Trabalhar no exterior: O que o engenheiro deve saber antes de ir

Vanessa Farias

Escrito por Vanessa Farias

23 de janeiro 2018| 14 min. de leitura

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Trabalhar no exterior: O que o engenheiro deve saber antes de ir

Trabalhar no exterior é o sonho de muitos engenheiros brasileiros. Os motivos para escolher sair do Brasil são incontáveis. Variam desde a busca por melhores salários até o desejo de adquirir novos conhecimentos para melhorar o currículo.
Provavelmente você já cogitou essa ideia, certo? Mas ao pensar em trocar de país, podem surgir dúvidas que geram preocupações sobre o quanto vale a pena essa mudança.
Por isso, preparamos este post para mostrar a você, engenheiro, o que deve levar em conta antes de ir trabalhar no exterior.
Confira!

Tenha um bom currículo

Currículo
A primeira coisa com a qual você deve ter atenção antes de ir trabalhar no exterior é com o seu currículo.
Mas o que é um bom currículo?
Para os engenheiros que querem morar fora, as competências principais que podem fazer brilhar os olhos dos recrutadores são:
  • Forte experiência na área
  • Já ter feito um intercâmbio
  • Saber falar o idioma do país de destino
  • Ter trabalhado em multinacional ainda no Brasil (pode ser um diferencial)

Por isso, prepare bem o seu currículo. Tome cuidado para evitar erros gramaticais na língua em que o documento está sendo escrito e evite utilizar tradutores automáticos.
Construa seu portfólio pensando no tipo de vaga que gostaria de entrar. E conte quais são suas habilidades que o diferenciam de outros profissionais para conseguir trabalhar no exterior.

Experiência profissional

Antes de sair do Brasil, a recomendação é que você adquira habilidades teóricas e práticas. Isso porque as chances de conseguir um emprego aumentam caso você já tenha bastante conhecimento como engenheiro.
Alex Lira é formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Já trabalhou na Irlanda e na Dinamarca, neste último por meio da Organização das Nações Unidas (ONU). Atualmente, ele está na Flórida, nos Estados Unidos, onde é CEO na Lirx Group, empresa de consultoria que atua com implantação de projetos, investimentos e franquias.
Em entrevista ao Buildin, Lira conta que experiência é tudo no currículo dos engenheiros brasileiros que decidem sair do país de origem. “Antes de morar em outro lugar, faça cursos de reconhecimento internacional e conheça diferentes softwares e ferramentas. Isso é essencial para quem quer trabalhar no exterior”, afirma.
Assim como Lira, na opinião da arquiteta e urbanista com pós-graduação em Design de Interiores, Camila Groff, ter experiência na função é fundamental antes de mudar de país. Ela já foi convidada para trabalhar em diferentes locais como Espanha, Canadá e Qatar. Neste último, para atuar no projeto de um dos estádios de futebol para a Copa do Mundo de 2022. Para Groff, “é importante ter domínio da prática que irá exercer e estar aberto a novos métodos de trabalho”.
As empresas de fora valorizam quem procura se manter atualizado e possui diversas certificações profissionais.
Caso seu currículo não conte com muitas experiências, talvez seja melhor esperar um pouco mais para criar uma vivência profissional relevante. Enquanto isso, invista seu tempo se especializando cada vez mais.

Intercâmbio

Não é segredo para ninguém que já ter feito um intercâmbio aumenta a probabilidade de garantir a vaga que tanto sonha e trabalhar no exterior.
Se você ainda está na faculdade e tem vontade de trabalhar fora algum dia, pense seriamente em fazer estágio ou passar um semestre ou dois estudando em outro país.
Nesse caso, a questão não é pura e simplesmente sair do Brasil por sair. O objetivo é saber de antemão como funciona, de perto, o estudo e o mercado de engenharia em outros lugares.
Fora isso, o intercâmbio ajuda você a fazer contato com pessoas nativas. Mais para frente, essas pessoas podem servir como porta de entrada para você trabalhar no exterior.
Mas se você já é formado, não se preocupe! Busque por trabalhos (podem ser voluntários) em algum país. Certamente, as empresas irão olhar com mais atenção para o seu currículo ao saberem que já teve uma experiência fora.

Idioma

Quer ficar ainda mais próximo do seu emprego ideal? Dedique-se a estudar o idioma do país onde espera trabalhar.
OK, você já sabe: conhecer inglês é importante. Mas não é só isso. Muita gente acredita que entender o inglês falado no dia a dia é o suficiente.
Só que as empresas exigem mais do que isso. Você precisa saber o inglês técnico também. Isto é, os jargões e palavras-chave para exercer sua profissão.
Para Alex Lira, o idioma foi a principal dificuldade quando viveu na Irlanda, em 2013. Lá, foi o primeiro país onde trabalhou depois de ter deixado o Brasil.
Lira teve empregos em diferentes setores antes de conseguir atuar como engenheiro. O fato de ter ido para o exterior sem dominar a língua local foi uma barreira para ele. Mas sua intenção com a viagem era justamente essa: aprender a falar inglês!
“A gota d’água para eu aprender o idioma foi depois de sair de uma reunião com clientes estrangeiros da empresa em que trabalhava, no Rio de Janeiro. Senti muita vergonha, porque não consegui entender nada”, revela.
Para ele, um grande problema é provar o conhecimento da língua que o estrangeiro domina. Por isso, aconselha: “Tente se expor ao máximo. Erre o inglês – ou qualquer outro idioma – até acertar e não tenha medo de mostrar que é capaz”.

