Inovação: entenda o que é uma construtech

Tomás Lima

Escrito por Tomás Lima

13 de outubro 2022| 10 min. de leitura

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Inovação: entenda o que é uma construtech

Entre 2015 e 2019, o número de startups mais que triplicou no Brasil: foi de 4.151 para 12.727, segundo a Associação Brasileiras de Startups (Abstartups). É um movimento sem volta, inclusive na construção civil. Por isso, imagino que você já ouviu ou sabe o que é uma construtech, não é mesmo?

A cadeia de construção é responsável por 10% do PIB global. Ela é fundamental para a construção de moradia e infraestrutura urbana, bem como elementar para a geração de emprego e renda. Ao mesmo tempo, é marcada pela ineficiência, desperdício e baixa produtividade. Mas, a construtech veio para transformar isso.

Mas antes de entrar nesse assunto, vamos entender o que é uma startup. Basicamente, uma startup é uma empresa jovem e com um modelo de negócio repetível e escalável. Além disso, tem seu negócio baseado em tecnologia e, por isso, é comum as startups ganharem o sufixo “tech”.

Dessa forma, o resultado é a junção do segmento no qual a startup atua com o termo “tech”. Daí surgiram movimentos diversos no mercado, como:

  • Fintechs (setor financeiro)
  • Construtechs (construção civil)
  • Insurtechs (seguros)
  • Edtechs (educação)
  • Martechs (marketing)
  • Lawtechs (jurídico)
  • Cooptechs (cooperativismo)
  • Agrotechs (agronegócio)
  • Entre outras

Independentemente do segmento de atuação da startup, o modelo de negócio é parecido: sempre baseado em experimentação, atacando dores e desafios específicos. Então, neste post, nós vamos entender o que é uma construtech, como ela impacta o setor da construção e em quais áreas elas atuam. 

O que é uma construtech?

Para entender o que é uma construtech, basta imaginar uma startup que atua na construção civil, que é um setor conhecido pela pouca adoção de tecnologias. Dessa forma, podemos dizer que são startups com desafios um pouco maiores que as demais.  

A atuação das construtechs ocorre dentro e fora dos canteiros. Ou seja, já existem soluções tecnológicas e inovadoras focadas em melhorar a produtividade e execução das obras. E há também soluções para apoiar o “time do escritório”, como na parte comercial, processos, gestão, planejamento etc. 

Ao propor o uso da tecnologia e da inovação para melhorar processos, mesmo sob resistência em alguns casos, a construtech é essencial para o futuro da construção civil. Pois propõe mudanças em toda a cadeia do setor, com benefícios reais.

O que é uma construtech: números em alta 

Um levantamento da Terracota Ventures, denominado Mapa de Construtechs e Proptechs Brasil 2020, mostra que existem 702 startups mapeadas. Dessa forma, esse número representa um aumento de 23% em relação à quantidade levantada em 2019 e 180% comparando com a primeira versão de 2017. 

Portanto, é um avanço significativo das construtechs no país. E vale ressaltar que o mapeamento diferencia os tipos de startup, destacando também as proptechs, que atuam exclusivamente no mercado imobiliário e não nas obras em si.

Foco em dores e desafios específicos 

Então, para exemplificar o que é uma construtech, nada melhor que olhar para a prática. Por isso, vamos apresentar, a seguir, uma lista simplificada de áreas nas quais as construtechs atuam e quais dores elas solucionam.

Para tanto, adaptamos a lista criada pela Terracotta Ventures e que você confere agora:

Burocracia 

Imagine reduzir o tempo de licenciamento e emissão de alvarás de obras de 6 meses para 10 dias. Isso é possível por meio de uma startup e foi o caso da Aprova Digital. A startup realizou a transformação de 100% dos processos da Secretaria Municipal de Planejamento e Urbanismo de Mogi das Cruzes (SP) para o formato digital.

Portanto, a burocracia pública é uma das dores atacadas pelas construtechs. Pois, além da demora, a burocracia pode elevar o custo de um imóvel em até 12%, segundo pesquisa encomendada pela CBIC e ABRAINC à consultoria Strategy&.

