Panorama contemporâneo dos edifícios de saúde no Brasil

Siegbert Zanetinni

Escrito por Siegbert Zanetinni

14 de novembro 2017| 33 min. de leitura

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Os edifícios de saúde hoje se situam entre as mais complexas tipologias de edificação nas áreas da arquitetura e da engenharia decorrentes de: 

  • contínua e crescente evolução científica exigida pelas condições desafiadoras na pesquisa e no tratamento clínico e hospitalar de enfermidades que ocorrem em centros urbanos e em regiões deles distantes com ocorrência seguida e suas contínuas consequências; 
  • mudanças rápidas de clima, condições saneadoras precárias, assistência médica deficiente e baixos investimentos públicos na área da saúde no país, resultam em tratamento precário e acidental e não como parte de um planejamento urbano e rural global; 
  • crescente desafio face o envelhecimento crescente da população e pelo ressurgimento de epidemias antigas tipo febre amarela, surtos gripais contínuos, tuberculose e alto crescimento de doenças mentais pelo uso indiscriminado de drogas e medicamentos e recentemente, pela migração crescente da população pobre e desassistida de países em conflitos políticos bélicos e religiosos; 
  • baixíssimo investimento público nas áreas de assistência à saúde e atendimento médico em zonas urbanas e rurais; 
  • ausência de investimentos de pesquisas e de planejamento preventivo e assistencial público nas esferas federal, estadual e municipal; 
  • ausência de redes públicas de prevenção e assistência médica em estados e municípios, especialmente nas áreas periféricas dos centros urbanos. 

Este conjunto de desafios nos obriga a pensar a saúde com visões holística e sistêmica que constituem o Sistema de Saúde, nas diversas esferas e locais de atendimento. 

Imagem 01 - Estrutura do Sistema de Saúde
Imagem 01 – Estrutura do Sistema de Saúde

Para se entender melhor o Sistema de Saúde para as três esferas de atendimento aparecem três elementos implícitos: 

  • tecnologia material incorporada;
  • capacitação do pessoal;
  • perfil da morbidade da população alvo.

Assim é possível se deduzir no que se baseiam esses elementos: 

  • questão econômica; 
  • complexidade assistencial de cada nível para garantir a integridade do atendimento; 
  • operacional utilizando como critério principal a prevalência das ocorrências para a alocação dos níveis de atenção. 

É possível deduzir que a distribuição desses elementos não apresenta a mesma regularidade, pois depende de meios financeiros, materiais e pessoal disponíveis e das políticas de saúde implementadas. 
O nível primário é aquele que face a oferta de equipamentos, aloca aqueles com menor grau de incorporação tecnológica (eletrocardiógrafo, raio x, sonar, ultrassom) e pessoal com formação geral compatível com casos de atendimento domiciliar: 

  • como a eficiente atenção que conhecíamos como o médico de família; 
  • na série de procedimentos de assistência e tratamento de enfermidades correntes; 
  • atendimentos passíveis de ocorrer no domicílio (serviços de consulta médica, receituário para coleta de exames, aplicações de injeções, inalações e vacinas). 

