Por que criar um programa de inovação tecnológica na construção?

Tomás Lima

Escrito por Tomás Lima

25 de outubro 2022| 18 min. de leitura

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Você já deve ter reparado que muitas empresas vêm investindo em programas de inovação tecnológica na construção.
Eu me refiro a dois tipos de inovação. Ou seja, àquelas iniciativas que visam o desenvolvimento de melhorias e transformações internas. Mas também às que procuram selecionar startups para incorporar a disruptura inerente a elas.
Você pode achar que essas ações são meras estratégias de marketing. Ou seja, que buscam associar o nome das empresas à inovação tecnológica na construção. Afinal, isso é algo muito valorizado atualmente para empresas e profissionais de engenharia civil.
É verdade que uma avaliação positiva das partes interessadas é um dos benefícios notados pelas empresas que desenvolvem programas de inovação tecnológica na construção. Mas certamente essa não é a principal razão que induz as companhias a dedicarem esforços humanos e financeiros em prol da inovação.
Quer saber mais sobre isso? Continue conosco:

O que é inovação tecnológica na construção?

A inovação é um dos assuntos mais comentados no mundo empresarial. Os especialistas afirmam que a tecnologia pode garantir a perenidade e a sustentabilidade das empresas.

Só que muitas vezes, a ideia de inovar fica limitada àquilo que é feito por meio de soluções revolucionárias e a ideias geniais que envolvem pesquisa pesada e o registro de patentes.

Na verdade, a inovação vai além da criação de tecnologias sofisticadas. Inclui também adaptações relativamente simples e o incremento criativo de processos e rotinas já existentes nos escritórios ou nos canteiros de obra.

É possível ter inovação em métodos de gestão, em arranjo de escritório, em operação de canteiro de obras e até no relacionamento pessoal numa construtora”, cita o engenheiro especializado em custos e planejamento e colunista do Buildin, Aldo Dórea Mattos.

Inovar consiste em um processo de implementação de novas ideias, visando gerar valor para uma organização.

Ou seja, é como se disséssemos que o que gostaríamos de saber é como a inovação tecnológica na construção pode aumentar o faturamento, dar acesso a novos mercados, aumentar as margens de lucro, reduzir o tempo de construção etc.

inovação tecnológica na construção

O design thinking é uma das metodologias que pode ser usada para desenvolver e implementar inovação tecnológica na construção civil.

Por que inovar?

A inovação nas empresas da construção geralmente se dedicam a:

  • Melhorar o comportamento em uso da edificação para o usuário pela ótica de requisitos de desempenho;
  • Incrementar o processo produtivo;
  • Melhorar processos internos. Em geral, essas inovações provém da implantação de softwares e de novos arranjos de trabalho;
  • Melhorar a promoção do produto e sua colocação no mercado. São as inovações de marketing.

Afina, a construção é um setor propício a diferentes tipos de inovação. Além de, em muitos casos, reduzir custos, a inovação na construção civil pode ajudar seu negócio de diversas maneiras.

Tipos de inovação tecnológica na construção

Os programas corporativos de inovação tecnológica na construção podem ser voltados ao desenvolvimento de processos inovadores internos. Nesse caso, a empresa pode controlar todo o processo de inovação. Em contrapartida, precisa despender mais recursos em pesquisa e desenvolvimento.
Um exemplo de como isso é possível vem da Rôgga Empreendimentos Imobiliários, de Santa Catarina. A empresa tem um case interessante de inovação associada à sustentabilidade. É o que conta o gerente de inovação da empresa, Gerson Castanho.
As empresas podem, também, investir em startups, via programas de inovação aberta. Tal modelo é conhecido como corporate venture. Nele, a empresa busca parceiros, tecnologias e recursos no ambiente externo para criar sinergia com seus projetos de inovação. Com isso, ganha-se cada vez mais velocidade e diminui-se o custo de desenvolvimento.

Para a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), as inovações aplicáveis à construção civil se distinguem em quatro grupos:

  1. Inovações que melhoram o comportamento em uso da edificação para o usuário pela ótica de requisitos de desempenho (térmico, estrutural, impacto ambiental etc.);
  2. Inovações que afetam o processo produtivo. Decorrem de materiais, componentes ou subsistemas construtivos que revolucionam ou produzem mudanças incrementais no processo de produção;
  3. Inovações que impactam os processos internos das empresas ligados não só ao produto, mas aos processos administrativos. Em geral, essas inovações provém da implantação de softwares e de novos arranjos de trabalho com fornecedores;
  4. Inovações que afetam a promoção do produto e sua colocação no mercado. São as inovações de marketing.

Diferentes formas de inovar

Há, por exemplo, a inovação de produto. É possível destacar também a inovação de processo. Esta não causa necessariamente impacto no produto final. Mas gera benefícios no processo de produção, como aumentos de produtividade e redução de custos.

A inovação de processos, aliás, é a que traz os resultados mais rápidos para as empresas, engenheiros e arquitetos.

Há, ainda, a inovação de modelo de negócios, que consiste em mudanças na forma como um produto ou serviço é oferecido ao mercado.

