Mapa de Risco na construção: entenda o que é e como funciona

Gustavo Prata

Escrito por Gustavo Prata

27 de novembro 2023| 12 min. de leitura

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Mapa de Risco na construção: entenda o que é e como funciona

Você sabe o que é um Mapa de Risco? Essa ferramenta visual vem sendo utilizada há muitos anos pelas construtoras para comunicar aos trabalhadores os principais riscos de natureza física, química, biológica e ergonômica, além dos riscos de acidentes em um canteiro de obras.

Embora, desde 2022, as construtoras não sejam mais obrigadas a adotá-los como meio de informação sobre riscos no ambiente de trabalho – uma das novidades introduzidas pela NR 5 atualizada, que trata do tema –, continua sendo muito importante conhecer a ferramenta saber em que situações seu uso continua sendo recomendável.

Isso porque o mapa de risco é mais do que uma representação gráfica: é o resultado de uma reflexão ativa dos trabalhadores sobre os perigos existentes no local de trabalho. Para contribuir com sua elaboração, ele precisará pensar sobre questões importantes relativas à segurança no canteiro de obras.

Juntamente com outras iniciativas, como o Diálogo Diário de Segurança (DDS), os mapas de risco ajudam a reduzir o número de acidentes de trabalho no setor, que segundo levantamento da Câmara Brasileira da Construção Civil, ocupa a sexta posição em comparação com outros setores da economia brasileira.

Veja a seguir um conteúdo completo e atualizado que preparamos sobre o assunto.

O que é um Mapa de Risco?

O propósito principal do Mapa de Risco na Construção Civil é proteger o trabalhador e garantir a segurança do trabalho no canteiro de obras.

Um Mapa de Risco apresenta, em uma planta ou esboço do espaço de trabalho, a localização e a natureza dos fatores que possam comprometer a saúde ou a integridade física dos trabalhadores dentro do ambiente laboral.

Esses elementos são indicados com círculos de diferentes cores – que representam o tipo de risco – e tamanhos – que representam o grau de risco.

Estes fatores relacionados podem estar ligados a processos de trabalho, equipamentos demandados e até mesmo questões organizacionais, como métodos, jornada, treinamento, turnos, entre outros aspectos analisados.

Quem inventou o mapa de risco?

O Mapa de Risco foi criado na década de 1960 por engenheiros italianos. No entanto, levou algum tempo de validação até que se tornasse um instrumento amplamente utilizado para garantir a segurança dos trabalhos na Construção Civil.

No Brasil, o mapa só começou a ser aplicado nas empresas por volta dos últimos anos da década de 1970, quando o país passou por um momento de aceleração industrial e, consequentemente, registrou alta no número de acidentes de trabalho.

O que significam as cores nos mapas de riscos?

Os agentes diagnosticados pelo estudo do Mapa de Risco são classificados em grupos de diferentes cores, da seguinte maneira:

CorCategoria
verdeGrupo 1 – Riscos Físicos

Riscos relacionados a ruído, vibração, frio, calor, radiação ionizante e não ionizante, pressão do ar e umidade.

vermelhoGrupo 2 – Riscos Químicos

Agentes de risco químico estão relacionados a poeira, neblina, névoas, gases, vapores, produtos químicos, fumos, substâncias composta que possam ser inaladas.

marromGrupo 3 – Riscos Biológicos

Por agentes biológicos pode-se considerar fungos, protozoários, vírus, bactérias, parasitas, bacilos, entre outros, que podem causar danos à saúde desde infecção alimentar até tuberculose.

amareloGrupo 4 – Riscos ergonômicos

Os riscos ergonômicos são mais relacionados à organização do trabalho. Entre os agentes de risco, pode-se destacar o esforço físico excessivo, ritmo exacerbado, turno noturno, longas jornadas de trabalho, levantamento de peso.

azulGrupo 5 – Riscos de Acidentes

Podem ser considerados agentes de riscos de acidentes as máquinas sem proteção, instalações elétricas debilitadas, ferramentas com defeito, falta de especificação adequada na matéria prima, armazenamento inadequado, falta de EPI, ou EPI inadequado.

O Mapa de Risco é obrigatório?

As construtoras não são mais obrigadas a elaborar e adotar os mapas de risco nos canteiros de obra.

Seu uso tornou-se obrigatório no Brasil na década de 1990, com multas altíssimas para quem descumprisse as regulamentações, mas deixou de ser exigido em 2022, a partir da vigência do novo texto da Norma Regulamentadora nº5 (NR5) – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio (CIPA).

O assunto era tratado no item que abordava as atribuições da Cipa. Veja a diferença dos textos:

Antes de 2022Depois de 2022
“5.16 A CIPA terá por atribuição: (…) identificar os riscos do processo de trabalho, e elaborar o mapa de riscos, com a participação do maior número de trabalhadores, com assessoria do SESMT, onde houver”“5.3.1 A CIPA tem por atribuição: (…) registrar a percepção dos riscos dos trabalhadores (….) por
meio do mapa de risco ou outra técnica ou ferramenta apropriada à sua escolha, sem ordem de preferência, com assessoria do Serviço Especializado em Segurança e em Medicina do Trabalho – SESMT, onde houver”

Em outras palavras, se desejar, a construtora pode utilizar ferramentas alternativas e apropriadas para identificação e comunicação de riscos no ambiente de trabalho. Veja algumas delas:

  • Cartazes informativos;
  • Sinalização de segurança;
  • Banners de segurança;
  • Inventário de riscos;
  • Monitores com imagens e vídeos informativos etc.

