperativas, associações e entidades representantes de movimentos sociais.

O método utilizado para a concessão do Selo consiste em verificar, durante a análise de viabilidade técnica do empreendimento, o atendimento aos critérios estabelecidos. Para saber especificamente quais são os critérios, acesse o guia preparado pelo banco.

Vantagens:
A certificação é gratuita e é um bom modo de comprovar que o empreendimento é de qualidade e sustentável, agregando valor no preço de venda e gerando mais satisfação para o cliente. Além disso, a empresa que receber o selo acaba sendo protagonista de marketing espontâneo, pois a Caixa divulga construções certificadas no seu site, em eventos, imprensa e Feirões.  

5. Certificação Leed | Leadership in Energy and Enviromental Design 

Leed é um sistema internacional de certificação e orientação ambiental para edificações, utilizado em 143 países, e possui o intuito de incentivar a transformação dos projetos, obra e operação das edificações, sempre com foco na sustentabilidade de suas atuações.

Quem confere as certificações é o Green Building Council Brasil (GBCB), braço da ONG internacional criado no Brasil em março de 2007 para auxiliar no desenvolvimento da indústria da construção sustentável no país. A organização atua incentivando a adoção de práticas de Green Building em um processo integrado de concepção, construção e operação de edificações e espaços construídos.

O Brasil é o quarto no ranking mundial de construções verdes segundo relatório do GBC internacional divulgado em 2015, ficando atrás apenas da Canadá, China e Índia. Em 2016, o país já conta com mais de 1100 empreendimentos registrados e certificados.

Atualmente no Brasil são concedidos 8 tipos de LEED:

-LEED NC – Novas construções e grandes projetos de renovação
-LEED ND – Desenvolvimento de bairro (localidades)
-LEED CS – Projetos da envoltória e parte central do edifício
-LEED Retail NC e CI – Lojas de varejo
-LEED Healthcare – Unidades de saúde
-LEED EB_OM – Operação de manutenção de edifícios existentes
-LEED Schools – Escolas
-LEED CI – Projetos de interiores e edifícios comerciais

A Certificação internacional LEED possui 7 dimensões a serem avaliadas nas edificações. Todas elas possuem pré requisitos (práticas obrigatórias) e créditos, recomendações que quando atendidas garantem pontos a edificação. O nível da certificação é definido, conforme a quantidade de pontos adquiridos, podendo variar de 40 pontos, nível certificado a 110 pontos, nível platina.

Dimensões Avaliadas:

Sustainable sites (Espaço Sustentável) – Encoraja estratégias que minimizam o impacto no ecossistema durante a implantação da edificação e aborda questões fundamentais de grandes centros urbanos, como redução do uso do carro e das ilhas de calor.

Water efficiency (Eficiência do uso da água) – Promove inovações para o uso racional da água, com foco na redução do consumo de água potável e alternativas de tratamento e reuso dos recursos.

Energy & atmosphere (Energia e Atmosfera) – Promove eficiência energética nas edificações por meio de estratégias simples e inovadoras, como por exemplo simulações energéticas, medições, comissionamento de sistemas e utilização de equipamentos e sistemas eficientes.

Materials & resources (Materiais e Recursos) – Encoraja o uso de materiais de baixo impacto ambiental (reciclados, regionais, recicláveis, de reuso, etc.) e reduz a geração de resíduos, além de promover o descarte consciente, desviando o volume de resíduos gerados dos aterros sanitários.

Indoor environmental quality (Qualidade ambiental interna) – Promove a qualidade ambiental interna do ar, essencial para ambientes com alta permanência de pessoas, com foco na escolha de materiais com baixa emissão de compostos orgânicos voláteis, controlabilidade de sistemas, conforto térmico e priorização de espaços com vista externa e luz natural.

Innovation in design or innovation in operations (Inovação e Processos) – Incentiva a busca de conhecimento sobre Green Buildings, assim como, a criação de medidas projetuais não descritas nas categorias do LEED. Pontos de desempenho exemplar estão habilitados para esta categoria.

Regional priority credits (Créditos de Prioridade Regional) – Incentiva os créditos definidos como prioridade regional para cada país, de acordo com as diferenças ambientais, sociais e econômicas existentes em cada local.. Quatro pontos estão disponíveis para esta categoria.

Níveis de certificação

-Certified (40-49 créditos)
-Silver (50-59 créditos)
-Gold (60-79 créditos)
-Platinum  (80 + créditos)

Vantagens:

  • Diminuição dos custos operacionais
  • Diminuição dos riscos regulatórios
  • Valorização do imóvel para revenda ou arrendamento
  • Aumento na velocidade de ocupação
  • Aumento da retenção
  • Modernização e menor obsolescência da edificação
  • Melhora na segurança e priorização da saúde dos trabalhadores e ocupantes
  • Inclusão social e aumento do senso de comunidade
  • Capacitação profissional
  • Conscientização de trabalhadores e usuários
  • Aumento da produtividade do funcionário; melhora na recuperação de pacientes (em Hospitais); melhora no desempenho de alunos (em Escolas); aumento no ímpeto de compra de consumidores (em Comércios).
  • Aumento da satisfação e bem estar dos usuários
  • Estímulo a políticas públicas de fomento a Construção Sustentável
  • Uso racional e redução da extração dos recursos naturais
  • Redução do consumo de água e energia
  • Mitigação dos efeitos das mudanças climáticas
  • Uso de materiais e tecnologias de baixo impacto ambiental
  • Redução, tratamento e reuso dos resíduos da construção e operação.

Para saber o passo a passo de como conseguir uma certificação Leed, acesse o site da GBC Brasil.