Ainda no nível de atendimento primário coloca-se como fundamentais as UBS distribuídas criteriosamente em  toda a área urbanizada e que constituem a principal porta de entrada de toda a rede de atenção a saúde. Estimava-se para São Paulo há anos atrás no Plano Metropolitano de Saúde efetuado, que para cada hospital geral implantado numa região, eram necessários cerca de oito UBS, onde as pessoas moravam, trabalhavam, estudavam e viviam com atendimento básico gratuito em pediatria, ginecologia, clínica geral, enfermagem e odontologia, serviços de consulta médica, inalações, injeções, curativos, vacinas, tratamento odontológico, fornecimento de medicação básica e coleta de exames laboratoriais. 
Consultórios especializados ao lado do atendimento domiciliar, UBS e centros de saúde atenderiam satisfatoriamente significativa parcela da população. Estima-se na época que entre 85% a 90% dos casos demandados à atenção primária eram passíveis de serem atendidos neste nível. 
No nível secundário devem ocorrer equipamentos com grau intermediário de inovação tecnológica junto à capacitação profissional de médicos e enfermagem e preparados para atender as situações que o nível primário não absorvem. Neste nível se situam os hospitais gerais e os ambulatórios especializados. 
No nível terciário situam-se os hospitais especializados de média e alta complexidade e que possuem equipamentos com alta incorporação tecnológica como tomografia, ressonância magnética, Pet Scan, medicina robótica, entre outros avanços e pessoal com formação especializada, caso dos médicos especializados em neurocirurgia, cirurgia da mão, nefrologia pediátrica, cancerologia, entre outras. 
É nesse nível terciário de edifícios de saúde especializados de média e principalmente de alta complexidade que podem estar contidos no panorama contemporâneo da arquitetura, quando atendem uma série de requisitos que fazem a sua estrutura conceitual. 
“A arquitetura depende de uma série de especialidades onde confluem as ciências humanas, biológicas, ambientais, econômicas e exatas. Todas essas ciências estruturadas podem influir na arquitetura, às vezes diretamente como é o caso das ciências ambientais, ou indiretamente, mas sempre apoiadas em bases científicas para atender sua evolução constante. Esse trabalho multidisciplinar é importante para que a obra consiga expressar suas qualidades estéticas e funcionais. Atender às necessidades, ser eficiente, econômica, ter durabilidade constitui uma série de atributos que são tão importantes quanto a forma arquitetônica. Essas visões holística e sistêmica, são a base da arquitetura que se completa com outras áreas do conhecimento.”1 
“A arquitetura contemporânea se identifica pela luz, transparência, leveza, evolução tecnológica e por se apoiar sobre conceitos: concepção multidisciplinar; visões holística e sistêmica; superação de paradigmas conceituais e construtivos da moda adequando-se à cultura de cada época; domínio integral das tecnologias limpas; inovação e  utilização evolutiva do conhecimento de base científica; a importância do projeto na explicitação da noção de qualidade e a questão do meio ambiente como parte estrutural do repertório arquitetônico.”2 
Essa arquitetura contemporânea produzida há cinco décadas, alterou a condição unidimensional da arquitetura moderna marcada pela estética da forma. É pluridimensional ao superar essa visão, integrando a razão científica à sensibilidade artística. 
A arquitetura hospitalar tem suas peculiaridades, é preciso entender que nisso ela é específica, e também como as demais tipologias ela tem que servir ao homem em todas as suas necessidades e condições físicas e mentais. O homem é a referência central da arquitetura. 
Esses predicados que integram esses conjuntos de conceitos não diferenciam arquitetura hospitalar das demais. É a arquitetura sem adjetivos. 
Listemos a seguir os requisitos que constituem esse panorama contemporâneo da arquitetura e que no caso da saúde devem adotar as edificações nas várias esferas de atendimento. 
Nas unidades de média e alta complexidade o que se entende como postura contemporânea em edifícios de saúde devem conter as recomendações que se seguem: 

  • sustentabilidade, que tem no social, no econômico e no ambiental o seu tripé estruturante, não se limita a questão de eficiência energética. Ela é cada vez mais abrangente para que seu desempenho seja o mais duradouro, eficiente e econômico, a fim de recuperarmos espaços urbanos empobrecidos de cidadania: áreas florestais destituídas de sua riqueza e heterogeneidade; recuperação da qualidade do ar e da água; diminuição, separação e reaproveitamento do lixo urbano e industrial; reciclagem de materiais para as diversas exigências construtivas; desenvolvimento de projetos inovadores; utilização de tecnologias limpas e seguras que tenham flexibilidade para atender a evolução dos diversos usos e ter custos compatíveis com suas necessidades. Esse conjunto de questões exige que tenhamos edifícios eficientes, planos diretores e projetos completos e bem desenvolvidos, com a integração das várias disciplinas e seus profissionais. Quanto mais a natureza estiver presente para os pacientes e para o restante dos ocupantes que trabalham, mais contribuiremos para que todos tenham um desempenho melhor na recuperação dos mesmos e na obtenção de ambientes agradáveis. A humanização trata da otimização do uso dos ambientes pelo paciente e dos demais usuários; 
  • qualidade ambiental pela crescente aplicação de iluminação solar e ventilação natural em ambientes que dispensam controle asséptico e mecânico com ar condicionado:

– circulações; 
– ambientes de estar e curta permanência; 
– áreas de espera de visitantes; 
– áreas administrativas; 
– áreas de serviços em geral; 
– áreas de vestiários das equipes de serviços complementares; 
A diminuição de investimentos nas áreas citadas é possível pela orientação adequada da edificação e do regime de ventos adequados à cada latitude em nosso país com dimensões continentais. 