Gestão de obras

A gestão de obras é tão complexa que a lista traz subdivisões desse tema: 

  • Diário de obras: uma das maneiras de controlar a obra a fim de evitar contratempos é através do diário de obras. Por isso, já existem startups focadas em digitalizá-los, permitindo acesso por aplicativo, como é o caso da startup Diário de Obra.
  • Gestão de tarefas e comunicação: é muito comum que o fluxo de informações no canteiro seja bastante ineficiente, tendo seu processo altamente concentrado em papéis ou planilhas descentralizadas. Com isso, é mais fácil perder informações, ao mesmo tempo que é difícil tirar insights de uma grande quantidade de dados descentralizados.
  • Planejamento e controle: neste subgrupo estão as startups que trazem soluções tanto para planejamento da obra quanto o acompanhamento da execução. A Prevision, por exemplo, parceira do Sienge, buscou trazer o conceito de linha de balanço para facilitar o planejamento de obras que tenham bastantes repetições. A Construct In, por outro lado, está desenvolvendo uma plataforma que torna possível o engenheiro acompanhar a obra de maneira remota a partir de fotos 360º tiradas no canteiro.

Mapeamento de grandes áreas

Não tem como falar sobre o que é uma construtech sem lembrar dos drones, não é mesmo? Eles servem para fazer mapeamento de grandes áreas, cálculo de volumes, levantamentos topográficos, geração de imagens georreferenciadas, fazer a gestão patrimonial, entre outras coisas. 

Existem várias construtech utilizando drones para apoiar as construtoras no canteiro

Segurança

Uma construtech pode contribuir para reduzir as diversas situações de risco que ocorrem no canteiro de obra. Uma das grandes causas dos acidentes é o fato de muitos profissionais não respeitarem as normas de segurança, como o uso obrigatório de EPI.

Por isso que algumas startups vêm trabalhando nesse desafio, como é o caso da NextCam. A startup curitibana desenvolveu uma câmera que faz uso de visão computacional para identificar o operário e se ele está ou não fazendo o uso dos EPIs, além de contar o tempo que cada um ficou na obra. 

Contratação

Também existem construtechs que buscam oferecer plataformas com uma base de profissionais qualificados disponíveis para a contratação. Dessa forma, facilita a contratação de mão de obra qualificada, que é uma dor antiga do setor.

Algumas construtechs facilitam a contratação de mão de obra qualificada

Compra de materiais

Há plataformas que conectam diretamente construtoras a uma rede de fornecedores, permitindo com que uma única cotação atinja diversos players. Um exemplo é a Conaz, adquirida em 2019 pela Ambar.

Há também os marketplaces, como o Estoque Parado, que ajuda os varejistas a dar vazão aos seus estoques ociosos; e a Obrazul, que permite com que os lojistas divulguem seus produtos de maneira online.

Métodos construtivos

E também não tem como deixar de fora as inovações em sistemas construtivos. Estamos falando dos métodos construtivos industrializados. Como têm um controle industrial, eles conseguem garantir um nível superior de qualidade e uma redução comprovada de 20% a 50% do tempo de construção.

Fachada do hospital construído em 33 dias (imagem: Brasil ao Cubo)

Inclusive, recentemente, tivemos como exemplo a construção de 100 leitos de hospital entregues em apenas 33 dias, em São Paulo. As empresas responsáveis pela execução do projeto foram a Brasil ao Cubo, que fabrica módulos 3D em estrutura metálica, e a Tecverde, que utiliza painéis em woodframe.

O que é uma construtech: considerações finais 

Agora que você já sabe o que é uma construtech e os desafios que elas atacam, você, gestor de construtora, precisa estar atento a esse movimento. Certamente, já existem soluções no mercado para dores que você enfrenta no dia a dia. 

E mesmo que ainda não exista uma solução focada no seu problema, pode existir a possibilidade da sua construtora, junto com uma startup, desenvolver as soluções que precisa. 

Para você ter ideia, 75 das 100 instituições listadas na Fortune 100 possuem algum tipo de relacionamento com startups. Destas, 41 possuem equipes dedicadas exclusivamente à busca de investimentos em startups. 

Há vários exemplos de empresas da construção que estão apostando na relação com as startups. Como é o caso da Ventures Gerdau, recém-criada aceleradora de startups da Gerdau Next, braço de novos negócios da Gerdau. Tudo indica que esses exemplos devem aumentar, ainda mais agora com a criação do Marco Legal das Startups.

Portanto, olhar e, principalmente, se relaciona com startups são tarefas mais que necessárias. São essenciais nessa nova economia. Assim, todo esse cenário pode levar a construção para um novo patamar de inovação e produtividade.