Mão de obra estrangeira: uma bela experiência com imigrantes de Gana

Luiz Henrique Ceotto

Escrito por Luiz Henrique Ceotto

25 de fevereiro 2017| 5 min. de leitura

Compartilhe

Estávamos com diversos problemas de qualidade no assentamento de porcelanatos, nos pisos e paredes, na nossa obra AQWA no Rio. Os porcelanatos apresentavam empenamentos que reduziam substancialmente a produtividade além de dificultar muito a obtenção da qualidade.
Os operários brasileiros refugavam o serviço e mesmo quando aceitavam por valores muito altos a produtividade era baixíssima e logo abandonavam o trabalho. Chegamos a pensar em mudar o revestimento, mas todo o material estava comprado e a fabricante, ao afirmar que o porcelanato atendia a norma, se recusava a recebe-lo de volta.
Resolvemos fazer um esforço junto com a fabricante para encontrarmos um processo de assentamento que pudesse nos satisfazer. Usamos com isso uma quantidade enorme de paletas plásticas de nivelamento e atingimos a qualidade pretendida, mas a produtividade estava muito baixa e os operários refugavam o serviço. Não havia treinamento que os satisfizessem.
Decidimos por manter a especificação mesmo com baixa produtividade e alto custo pois não tínhamos mais tempo de trocar o material. Resolvemos aumentar muito a mão de obra de colocação de maneira a compensarmos a baixa produtividade e tentarmos não comprometermos os prazos, mas o resultado estava sendo medíocre.
Num dado momento, como por um passe de mágica, os serviços aceleraram. A velocidade estava alta e a qualidade final excelente. Podia constatar isso nas minhas visitas semanais ao canteiro. Então eu comentei com nosso mestre de obras numa reunião:
– Quer dizer que os operários pegaram a mão no assentamento dos porcelanatos?
Eles então me responderam:
– Que nada “dotor”, conseguimos uma dupla de assentadores que são muito bons, “porretas” mesmo. E eles são imigrantes de Gana!!! Fazem o trabalho deles com três vezes a velocidade e capricho do que o restante da turma. Além disso trabalham todo o tempo sem conversar ou enrolar, não param para nada. São bons mesmo!!!

Mão de obra estrangeira

Logo quis conhece-los (foto) e fiquei muito motivado com a historia deles. Ao meu lado, da esquerda para a direita, Eric Akyirem e Isaac Akuure e nesse momento trabalham na empresa de serviços civis Pierre Cota. São da cidade de Accra, capital de Gana. Estão no Brasil há 4 anos e já falam razoavelmente bem o português. Vieram sozinhos em busca de uma vida melhor e agora estão juntando dinheiro para buscar sua família (mulher e filhos) e trabalham muito duro e focados nisso. Gostam muito do Brasil e sonham em abrir uma pequena empreiteira de obras civis no futuro. Mas agora a prioridade deles é buscar a família.
Perguntei a eles pelo que conheciam,  se o nível profissional deles era comum nos imigrantes africanos. Eles falaram que sim, que eram justamente os melhores que se sentiam em mais condições e se aventuravam a vir para terras desconhecidas.
Fiquei muito impressionado com tudo que ouvi e vi. Imigrantes pobres são discriminados e tem poucas chances por aqui. A maioria aceita trabalho quase escravo por desespero, principalmente na crise de mercado que estamos passando. Eu mesmo nunca pensei que poderia contar com essa força de trabalho e me senti envergonhado com tudo isso. Aqueles dois tem uma qualidade profissional muito acima dos nossos operários brasileiros.
Perguntei a eles se eles estavam ganhando na tarefa o mesmo que os brasileiros e eles me falaram que sim. Alias, no fim do mês ganhavam muito mais pois a quantidade produzida era muito maior e sem qualquer retrabalho.
Um tanto comovido, perguntei a eles o que poderia fazer para ajuda-los. Me responderam de pronto que precisavam de mais trabalho. O serviço do AQWA estava terminando e com a crise eles estavam preocupados em ficar sem serviço. Falaram que aceitam trabalho em qualquer lugar do Brasil, e que precisavam muito trabalhar e se eu poderia indicar eles para meus amigos.
Com esse artigo, estou tentando cumprir a minha promessa a eles. Uma ótima dupla de profissionais que seguramente podem servir de exemplo a todos nos brasileiros e que mudaram muito minha percepção sobre imigrantes. Convido vocês a fazerem o mesmo.
Caso algum amigo se interesse, segue seus telefones:
Eric: (21)98760-6422
Isaac: (21)96594-2550