  • zoneamento e setorização funcional, bem como fluxos. A setorização é importantíssima, pois determina a locação adequada das áreas, colocando-as em local estratégico tais como, áreas de PS (Pronto Socorro), PA (Pronto Atendimento) e ambulatórios para que não conflitem com as demais áreas internas do hospital; 
  • orientação correta de vãos e aberturas dos ambientes de permanência prolongada, evitando voltar às faces de internação do edifício para lados muito quentes, úmidos e frios. É necessário projetar o edifício com uma boa setorização e uma correta implantação resolvendo problemas de acessos, assim como a orientação solar da internação em relação ao movimento solar e aos ventos úmidos e frios. A correta implantação se adequando a morfologia do terreno, otimizando as condicionantes locais tais como relevo, cobertura vegetal, acessos diferenciados dos pacientes externos, internação e alta, pronto socorro e serviços; 
  • escolha do terreno é fundamental, assim como a sua localização. É desejável que possibilite acessos fáceis para a chegada e as saída de ambulâncias, de pacientes externos e internos, das demais áreas de serviços e do estacionamento de acompanhantes e visitantes; 
  • bloqueio de acesso às áreas restritas, como centros cirúrgico e obstétrico, UTI, berçário, setor de imagens, vestiário médico e enfermagem. Setorização correta das áreas de serviços como cozinha, lavanderia, centro de materiais; condicionamento diverso de roupa limpa e suja, especialmente esta que pode estar contaminada e precisa ser separada e posteriormente higienizada; o lixo hospitalar também não pode ser recolhido junto com o lixo comum devido ao alto nível de resíduos contaminados ou radioativos, e por isso devidamente separado; 
  • outra questão importante é o cuidado com quem trabalha no hospital. Projetar um ambiente que possua locais agradáveis para trabalhar e descansar em intervalos do trabalho é recomendável em uma edificação hospitalar. Existem hospitais onde não há lugar para plantonistas descansarem que acabam dormindo em leitos desocupados. Um plantonista que trabalha 48 horas precisa de condições confortáveis para descanso, para que desempenhe o seu trabalho com mais produtividade e mais segurança e sem condições estafantes, além de contribuir para que os atendimentos médico e de enfermagem sejam mais facilitados. Ambientes com estas características, além de melhorar o atendimento ao paciente, proporciona a equipe que trabalha conforto, satisfação e bem-estar; 
  • controle de infecção é uma das questões que deve receber maior atenção em ambientes mais críticos, como salas cirúrgicas, UTIs, centro de imagens, lavanderia onde devem ser colocados equipamentos de condicionamento com controle individualizado. Cada sala cirúrgica deve ter um equipamento de ar condicionado específico. Se por qualquer motivo, a sala é contaminada, ela é bloqueada, é feito a desinfecção e o restante do centro cirúrgico continua em funcionamento evitando necessidade de isolamento de todo o centro. 

EDIFICAÇÕES CONTEMPORÂNEAS / EXPERIÊNCIAS RECENTES 

HOSPITAL MORIAH 

Este hospital apresenta um padrão de excelência que prima pela precisão dos resultados e detecção precoce de problemas de saúde. A utilização de tecnologias contemporâneas com equipamentos de alta qualidade e confiabilidade faz do Moriah uma “vitrine” que o coloca como único no país, no contexto de atendimento médico hospitalar de alta complexidade. 
Este edifício contemporâneo com alta tecnologia construtiva em funcionalidade e equipamentos apresenta soluções de ecoeficiência e sustentabilidade e condições espaciais, estruturais e as instalações de sistemas e recursos tecnológicos de última geração. 
Podemos destacar: 

  • Robô cirúrgico “Da Vinci Xi”