A inovação pode ser classificada ainda, em função do seu impacto. Nesse caso, ela pode ser de dois tipos:

  • Incremental – Reflete pequenas melhorias contínuas em produtos ou em linhas de produtos
  • Radical – Supõe uma mudança drástica na forma como o produto ou serviço é consumido

“Inovações radicais provocam grandes mudanças no mundo, enquanto inovações incrementais preenchem continuamente o processo de mudança”, dizia o economista Joseph Schumpeter. Ele foi um dos primeiros a considerar as inovações tecnológicas como um motor do desenvolvimento capitalista.

Tendências no setor

Na construção civil, é crescente o interesse pela inovação aberta promovida por programas de aceleração de construtechs e proptechs.
Um indicador disso é a ampla lista de programas recém-lançados com oportunidades interessantes para empresas em diferentes estágios de maturação. 
Esse tipo de programa é feito em parceria com consultorias especializadas em conectar empresas a startups. Eles costumam ser compostos por processo de seleção e oferta de monitoria. As empresas disponibilizam a estrutura e também sua rede de contatos. Em alguns casos, há aporte financeiro.
De acordo com levantamento da Construtech Ventures realizado por meio da base de dados do Crunchbase, mais de US$ 8,3 bilhões foram investidos em construtechs de todo o mundo somente em 2018.

A realidade brasileira

O Brasil tem um longo caminho a percorrer se quiser estar entre as nações mais inovadoras do mundo.

Somos apenas o 57º em uma lista de 63 países pesquisados pelo Índice Global de Inovação desenvolvido pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual, em parceria com a Cornell University (EUA), o Insead (França) e o GH Knowledge Partners. No topo da lista estão economias como Suíça, Holanda, Suécia, Reino Unido, Cingapura, Estados Unidos, Finlândia, Dinamarca, Alemanha e Irlanda.

A construção pode ajudar o Brasil a superar esse déficit. Como? Primeiro porque se trata de um dos setores mais importantes para a economia, responsável por quase 8% do PIB brasileiro. Depois porque estamos falando de uma indústria cada vez mais pressionada para produzir com mais qualidade, sustentabilidade e menores margens de lucro.

Há de se destacar, ainda, a multiplicação das startups de tecnologia para a construção com capacidade para influenciar as práticas do mercado nos próximos anos, como destaca o professor Alonso Soler. Uma série de iniciativas setoriais já nos mostram que o setor, ou parte dele, está engajado rumo à maior inovação.

Como criar um programa de inovação tecnológica na construção?

Seja qual for o modelo de inovação tecnológica na construção escolhido, o primeiro passo para se ter sucesso é garantir que isso seja algo estratégico para a organização. Ou seja, que auxilie a empresa a alcançar melhores níveis de desempenho, por exemplo.
Além disso, é fundamental que essa decisão estratégica seja bem comunicada para toda a organização.
Também é imprescindível a criação de um comitê de inovação responsável pela aprovação de ideias mais complexas.
Além disso, é preciso identificar as reais necessidades da empresa. A inovação pode, por exemplo, ser uma política permanente da empresa. Ou, então, ser apenas uma ação para atender a uma demanda específica.

Inovação rápida e incremental

Para as empresas da construção civil, Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo e inovação do Insper, FIA, Fundação Vanzolini e Instituto Butantan, dá uma dica importante:
“As empresas têm dificuldade em inovar, porque buscam por inovações disruptivas. Só que isso envolve muito mais risco. É melhor começar por inovações mais simples e incrementais”, afirma.
Isso significa pensar em soluções que tragam retorno rapidamente. Ou seja, capazes de proporcionar redução de custo e aumento de produtividade num primeiro momento. Dessa maneira, fica mais fácil mostrar à empresa que isso traz retorno. A tecnologia pode, por exemplo reduzir o tempo de construção ou o desperdício de materiais nos canteiro de obras.
Para Nakagawa, a aproximação com startups é uma alternativa interessante. Primeiro, porque facilita o acesso a inovações. Segundo, porque permite desenvolver uma cultura empreendedora inspirada nessas novas iniciativas.

Obstáculos à implantação de programas de inovação

Teoricamente, é óbvia a importância da inovação. No entanto, a prática pode ser mais complexa. Afinal, trabalhar sob novos conceitos e métodos ainda é desafiador para algumas empresas do setor de construção.
Até mesmo inovações relativamente antigas, como contrapiso autonivelante, por exemplo, ainda sofrem resistência em alguns canteiros de obra.
Vou listar para você cinco desafios à formatação de um programa de inovação tecnológica na construção:

