Construtalk Curitiba: tudo o que rolou no evento

No último dia 25 de junho o Buildin realizou a 5ª edição do Construtalk em Curitiba. Estiveram presentes ao evento mais de 230 pessoas, que tiveram a oportunidade de ver de perto mais de dez horas de muito conteúdo sobre tecnologia e inovação na construção.

Além disso, por meio do Construtalk Curitiba 50 pessoas puderam ir visitar a fábrica da Tecverde, um canteiro de obras da empresa e um empreendimento concluído. Conteúdo de qualidade real e totalmente prático e aplicável para transformar a construção.

Dentre os temas abordados estavam:

  • Cidades inteligentes
  • Programa de inovação corporativa da Vedacit
  • Programa de industrialização da construção do Chile
  • Escalabilidade de paredes de concreto
  • Como inovar no dia a dia da construção
  • Uso de drones para extração de dados analíticos
  • Planejamento e acompanhamento de obras
  • Construção industrializada a seco com uso de woodframe
  • Gerenciamento de obras
  • Lean construction
  • Computação cognitiva
  • Casa 24 horas
  • Construção modular

Ao longo deste post vamos falar um pouco sobre como cada um desses temas foi abordado no Construtalk Curitiba 2019.

Smart Cities

A primeira palestra do Construtalk Curitiba 2019 procurou mostrar como canteiro de obras e construções se relacionam com as cidades. De acordo com o palestrante Eduardo Mazzarolo Marques é preciso pensar as cidades a partir das pessoas e não dos edifícios.

A partir dessa mudança de ponto de vista, as cidades passam a se tornar inclusivas. Na prática, ele explica, as pessoas passam a viver a cidade e não mais a se proteger dela.

Construtalk Curitiba 2019

Em resumo, ele explicou que cidades inteligentes são capazes de se desenvolver economicamente ao mesmo tempo em que proporcionam cada vez mais qualidade de vida aos seus habitantes.

Assim, uma cidade criativa e sustentável faz uso da tecnologia e estimula a participação dos cidadãos. Dessa maneira, ele citou cases de sucesso no desenvolvimento de cidades inteligentes. Dentre os exemplos, o planejamento urbano do Plano Cerdà, no final do século XIX, que alterou o desenvolvimento da cidade de Barcelona.

Uma das ações foi a criação dos superblocks, que limitaram o trânsito de veículos em alguns locais da cidade e, assim, proporcionaram um aumento de 77% no espaço para pedestres.

De acordo com Marques, são fundamentais para a criação de cidades inteligentes profissionais como urbanistas, arquitetos, paisagistas, legisladores, engenheiros, construtores, incorporadores e empreendedores.

Para explorar os conceitos das cidades inteligentes, Marques mostrou novas tecnologias e produtos úteis ao desenvolvimento urbano. Dentre eles, soluções para infraestrutura de dados e comunicação e concreto permeável para pavimentação.

Além disso, ele falou sobre o advento do compartilhamento de espaços, como os colivings e coworkings, e do desenvolvimento de bairros planejados. Ou seja, aqueles com prioridade para pedestres, com espaços públicos atraentes, conectividade, edifícios inteligentes e propostas de uso misto.

Inovação aberta

Luís Fernando Guggenberger, Head de Inovação e Sustentabilidade da Vedacit, apresentou os primeiros resultados e falou sobre os próximos passos do programa de inovação aberta da empresa. De acordo com ele, o programa é uma ponte entre as construtechs e o negócio da Vedacit.

Para tanto, ele mostrou as ações da empresa para promover a aproximação das startups do setor. Mais do que isso, mostrou os erros e consequentes aprendizados com a primeira fase do programa.

Como conclusão, ele revelou que os resultados da aceleração foram ruins, mas que os aprendizados levaram a resultados de processo muito valiosos.

A inovação na Vedacit é baseada, explicou Guggenberger, em três eixos: de fora para dentro, de dentro para dentro e de dentro para dentro. Além disso, é baseado em algumas verticais, como a digital e a de impermeabilização.

Faz parte do processo de inovação aberta da empresa o Vedacit Labs, para seleção de startups, o Lab Habitação, para inovação em moradia, e o Insights Veda Up, para construção de uma cultura de inovação visando ao desenvolvimento de um ecossistema.

Construtalk Curitiba 2019

Benefícios da construção modular

Outra atração do Construtalk Curitiba foi a apresentação de Arthur Norgren, CEO da Mora. A empresa tem como proposta a fabricação em processo industrial de apartamentos residenciais modulares com cerca de 20 m². Ou seja, construção modular. Para isso, utiliza aço estrutural reforçado.