Implantado no centro de cirurgia robótica, destina-se a cirurgias minimamente invasivas de diversas especialidades como cabeça e pescoço, urologia, cirurgia geral, ginecologia, torácica e cardíaca com imagens em 3D com quatro braços finos e longos e de longo alcance e com ótica em qualquer um dos braços, gerando grande mobilidade e imagens mais nítidas, fazendo incisões mínimas que alcançam cavidades onde a mão humana não atinge. 
Outras qualidades são a redução do tempo de internação e recuperação mais rápida. O cirurgião controla os braços mecânicos com as câmeras, pinças e outros instrumentos cirúrgicos no interior do paciente, podendo mudar o posicionamento cirúrgico durante a operação. 
Merece destaque a terapia de estimulação cerebral profunda, uma das mais modernas neurocirurgias funcionais, que consiste na implantação de marca-passo capaz de estimular zonas especificas do cérebro. 
Doentes cometidos por tumores do mal de Parkinson, Alzheimer e outras doenças neurofuncionais podem recuperar consideravelmente o controle de seus movimentos, graças aos sinais elétricos emitidos pelo aparelho. A cirurgia robótica é minimamente invasiva também em cirurgias cardiológicas, de coluna, de quadril e de ginecologia.

Imagem 02- Robô cirúrgico Da Vinci XI
Imagem 02- Robô cirúrgico Da Vinci XI
  • O-ARM® – Radiologia 3D

Equipamento de fácil transporte com arco cirúrgico de 360º que gira em torno da mesa, sistema de radiologia 2D/3D com acionamento robotizado e integração com navegador cirúrgico que possui fluoroscopia com todos os controles de movimentação e angulação auxiliados eletronicamente. 
Indicado para o uso em cirurgias abertas e minimamente invasivas de coluna para artroses, discectomia, degenerações facetarias, vertebroplastia.

Imagem 03-ARM – Radiologia 3D
Imagem 03-ARM – Radiologia 3D
  • Scanner Divina

Detecta um dispositivo microeletrônico e projeta a mama em 3D em um monitor computadorizado o que permite uma excelente visualização do campo operatório. 
Esta tecnologia está disponível para próteses de silicone de mamas e também para próteses de glúteos com chip.  

Imagem 04 – Scanner Divina
Imagem 04 – Scanner Divina
  • Mesa cirúrgica ortopédica

Equipamento complexo destinado a cirurgia ortopédica que atende a qualquer situação operatória. 

Imagem 05 – Mesa cirúrgica ortopédica
Imagem 05 – Mesa cirúrgica ortopédica
  • Sala de hemodinâmica

Utiliza técnicas invasivas para obtenção de dados funcionais e anatômicos das várias cardiopatias. É através do cateterismo que se faz o estudo da dinâmica cardíaca que consiste na inserção de cateteres radiopacos sob controle pluroscópico e monitorização eletrocardiográfica, seguindo o trajeto das artérias e veias periféricas até as cavidades cardíacas e grandes vasos. 

– Equipamento: Hemodinâmica Artiz Zee Ceiling Siemens 

Especialidade cirúrgica: Vascular, Neuro e Cardio; 
Descrição: equipamento instalado dentro do centro cirúrgico para procedimentos minimamente invasivos guiado por imagens de raios-X, deixando a sala com denominação de sala híbrida, possibilitando a realização de diversos procedimentos de especialidades diferentes, possui software para reconstrução 3D das áreas de interesse, imagens de alta resolução, possibilitando ao cirurgião maior segurança e agilidade.

Imagem 06 – Sala de Hermodinâmica
Imagem 06 – Sala de Hermodinâmica
  • Sistema de navegação StealthStation S7 Medtronic 

Especialidade cirúrgica: Neuro, Ortopedia e Otorrino 
Descrição: através de imagem de tomografia, raios-X e Ressonância magnética é possível a navegação para retirada de tumores cerebrais, colocação de parafusos, passagem de cateteres, tudo sendo guiado través do sistema, que faz a fusão do real (paciente) com o virtual (reconstrução 3D com as imagens) com total segurança. 
Obs: Tem integração com o O-arm. 

Imagem 07 – Sistema de navegação
Imagem 07 – Sistema de navegação
  • Rack de vídeo com tecnologia de Imunofluorescência STORZ

Especialidade: Gineco, Gastro e Plástica 
Descrição: através do equipamento de Imunofluorescência é possível visualizar as artérias e veias nos órgãos e tecidos no intra-operatório e diagnosticar a irrigação sanguínea, isso após aplicação de um medicamento chamado Indocianina verde que destaca a área de interesse. 

