Como os Smartcontracts e a Blockchain estão transformando a construção

Alonso Mazini Soler

Escrito por Alonso Mazini Soler

16 de maio 2018| 8 min. de leitura

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Satoshi Nakamoto é uma entidade virtual. Um Cyberpunk cuja privacidade é protegida por criptografia até então não desvendada. Ninguém sabe realmente se Satoshi Nakamoto existe como pessoa ou o que ele é.
O que se sabe ao certo, é que em 2008 Satoshi Nakamoto assinou um artigo na internet chamado “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”. Desde então, vem causando uma disruptura sem precedentes nas relações de trocas entre indivíduos. Isso por meio da criação da criptomoeda Bitcoin e da plataforma tecnológica sobre a qual são processadas suas transações, denominada Blockchain.

O que é Blockchain?

De modo simplificado e não técnico, a Blockchain é a estrutura de dados concebida para serem processadas as transações realizadas com o Bitcoin na internet. Isso garante transparência, imutabilidade, rastreabilidade e segurança aos registros realizados.
É tamanha a sensação da “cyber segurança” proporcionada pela Blockchain que as pessoas se sentem confortáveis em transacionar e entregar ativos, assim como vender produtos e serviços pela internet, por meio da criptomoeda. Mesmo estando à distância e sem contato físico ou conhecimento mútuo entre das partes envolvidas.
Essa confiança na segurança das operações tem proporcionado a perspectiva da extensão ampla das aplicações da Blockchain para além das fronteiras das transações monetárias com o Bitcoin. Logo, incluindo aí, a confiança no processamento de eleições nacionais.

O que são os Smartcontracts?

Um apêndice valoroso que acabou se valendo da “cyber segurança” proporcionada pela Blockchain são os Smartcontracts. Contratos inteligentes ou contratos digitais.
Estes são programas de computador auto executáveis capazes de automatizar rotinas burocráticas simples. São processadas dentro da plataforma da Blockchain sem a interferência humana. Potencializa, assim, a credibilidade e a confiança no cumprimento do objeto e das condições do contrato pelas partes.
Como ilustração, imagine que você adquire um aplicativo para o seu smartphone. Daí decide pelo pagamento parcelado. Caso você fique inadimplente, pode acontecer do programa disparar um comando de bloqueio do aplicativo, automaticamente, em cumprimento das cláusulas contratuais acordadas.
Ou, ainda, imagine que você é pego por excesso de velocidade por um radar inteligente que fotografa a sua placa. Mais que isso, levanta seus dados e, imediatamente, envia um documento bancário de multa para sua residência.
Percebam que em ambos os casos, a atuação de um programa de computador. Este, de forma automática e autônoma, tomou as decisões cabíveis de execução de um “pseudo contrato” digital. O primeiro relativo à aquisição de um serviço, o segundo relativo ao cumprimento de uma lei.

Smartcontracts e Blockchain na construção

No segmento da construção, os Smartcontracts operando sob a plataforma Blockchain, encontram infinitas possibilidades de aplicações. Estas servem de solução para problemas atuais de ineficiência e potencializam a lisura das operações.
Obviamente, o fundamento básico dessas possibilidades advém da introdução de inovações tecnológicas no ambiente da construção, vide “A (R)Evolução das Construtechs”.
Como ilustração, tal como na operação das multas de trânsito por um radar inteligente, podemos conceber um Smartcontract entre um prestador de serviços e seu cliente. Processo operacionalizado através de sensores inteligentes móveis instalados próximos ao local da obra.
Este se encarregaria de enviar sinais da evolução física e do controle tecnológico (qualidade) para o modelador 3D. O modelador, automaticamente e a distância, avaliaria a conclusão e o ritmo da obra. Assim, processaria a liberação de medições e o pagamento ao prestador de serviços.
Tudo sem a interferência humana e a necessidade da presença física da fiscalização. O tráfego dos dados seria feito através da Blockchain. Ou seja, garantindo a transparência, a eficiência e a rastreabilidade da transação. Mais que isso, minimizando indisposições entre as partes, pleitos e litígios judiciais.

Possibilidades para os Smartcontracts na construção

Nessa mesma linha, podemos conceber ainda os Smartcontracts em outras operações. Tais como, dentre outros:

  • Recebimento, retirada e controle de estoque de materiais e ferramentas nos canteiros;
  • Controle de quantidades e produtividade de efetivos de mão de obra disponibilizados pelos prestadores de serviços.
  • Controles tecnológicos;
  • Registro e controle de condições ambientais impactando no ritmo e produtividade do avanço físico.

Enfim, toda e qualquer transação operacional simples que, atualmente, vem sendo realizada por indivíduos passíveis de interpretações subjetivas, erros e ilícitos. Operações como estas poderiam ser substituídas por operações automáticas, transparentes, públicas, rastreáveis, seguras e confiáveis. Sempre realizadas através da Blockchain.

Impactos dos Smartcontracts na construção

Certamente, se o leitor deixar fluir a sua imaginação na linha dos exemplos mencionados acima, fatalmente chegará à seguinte conclusão: os Smartcontracts mudarão dramaticamente os papeis ocupados pelos agentes de fiscalização e de gestão das obras.
Assim como tendem a abafar, no nascedouro, as supostas vantagens das certificações acreditadas de obras. Estas, atualmente em discussão, introduzem novos “cartórios” burocráticos aos contratos de construção.
Soma-se a isso as perspectivas de eficiência na operação das obras, com ganhos na redução de custos e despesas, qualidade e celeridade das entregas. Com impactos positivos para a geração de empregos, renda e os cuidados ambientais.

Que venha o futuro. Vida longa aos Smartcontracts e à Blockchain!

Podemos concluir que as inovações tecnológicas introduzidas pelas Construtechs, os Smartcontracts e a Blockchain prometem mudar abruptamente o cenário e as relações contratuais da construção. O futuro é uma folha em branco a ser desenhada e tudo ainda está no chão.
Logo, no que tange às obras públicas, o contribuinte aguarda com alento a chegada desse futuro. A esperança é poder usufruir efetivamente dos serviços prestados pelas edificações e pela infraestrutura disponibilizada. Mais que isso, com a sensação de eficiência e lisura no trato dos recursos que lhe pertencem.
Alonso Mazini Soler, Doutor em Engenharia de Produção POLI/USP, Professor da Pós Graduação do Insper e da Plataforma LIT Saint Paul. Sócio da Schédio Engenharia Consultiva – alonso.soler@schedio.com.br

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O evento contará com a presença do sócio-diretor da Schédio Engenharia Consultiva, Alonso Mazini Soler.
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