Como fazer o mapa de risco?

Quando se decide por elaborar o mapa de risco, ele pode ser feito pela CIPA, em conjunto com o Serviço Especializado em Engenharia e Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) da construtora.

O instrumento deve ser elaborado seguindo uma sequência de etapas e cuidados para que se torne eficaz na redução dos acidentes de trabalho no canteiro de obras.

Hora de pôr a mão na massa. Em primeiro lugar, é preciso saber por onde começar a elaborar seu Mapa de Risco. Para facilitar, a empresa pode estruturar a elaboração de acordo com os seguintes passos:

  1. Estudo dos tipos de risco: a equipe responsável pelo desenvolvimento do Mapa de Risco deve ter notório conhecimento cinco grupos de agentes de risco que podem comprometer a segurança do trabalho no empreendimento.
  2. Divisão dos setores: dividir a empresa por setores e pavimentos significa segmentar o objeto de estudo da equipe responsável pela elaboração do Mapa de Risco. A setorização facilita o diagnóstico de agentes de risco no ambiente de trabalho.
  3. Levantamento de informações para diagnóstico: há algumas maneiras eficientes de reunir informações para elaboração de um Mapa de Risco. A equipe responsável pela elaboração da Mapa de Risco pode, por exemplo, visitar cada área a ser mapeada, entrevistar colaboradores e anotar suas impressões sobre o local de trabalho, estimulando sua participação no aperfeiçoamento das condições laborais na organização.
  4. Conhecer o processo de trabalho: é preciso que a equipe responsável pelo Mapa de Risco conheça a rotina do colaborador. Para isso, é importante reunir informações a respeito de quem atua no canteiro de obras e por qual processo cada colaborador ingressa na empresa. Neste caso, são indispensáveis informações como: quantidade de colaboradores, sexo, idade, treinamentos oferecidos, jornadas de trabalho, ferramentas, equipamentos, condições do ambiente, entre outros aspectos.
  5. Diagnosticar e especificar riscos: a partir disso, a equipe pode começar a diagnosticar os agentes comprometedores da segurança e da saúde no trabalho que constarão no Mapa de Risco. Em um primeiro momento, é mais importante identificar estes agentes. Posteriormente, a equipe deve apresentar um estudo mais específico, determinando o grau referente a cada um deles.
  6. Determinar medidas para prevenção: a próxima etapa na elaboração do Mapa de Risco é definir medidas que possam prevenir acidentes relacionados aos agentes de riscos identificados anteriormente.
  7. Elaboração: o Mapa de Risco deve conter, para cada setor, um gráfico com círculos coloridos referentes a cada tipo de risco e seu grau de periculosidade. De preferência, o Mapa de Risco deve ser feito a partir da planta da área. No entanto, no caso de ausência do projeto arquitetônico, pode ser feito um croqui do local.
  8. Aprovação: após a elaboração, o Mapa de Risco deve ser apresentado à CIPA para sua aprovação e assinatura. É recomendado que o Mapa de Risco seja apresentado também aos representantes de cada um dos setores avaliados no mapeamento.

Quando adotar o mapa de risco?

O Mapa de Risco, embora não seja mais uma obrigatoriedade segundo a NR 5, ainda pode ser altamente recomendável em diversas situações no canteiro de obras. Essa ferramenta de gestão de segurança pode ser particularmente útil em cenários como:

  • Obras complexas: Em projetos de construção grandes e complexos, onde múltiplas atividades são realizadas simultaneamente e envolvem diversos riscos, o Mapa de Risco pode ajudar a identificar e comunicar estes riscos de forma eficaz.
  • Trabalho com materiais perigosos: Obras que envolvem o manuseio de materiais tóxicos, inflamáveis ou explosivos se beneficiam da elaboração de um Mapa de Risco para garantir a segurança e o cumprimento de normas específicas.
  • Novos processos ou tecnologias: Quando são introduzidos novos processos, equipamentos ou tecnologias, o Mapa de Risco ajuda a avaliar potenciais perigos desconhecidos ou subestimados.
  • Mudanças significativas no projeto: Alterações significativas no projeto de construção, como mudanças na arquitetura ou em frentes de trabalho, podem introduzir novos riscos, tornando a elaboração de um novo Mapa de Risco uma medida prudente.

Conclusão

O Mapa de Risco, embora não seja mais uma exigência regulatória desde a atualização da NR 5, em 2022, continua a ser uma ferramenta extremamente valiosa para a gestão da segurança nas obras.

Sua capacidade de visualizar e comunicar efetivamente os riscos existentes torna-o fundamental, especialmente em contextos de alta complexidade, uso de materiais perigosos, introdução de novas tecnologias ou processos, e mudanças significativas em projetos de construção.

A adoção e implementação de Mapas de Risco, junto com outras iniciativas de segurança, como o Diálogo Diário de Segurança (DDS), são um compromisso das construtoras para melhorar a gestão de riscos nos canteiros e, consequentemente, a segurança para os trabalhadores.