Imagem 08 – Rack de Vídeo
Imagem 08 – Rack de Vídeo
  • Auditório

Hospital dispõem de um auditório totalmente equipado que possibilita fazer vídeo- conferência com transmissão ao vivo do Centro Cirúrgico e transmitir para o mundo. 

HOSPITAL SÃO LUIZ ANÁLIA FRANCO 

O edifício ocupa a parte central da quadra. A área restante é transformada em praça coberta envolvendo-o, integrando e dinamizando todo o espaço da mesma, com as quatro ruas lindeiras e todas as edificações voltadas para a praça. 
Constituído de dois blocos independentes: um de hospital geral e outro de maternidade, unidos por passarelas, criando uma grande área central com janelas e espelho d’água para onde se voltam os ambientes de estar dos andares superiores. 
Abaixo do 4º Andar o volume une-se longitudinalmente, abrigando no centro os serviços comuns às duas alas. 
O escalonamento nas suas extremidades ampliou os espaços de acesso. De um lado a entrada do hospital e no lado oposto os espaços públicos de auditório e restaurante no nível térreo. Neste lado, aproveitando a declividade do terreno, instalamos no pavimento inferior os acessos do pronto-socorro e pronto-atendimento, consultórios, diagnóstico e tratamento, laboratórios e setor de imagem. 
Ambientes como restaurante e hall de internação e alta possuem iluminação e ventilação naturais, e no caso das áreas de internação, foram inseridas varandas, para maior interação com o exterior e comodidade entre as pessoas e pelo agradável ambiente hospitalar. 

Imagem 09 - Área externa do Hospital
Imagem 09 – Área externa do Hospital
Imagem 10 - Área interna do Hospital
Imagem 10 – Área interna do Hospital

HOSPITAL MATER DEI CONTORNO 

O partido adotado retratou a concepção dinâmica e inovadora, valorizando a identidade arquitetônica do edifício e atendendo aos critérios de sustentabilidade, ecoeficiência e plano urbanístico local. 
O alto custo das fundações para a construção de 5 pavimentos de garagem no subsolo nos levou a coloca-los entre o 7º e o 11º pavimento com 512 vagas de veículos. Todos os serviços do hospital foram colocados do 1º subsolo térreo e cinco pavimentos inferiores. A internação ocupou do 12º ao 19º pavimento. Essa solução do estacionamento na área central do edifício foi facilitada pela forte inclinação da quadra onde o acesso das rampas facilitado por se iniciar na parte mais alta do entorno. 
O estacionamento é expresso nas fachadas por um mosaico de painéis de ACM brancos e verdes e os vazios de ventilação dos pavimentos das garagens. 
O Mater Dei Contorno é o primeiro hospital no Brasil em estrutura metálica que se desenvolve em uma malha de 1,25m, e com lajes steel deck. Fechamentos e divisórias em drywall proporcionam espaços e sistemas flexíveis e que permitem fáceis alterações futuras, prolongando a vida útil do edifício, maior agilidade no processo construtivo e um canteiro de obras mais limpo. O hospital com 70.000m² de construção foi uma sequência de montagens executada em 18 meses. Todas as janelas foram montadas com sistemas unitizados integrando todos os seus componentes. 
A arquitetura foi um elemento estratégico para a sustentabilidade, pois articula a partir da leitura das necessidades do Cliente e do local de implantação do empreendimento, soluções estéticas e tecnológicas, de alto rigor técnico, resultando em espaços que geram ambientes internos sustentáveis além de obter uma ótima relação do edifício com o ambiente externo. Foram levados em conta, na conceituação do projeto, fundamentos da arquitetura contemporânea, todos os predicados conceituais de sustentabilidade incorporados no projeto. 
As áreas técnicas principais cobertas e descobertas, foram todas locadas na cobertura encimadas pelo heliponto. Esse nível de qualidade foi a junção da alta complexidade garantida pelos espaços, equipamentos e pessoal para atender todos os níveis de assistência médica. Incluem-se ainda novos programas assistenciais, que vêm sendo efetuados pela essa unidade Contorno: 

