Quanto vale a sua hora e a minha

Aldo Dórea Mattos

Escrito por Aldo Dórea Mattos

23 de setembro 2022| 6 min. de leitura

Compartilhe

Quanto vale a sua hora e a minha?
Muita gente me consulta sobre que preço cobrar para realizar um serviço técnico de engenharia. Não me refiro a preço de serviço como escavação ou concreto, mas a honorários para orçar uma obra, fazer uma proposta técnica para uma construtora participar de uma licitação, planejar e acompanhar a execução de um empreendimento, etc.
Minha resposta é sempre a mais evasiva possível: DEPENDE. Eu sempre respondo isso porque preço é diferente de valor. Vou dividir o raciocínio em serviços “correntes” e serviços “especializados”, embora ambos demandem um mínimo de “especialização”.
Abaixo, apresento algumas fontes de honorários — SINAENCO, IAB, IBAPE, CREA — e ao final dou umas dicas de como VOCÊ deve precificar sua hora.

1. SINAENCO

O SINAENCO é o Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva. Em 2011, o SINAENCO publicou o bastante prático documento Roteiro de Preços – Orientação para Composição de Preços de Estudos e Projetos de Arquitetura e Engenharia.
Num dos anexos desse Roteiro de Preços, há uma tabela em que o profissional pode sumarizar seus custos, incluindo carro, colaboradores e outras despesas. Se o serviço vier a ser prestado por uma pessoa apenas, é óbvio que a planilha se simplifica muito.

O mais interessante desse Roteiro de Preços é o ábaco que mostra o percentual que o PROJETO representa no CUSTO TOTAL da obra. Por exemplo: numa obra residencial de cerca de U$$100.000,00, o custo do projeto ficaria na faixa dos 9%.

O leitor entende por que quanto menor o porte da obra, maior o percentual do custo do projeto?

2. IAB

O IAB é o Instituto de Arquitetos do Brasil. O documento Tabelas de Honorários de Serviços de Arquitetura e Urbanismo mostra um roteiro (meio complicadinho, é verdade) para se chegar ao custo. Se você é arquiteto, ótimo. Se você é engenheiro, essa metodologia também pode ser aplicada, logicamente com alguns ajustes de terminologia.

3. IBAPE

O IBAPE é o Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias. O IBAPE-SP editou o documento chamado Regulamento de Honorários para Avaliações e Perícias de Engenharia. Embora seja voltado para o mundo das perícias e avaliações, pode servir de base.
Por se tratar de um público de peritos, que são especialistas de comprovada experiência, a hora mínima preconizada é de R$400,00. Se você for ainda estiver em início de carreira, seu cliente vai dar um pulo.

4. CREA

O CREA, você sabe o que é, não?  É a sigla para Conselho Regional de Engenharia e Agronomia. Você pode dar uma olhada na tabela de honorários do CREA da sua região e ver se faz sentido para seu trabalho CREA-BA.

5. Aplique a fórmula

Existe uma diferença entre o custo da hora de um engenheiro efetivado numa empresa e a hora desse mesmo engenheiro se estivesse fazendo um trabalho pontual e específico.

Mas a coisa vai além disso. O serviço “tabelado” é diferente de um serviço especial. No tabelado o engenheiro pode embasar sua proposta com as fontes sugeridas. 

Para serviços mais especializados, com profissionais experientes, o tabelamento adquire contornos mais nublados. É preciso levar em conta outros fatores. Uma dica é: convença seu cliente com a comparação de quanto custaria a ele contratar um profissional “assinando a carteira”. 

Suponha que sua proposta é R$5.000,00 por mês para gerenciar a construção de uma clínica, indo lá um turno por dia. Seu cliente são os donos da clínica, que acharam cara a pedida. 

A persuasão via por essa linha: “se você contratar um engenheiro “CLT”, ele iria custar R$8.000,00 mais 80% de encargos, o que dá R$14.400,00; meu preço é mais baixo”. 

A precificação que sugerimos aqui leva em conta cinco fatores. Confira a fórmula e os indicadores abaixo:

TARIFA – HORA x K1 x K2 x K3 x K4

  • Hora-base: você pode estipular com base na CNTP;
  • K1 – complexidade. Eu consigo fazer com o material que já tenho pronto? Consigo aproveitar partes de outros trabalhos de consultoria, ou é algo completamente distinto, que envolve pesquisa e vou quebrar a cabeça? Uma sugestão de K1 varia de 1,00 a 1,20;
  • K2 – urgência. Tem clientes que pedem urgência. Querem um parecer, uma análise, um relatório “para ontem”. Você vai ter que parar tudo para atender à demanda? Vai ter que desmarcar compromissos profissionais e familiares? Como sugestão o K2 varia de 1,00 a 1,25;
  • K3 – equipe. Alguns clientes acham que você faz tudo sozinho, mas às vezes você pode precisar de um orçamentista, um cadista, um planejador de Primavera,  um advogado especializado em contratos, etc. Como sugestão, o K3 varia de 1,00 a 1,50;
  • K4 – aporrinhação. Este último multiplicador é secreto, mas ele se aplica ao grau de chatice do cliente. Liga à noite e fim de semana? Quer te ver a cada dois dias? Faz audioconferências toda hora? Fica dando pitaco no trabalho? E, a pior parte, paga a fatura com quantos dias? 

Valorize seu trabalho, porque uma formação e conhecimento de qualidade levam anos para serem obtidos. Essa é uma sugestão para calcular o preço da sua hora como engenheiro. Você pode adotar outras fórmulas de cálculo, mas não deixe de se valorizar!