  1. A seleção das startups que participarão do programa deve ser criteriosa e levar em conta o seu  estágio de desenvolvimento. O ideal é que ele seja compatível com as propostas no programa. Ou seja, se uma startup oferece dispositivos que monitoram a temperatura corporal, por exemplo, é preciso ponderar se isso faz sentido para sua obra.
  2. A propriedade intelectual deve ser cuidadosamente trabalhada. O potencial para a disputa sobre direitos intelectuais pode obstruir o desenvolvimento de inovações apresentadas por fontes externas.
  3. Um erro grave é achar que somente se aproximar de uma startup basta para a inovação acontecer. A corporação deve assimilar a cultura de inovação da startup. Mas muitas vezes, acontece o contrário e a startup acaba absorvendo a cultura da empresa. Uma empresa que faz impressão 3D de concreto, por exemplo, exige uma nova abordagem para o desenvolvimento de estruturas.
  4. O programa de inovação aberta deve contar com o respaldo de uma forte estrutura interna. Isso é imprescindível para a tomada de decisões rápidas.
  5. Por fim, é mais do que urgente derrubar as barreiras culturais. Para o consultor Luiz Henrique Ceotto, um problema é que as empresas da construção civil não conversam. “A cadeia de fornecedores precisa se falar, porque um tem que agregar valor para o outro. No Brasil, a interação entre o fornecedor e o cliente é uma relação de perde ganha. Só se discute preço e forma de pagamento”, alerta.

Saiba mais sobre termos relacionados à inovação

Antes de continuar a explanar sobre a importância de inovar, vamos abrir parênteses para explicar brevemente alguns termos que sempre aparecem quando o assunto é inovação tecnológica na construção:

  • Disrupção – Refere-se ao ato ou efeito de romper-se, quebra de um curso normal de um processo. O termo ganhou maior relevância com o professor de Harvard, Clayton Christensen. Ele passou a utilizá-lo para descrever inovações que geraram produtos ou serviços capazes de desestabilizar concorrentes que, até então, eram líderes em seus mercados. Exemplos de tecnologias disruptivas são o Youtube, as câmeras digitais, e o Airbnb.
  • Startups – Trata-se de uma empresa nova no mercado à procura de um modelo de negócios inovador, repetível e escalável, que trabalha em condições de extrema incerteza ao se propor fugir do status quo.
  • Construtechs – São tartups especializadas em resolver problemas da cadeia da construção.
  • Proptechs – São as startups que oferecem produtos tecnologicamente inovadores ou novos modelos de negócios para o mercado imobiliário.

Proptech, construtech, contech, retech, greentech, qual a diferença?

Estima-se que existam no Brasil mais de 350 startups dos setores de construção e imobiliário, segundo o mapa do Construtech Ventures.

Como isso vai ajudar o seu negócio?

Você está ansioso para saber por que deve apostar na inovação? Saiba que é possível inovar até mesmo na Engenharia de Custos e no Planejamento de obras. Então vamos a alguns pontos bem objetivos:

  • A inovação agrega valor aos produtos, diferenciando a empresa no ambiente competitivo. Isso é ainda mais sentido em indústrias de commodities (quando o produto final oferecido é parecido com o dos concorrentes).
  • A inovação de processos pode induzir ganhos de produtividade consideráveis. A implantação de uma boa plataforma de gestão de projetos, apenas para citar um exemplo, pode ajudar a empresa a economizar tempo e dinheiro ao agilizar a tomada de decisões. Pense nisso!
  • A inovação tecnológica na construção pode abrir novos mercados e prover mudanças na organização industrial. Além disso, oferece às empresas uma vantagem para penetrar mais rapidamente em mercados existentes e conectar-se com mercados em desenvolvimento.
  • A inovação tecnológica pode prover maior segurança aos trabalhadores. Nos Estados Unidos, por exemplo, já há construtoras que colocam sensores inteligentes nas roupas de seus trabalhadores para obter ganhos em segurança. É a tecnologia em prol da redução de riscos.
  • A inovação tecnológica na construção pode levar ao desenvolvimento de novas fontes de suprimento de matéria-prima e insumos.
  • Uma única inovação pode ser capaz de melhorar o desempenho financeiro da empresa, seja aumentando a receita ou reduzindo os custos.

Por onde começar a inovar?

Garantir que a inovação aconteça e traga os benefícios esperados às empresas e ao meio ambiente não é tarefa fácil.

É preciso, por exemplo, investir na capacitação tecnológica dos colaboradores, incluindo a mão de obra, e criar um ambiente que valorize novas ideias. Também é crucial assegurar que a gestão da inovação esteja conectada à estratégia da empresa.

Outro passo importante é criar um processo para selecionar ideias com potencial de gerar impacto. Lembre-se que os colaboradores estão diretamente em contato com o dia a dia da operação. Por isso mesmo, podem detectar problemas e identificar mais facilmente oportunidades para melhorar.

Também vale aproximar-se das construtechs e observar as soluções que elas oferecem para solucionar as fragilidades da cadeia da construção. Já é possível encontrar várias tecnologias inovadoras para uma série de atividades da construção, mas isso é tema para um próximo artigo!

Conclusão

Nesse artigo, tentamos pontuar brevemente alguns aspectos que não podem ser deixados de lado quando se pensa em criar um programa de inovação na indústria da construção.
Vimos que a inovação tecnológica na construção pode ser benéfica ao meio ambiente. Mais do que isso, que há a possibilidade de investir em modelagem da informação da construção, o BIM.
Além disso, vai conhecer os cases de sucesso em inovação e compreender como a inovação está sendo desenvolvida no mercado nacional e internacional.
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