  • Centro de reprodução humana
  • Hospital integrado do Câncer
  • Medicina diagnóstica
  • Medicina do esporte
Imagem 11 – Perspectiva do Hospital Mater Dei em Contorno
Imagem 11 – Perspectiva do Hospital Mater Dei em Contorno
Imagem 12 – Implantação do Hospital
Imagem 12 – Implantação do Hospital

MATER DEI BETIM / CONTAGEM 

A direção do Hospital Mater Dei adquiriu uma área a ser urbanizada em Betim/Contagem, uma gleba de 275.000m², para implantação de um hospital de alta complexidade. Separamos da mesma, uma área de 26.800m² junto a via expressa, para a edificação da unidade Betim do Hospital Mater Dei. 
Esse projeto foi locado num ponto estratégico dessa grande gleba visando visibilidade com a primeira intervenção na área que irá no futuro comportar edificações comerciais, corporativas, habitacionais, de serviços e áreas verdes planejadamente distribuídas. 
Para a implantação do hospital tivemos que efetivar o desmembramento da área do mesmo para atender as normas urbanísticas da Prefeitura de Betim afim de atender a legislação do uso do solo. 
Aprovada a locação da área tivemos que aprimorar o projeto legal com uma segunda via paralela interna, separando-a da via expressa para acesso ao hospital, regularizando a implantação e a aprovação do mesmo. 
Esse projeto teve seu programa estruturado junto à equipe médica do Mater Dei, dimensionamento como mais uma importante unidade ampliando a Rede Mater Dei e com o consequente sucesso do Hospital Mater Dei Contorno, em Belo Horizonte. 
O projeto de arquitetura definiu espaços, serviços médicos e ambulatoriais a serem prestados, implantação do bloco principal que pelas condições de declive do terreno implicou na conexão de vias e rampas de acesso às áreas de serviço e estacionamento subterrâneo e tratamento paisagístico de toda a área existente.  Além do projeto arquitetônico, coordenamos todas as disciplinas e sistemas que deveriam ser com ele compatibilizados. 
A estrutura metálica consiste em um sistema misto com pilares tubulares de aço preenchidos de concreto, vigas e contraventos metálicos e lajes steel deck. Nesse projeto, arquitetura e estrutura foram concomitantemente executadas em tecnologia BIM.

Imagem 13 – Perspectiva do Hospital Mater Dei em Betim-Contagem
Imagem 13 – Perspectiva do Hospital Mater Dei em Betim-Contagem
Imagem 14 – Corte isométrico realizado com tecnologia BIM
Imagem 14 – Corte isométrico realizado com tecnologia BIM

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO – HU 

Este grande e complexo projeto de revitalização e modernização do Hospital Universitário – HU Hospital Escola na Cidade Universitária da USP (Universidade de São Paulo) foi realizado com a responsabilidade de elaborar o Plano Diretor e o Projeto Executivo de Arquitetura com compatibilização global dos projetos. 
Objetivando atender a grande meta desta Instituição pertencente à Universidade de São Paulo de transformar o HU em Centro de Excelência de Ensino das áreas médicas e paramédicas, o Plano Diretor elaborado e o projeto de arquitetura enfrentaram esse grande desafio com conceitos e soluções que traduzem a nossa visão contemporânea sobre arquitetura, que destacamos: 

  • revisão total da área construída existente de 36.000m² com novas soluções ambientais internas e tratamento global externo;
  • centro de Ensino com 7.500m² de construção contendo dois auditórios de 200 lugares que podem se integrarnum único espaço de 400 lugares, biblioteca, laboratório e oficinas com amplos espaços de foyer, local de exposições, lanchonete, salas de treinamento, e oito salas de aula (duas salas de 96 lugares, duas salas de 60 lugares que põem se unir com outras duas de 52 lugares e 2 de 48 lugares),totalizando 500 lugares para salas de aula, área de triagem e arquivo do Same, salas para estudos de grupo e pesquisa, diretoria e chefias, subsolo para estacionamento de ambulâncias, carros e motos, e completa casa de máquinas na cobertura envolta por cobertura verde. 
  • acréscimo necessário de novas e importantes áreas:

– Novo bloco anexo para abrigar as atividades, totalizando 5.000m²; 
– Ampliação do necrotério com 170m²; 
– Novas escadas de emergência e rampa externa com 1.200m²; 
– Novas guaritas com 200m²; 
– Passagem e passarela cobertas conectando o hospital ao centro de ensino com 360m². 