Multinacional

Não é requisito obrigatório, mas ter trabalhado em uma multinacional ainda no Brasil pode facilitar o acesso a uma vaga no exterior. Afinal, subentende-se que, se você já teve essa oportunidade, sabe melhor como funciona o mercado internacional.
Caso você trabalhe em uma multinacional, pode garantir mais facilmente um emprego em outro país. Isso acontece porque existe a possibilidade de pedir transferência da sua vaga de um lugar para outro!

Faça um planejamento financeiro antes de trabalhar no exterior

Finanças
Conseguir um emprego para trabalhar no exterior ainda no país de origem não é tarefa fácil. Por isso, antes de fazer as malas, planeje bem seus gastos.
Isso mesmo! Monte uma planilha no Excel (ou coloque no papel, para os mais tradicionais) e verifique se você possui renda suficiente para os primeiros meses fora. Não se esqueça de levar em conta o custo de vida do país onde quer morar.
Este site oferece informações de custos em diversas cidades do mundo e faz um comparativo entre dois lugares.
Por exemplo, comparando Quebec, no Canadá, com a cidade de São Paulo, pode-se notar que a alimentação é 44% mais cara naquele país, de acordo com Expatistan.
Já o preço das roupas é 23% mais barato em Quebec que na capital paulista. Esses dados consideram o valor da moeda de cada país.
Custo de vida
Percentual relativo à 19 de janeiro de 2018. Fonte: Expatistan

O cuidado em controlar as próprias finanças oferece maior conforto em caso de os planos não saírem como esperados.
Com o planejamento financeiro em mãos, você pode contar que não ficará sem dinheiro até conseguir um emprego.

Saiba como funciona a burocracia para engenheiros

Burocracia
Viajar para outro país é um processo burocrático e demorado por si só. Trabalhar fora pode ser ainda mais. Isso porque há uma série de exigências que são feitas antes de começar um emprego no exterior.
Compra de passagens, visto de trabalho, abertura de conta em banco e outros trâmites são comuns para profissionais de todos os campos de conhecimento.
Em se tratando de engenharia, você deve validar e reconhecer o seu diploma. A validação varia de país a país e é preciso se informar antecipadamente sobre como funciona esse processo no seu local de escolha.
O reconhecimento de que você é engenheiro formado pode ser feito por meio de instituições específicas. Faça uma boa pesquisa!
O engenheiro civil Alex Lira, por exemplo, formou-se no Brasil, mas foi reconhecido profissionalmente no Reino Unido pelo Institution of Civil Engineers (ICE). O órgão, consequentemente, conferiu a ele a validação do seu diploma em mais 6 lugares! São eles: África do Sul, Austrália, Hong Kong, Irlanda, Nova Zelândia e Singapura.
Já para Camila Groff, ela precisou traduzir o seu diploma oficialmente em três línguas, visto que passou por diversos países. A quantidade de carimbos prova o quão burocrático e trabalhoso é exercer a profissão fora do seu país se o seu diploma não for de uma universidade internacional. No caso de Groff o processo foi mais fácil, pois sua pós-graduação foi realizada no exterior.
Esse tipo de reconhecimento, além de facilitar a vida do engenheiro brasileiro, oferece maior projeção internacional.

Conheça a cultura e o mercado local

Mercado de trabalho
Para não sofrer com o baque causado pelas diferenças culturais de outro país, vale pesquisar sobre o cotidiano de seus habitantes.
É certo que muitas impressões podem mudar depois da sua chegada no destino. Só que isso evita que suas expectativas não estejam de acordo com a realidade local.
E não se limite a descobrir como são os costumes dos nativos. Procure conhecê-los! O LinkedIn é uma ótima rede profissional para você aumentar seu círculo de contatos.
A arquiteta Camila Groff, por exemplo, foi ao exterior a trabalho sempre por meio de seu networking. “Construa um networking diversificado e disponibilize seu currículo para headhunters internacionais”, orienta.
Também é importante conhecer a cultura para saber como se comportar em uma empresa no exterior. Ter a noção de como é o dia a dia de trabalho lá fora ajuda a entender melhor como funciona o mercado.
Por isso, busque informações sobre número de vagas para engenheiros, valor médio dos salários oferecidos e quanto custa viver no país.
Trabalhar no exterior não é o luxo idealizado por muitos. A vida, ao contrário, pode até ser mais difícil. Mas se o investimento valer a pena, a permanência fora também valerá.

Seja paciente

Não espere que você vá garantir um emprego logo nas primeiras semanas. Pelo menos não é esse o caso da maioria.
Para conquistar uma boa oportunidade é preciso tempo. Por isso, seja paciente! E ser paciente não significa esperar sentado a vaga perfeita aparecer na sua frente. É, acima de tudo, ser proativo!
Na opinião de Alex Lira, o ideal é não criar grandes expectativas para não se frustrar. Ele declara: “você vai precisar ralar muito e terá de investir sem esperar retorno imediato. Mas aposte nessa possibilidade porque vale a pena”.
Tenha em mente que não é só você que está procurando por novas chances. Há milhares – milhões! – de outros engenheiros no mesmo barco. Para conseguir “aquela” vaga o quanto antes, resta saber quem vai remar mais rápido.

Conclusão

Como você pôde perceber, não é tão simples assim trabalhar fora do Brasil. Mas também está longe de ser impossível! Nessas horas, perseverança e foco são as palavras que definem aqueles que saem na frente.
Lembre-se: em muitos lugares, o profissional estrangeiro é subvalorizado. Se você quer ser notado, precisa causar impacto! Desde a apresentação do seu portfólio até seus conhecimentos sobre o país de destino!
Gostou de ler este artigo? Então, conheça as dicas que o nosso colunista e engenheiro Aldo Dórea Mattos preparou para você! Ele também já teve vivência no exterior!