6. Certificação AQUA-HQE | Alta Qualidade Ambiental

O Processo AQUA-HQE é uma certificação internacional da construção sustentável desenvolvida a partir da certificação francesa Démarche HQE (Haute Qualité Environmentale) e aplicada no Brasil desde 2008 pela Fundação Vanzolini.

Mantendo a base conceitual francesa, a certificação brasileira foi adaptada para a realidade de normas e práticas do país. O Processo AQUA é um Processo de Gestão Total do Projeto para obter a Alta Qualidade Ambiental do Empreendimento de Construção.

A certificação é concedida com base em auditorias presenciais independentes e para obtê-la  o empreendedor da construção deve estabelecer o controle total do projeto em todas as suas fases:

-Programa;
-Concepção (Projeto);
-Realização (Obra);
-Operação (Uso).

A avaliação da Qualidade Ambiental do Edifício é feita em 14 categorias de preocupação ambiental e as classifica nos níveis BASE, BOAS PRATICAS ou MELHORES PRATICAS, conforme perfil ambiental definido pelo empreendedor na fase pré-projeto.

Para um empreendimento ser certificado AQUA-HQE, o empreendedor deve alcançar no mínimo um perfil de desempenho com 3 categorias no nível MELHORES PRATICAS, 4 categorias no nível BOAS PRATICAS e 7 categorias no nível BASE.  A certificação é concedida ao final de cada fase, mediante verificação de atendimento ao Referencial Técnico.

Vantagens:

  • Comprovar a Alta Qualidade Ambiental das suas construções
  • Diferenciar portfólio no mercado
  • Aumentar a velocidade de vendas ou locação
  • Manter o valor do seu patrimônio ao longo do tempo
  • Associar a imagem da empresa à Alta Qualidade Ambiental
  • Melhorar o relacionamento com órgãos ambientais e comunidades
  • Ter um reconhecimento internacional
  • Economia direta no consumo de água e de energia elétrica
  • Menores despesas condominiais gerais –água, energia, limpeza, conservação e manutenção
  • Melhores condições de conforto e saúde
  • Consciência de sua contribuição para o desenvolvimento sustentável e a sobrevivência no planeta

Para saber como conseguir o certificado para o seu empreendimento, veja aqui.

7. Selo Procel Edifica

O Programa Nacional de Eficiência Energética em Edificações – Procel Edifica – foi instituído em 2003 pela Eletrobras/Procel e atua de forma conjunta com o Ministérios de Minas e Energia, o Ministério das Cidades, as universidades, os centros de pesquisa e entidades das áreas governamental, tecnológica, econômica e de desenvolvimento, além do setor da construção civil.

A criação do Programa  incentiva a conservação e o uso eficiente dos recursos naturais (água, luz, ventilação etc.) nas edificações, reduzindo os desperdícios e os impactos sobre o meio ambiente.

O consumo de energia elétrica nas edificações corresponde a cerca de 45% do consumo faturado no país. Estima-se um potencial de redução deste consumo em 50% para novas edificações e de 30% para aquelas que promoverem reformas que contemplem os conceitos de eficiência energética em edificações.

O Selo Procel Edificações, estabelecido em novembro de 2014, é um instrumento de adesão voluntária que tem por objetivo principal identificar as edificações que apresentem as melhores classificações de eficiência energética em uma dada categoria.

Para obter o Selo Procel Edificações, recomenda-se que a edificação seja concebida de forma eficiente desde a etapa de projeto, ocasião em que é possível obter melhores resultados com menores investimentos, podendo chegar a 50% de economia. A metodologia de avaliação varia de acordo com o tipo de eficiação (se comercial, residencial, etc). Outras informações você vê no site oficial.

Em geral, nos edifícios comerciais, de serviços e públicos são avaliados três sistemas: envoltória, iluminação e condicionamento de ar. Nas unidades habitacionais são avaliados: a envoltória e o sistema de aquecimento de água.

A Etiqueta Nacional de Conservação de Energia, que vai de E (pouco eficiente) até A (muito efciente) é concedida em duas etapas: na etapa de projeto e depois de construído o empreendimento.

Os Selos são emitidos pela Eletrobras após a avaliação realizada por um Organismo de Inspeção Acreditado (OIA) pelo Inmetro, com escopo de Eficiência Energética em Edificações – OIA-EEE. Veja a lista com todos os Organismos Acreditados aqui.

Baixe o documento para ver a lista dos laboratórios financiados e capacitados pela Eletrobras que possuem consultores especialistas em Eficiência Energética em Edificações para conferir o o Selo de Eficiência Procel.

Vantagens:
A etiquetagem possibilita o conhecimento do nível de eficiência energética das edificações. Para os consumidores, a etiquetagem torna-se uma ferramenta importante na tomada de
decisão quando da compra de um imóvel, permitindo comparar os níveis de eficiência
entre uma edificação e outra. Além disso, edificações mais eficientes promovem a
redução do consumo de energia elétrica, gerando economia na fatura de energia durante
toda a vida útil do empreendimento.

8. FSC Brasil

FSC (Forest Stewardship Council) é uma organização independente, não governamental, sem fins lucrativos, criada para promover o manejo florestal responsável ao redor do mundo.

O conceito da certificação FSC surgiu para incentivar a compra de materiais e produtos à base de madeira proveniente de manejo responsável das florestas. Hoje, a instituição é uma das que mais tem credibilidade quando se trata de certificar a procedência sustentável de produtos madeireiros e não madeireiros originados do bom manejo florestal.

Vale a pena atentar para o selo quando procurar por materiais para utilizar na sua construção.
Atualmente existem três modalidades de certificação:

  • Manejo florestal
  • Cadeia de custódia
  • Madeira controlada

E então, você já utiliza algum destes selos de sustentabilidade na sua obra?