  • ampliação do bloco atual de energias para abrigar e centralizar as atividades de manutenção e emergência clínica com 2.230m²;
  • novo bloco para almoxarifado central com 1.400m², contando com a construção de uma marquise entre os blocos novos e o hospital existente como cobertura da área de carga e descarga com 890m²;
  • tratamento de todas as fachadas do bloco Hospital e Anexos com utilização de painéis unitizados, compostos por placas de ACM e caixilhos de fachada em sistema glazing, sendo que todos os pavimento de internação (incluindo o pavimento da superintendência e área administrativa) terão vidro duplo com persiana regulável interna. As placas de ACM na cor branca são intercaladas por faixas de ACM na cor vermelha, também utilizada nos blocos de escadas; 
  • importante intervenção interna ocorreu em todos os pavimentos do bloco vertical de internação, transformando as antigas enfermarias em apartamentos de dois leitos com banheiros anexos. Igualmente os pavimentos horizontais (1º e 2º pavimentos) sofreram intervenções no zoneamento dos setores, integrando-os por atividades correlatas e com novo tratamento interno global de pisos, paredes e forros com soluções cromáticas através de painéis pintados ou cerâmicos;
  • retrofit geral de toda a infraestrutura do hospital, modernizando os diversos sistemas de ar condicionado, instalações elétricas, hidráulicas, gazes, controles, avisos, informática, segurança etc; 
  • tratamento paisagístico de toda a área externa dos edifícios com soluções de pisos, gradis, portarias com aproveitamento das espécies vegetais de porte existente; 
  • a comunicação visual do hospital de completa através de soluções com painéis externos que orientam os usuários aos principais acessos e pela sinalização das circulações internas de todos os ambulatórios e diversas salas; 
  • produção de execução do projeto em Plataforma BIM. 
Imagem 15 – Perspectiva Externa do Hospital Universitário
Imagem 15 – Perspectiva Externa do Hospital Universitário
Imagem 16 – Centro de Pesquisa do Hospital
Imagem 16 – Centro de Pesquisa do Hospital

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE CARATINGA 

Nesse complexo hospitalar de Caratinga, além de estar integrado a todos os instrumentos relativos a um hospital de alta complexidade, desenvolverá pesquisas e treinamento nos centros: ambulatórios, diagnóstico, oncologia, reabilitação física, psiquiátrica e medicina veterinária.

Imagem 17 – Perspectiva do Hospital Universitário de Caratinga
Imagem 17 – Perspectiva do Hospital Universitário de Caratinga
Imagem 18 – Implantação do Complexo
Imagem 18 – Implantação do Complexo

HOSPITAL SÃO CAMILO POMPÉIA – BLOCO 5 

Trata-se da ampliação de um Complexo Hospitalar, com acréscimo de 93 leitos de internação e 46 consultórios, além de novas salas de exames e procedimentos. O novo Bloco do Hospital São Camilo Pompéia estará integrado aos quatro blocos existentes, situados em quadra vizinha, por meio de túnel e passarela. 
Desde o início, o projeto foi desenvolvido com o uso da tecnologia BIM, integrando arquitetura, estrutura e sistemas prediais. A tecnologia BIM permite visualizar os efeitos das decisões de projeto (como orientação solar, materiais de fachada, sistemas de infraestrutura predial) sobre o custo de implantação e o desempenho.  
Os projetos realizados, além de premiados e publicados na mídia especializada, romperam paradigmas e contiveram inúmeros avanços conceituais.

Imagem 19 – Medicina Hiperbárica
Imagem 19 – Medicina Hiperbárica
Imagem 20 – Perspectiva do Hospital São Camilo Pompéia
Imagem 20 – Perspectiva do Hospital São Camilo Pompéia

Arquiteto e Urbanista Siegbert Zanettini
Professor Titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo / Universidade de São Paulo
zanettini@zanettini.com.br
Artigo elaborado para o evento IFHE RIO 2017, realizado pela ABDEH e pela IFHE (International Federation of Hospital Engineering), Rio de Janeiro.