Construtalk Curitiba 2019

O ponto de partida da Mora é a evolução das cidades. Ou seja, qual é o tipo de imóvel que as cidades vão demandar nos próximos anos. Para Norgren, a demanda será por imóveis acessíveis. Mais especificamente, Norgren aposta que até 2030 aumentará em 87% a demanda por habitações para uma ou duas pessoas em grandes cidades.

No entanto, o problema é que o custo do aluguel nesses grandes centros está cada vez mais elevado. Em pesquisa, Norgren levantou preços que chegavam a quase R$ 4,5 mil mensais em São Paulo, por exemplo.

Não à toa, São Paulo foi a cidade escolhida pela empresa para construir seu primeiro edifício modular, com 18 apartamentos.

Face a um cenário de demanda e preços elevados e rentabilidade de aluguéis em queda, a Mora propôs uma nova solução. Esta baseada em construção modular, desenvolvimento para locação e operação com alinhamento.

Além disso, toda a operação dos imóveis da Mora são baseados em tecnologia. Assim, um aplicativo permite monitorar consumo de água e eletricidade, além de controlar itens de IoT (Internet das Coisas) e automação, bem como portaria e segurança.

Mais do que isso, por meio do app da Mora é possível verificar unidades disponíveis e reservas. De acordo com a apresentação de Norgren, os apartamentos da Mora levam a um valor de locação 30% menor, retorno 100% maior sobre o investimento, com prazo de entrega 50% menor.

Plano chileno pela produtividade na construção

O Construtalk Curitiba 2019 trouxe o engenheiro Boris Naranjo, membro do Conselho de Construção Industrializada do Chile, para contar sobre o plano estratégico nacional para atacar a baixa produtividade na construção.

Assim, ele contextualizou a questão, identificando os problemas. Dentre eles, o crescimento nulo da produtividade nas últimas décadas, os custos em elevação e a falta de qualificação da mão de obra. Similar às questões brasileiras, não é mesmo?

Para combater essas questões, o Chile criou o programa Construye 2025, que visa a aumentar a produtividade da indústria da construção naquele país. Este é baseado em alguns eixos estratégicos, como produtividade, sustentabilidade, inovação e novas tecnologias, produtos, serviços e talentos exportáveis.

A implementação, conforme explicou Naranjo, é feita por meio de uso de pré-fabricação, BIM, capacitação da mão de obra, busca de sistemas eficientes, foco em sustentabilidade e desenvolvimento de centros tecnológicos.

Escalabilidade de paredes de concreto

Outra palestra que abordou questões relativas a produtividade e tecnologia na construção foi a de Danilo Lorenceto. Sua apresentação começou com a descrição das características da industrialização. Dentre elas, redução de etapas, maior controle, possibilidade de desenvolver protótipos, dentre outras.

Lorenceto, que tem um perfil no Instagram onde revela detalhes de sua vida nos canteiros de obra, apresentou as diversas vantagens observadas no uso de paredes de concreto para construção de habitações. Além disso, ele afirmou que atualmente a tecnologia é viável para construção de a partir 15 unidades no programa Minha Casa Minha Vida.

Ele aproveitou a oportunidade para falar sobre desafios internos e externos para a adoção de sistemas industrializados, como as paredes de concreto. Dentre eles, a falta de conhecimento sobre o próprio negócio. Ou seja, de uma visão holística tanto sobre a construção quanto sobre a tecnologia.

Por isso, Lorenceto trouxe algumas recomendações ao público presente. Tais como:

  • Melhorar o escopo
  • Investir em BIM
  • Ser teimoso na visão, mas flexível nos detalhes
  • Investir em produtividade
  • Levar sistemas de qualidade a sério
  • Acentuar o controle das obras

Como inovar na construção

A Tecza, com Tiago Campestrini, iniciou sua apresentação no Construtalk Curitiba 2019 com uma provocação sobre como e por que inovar na construção.

E o próprio Tiago Campestrini respondeu. Segundo ele, a inovação torna possível que pequenas soluções venham a gerar grandes impactos. Afinal, não há limite à inovação, na opinião dele.

Para comprovar isso, ele mostrou um infográfico onde eram indicadas as possibilidades de inovação em diversas frentes na construção civil.

Além disso, mostrou os diferentes tipos de inovação e os risco a elas associados: Disruptiva, Conjuntural, Rotineira e Radical. E cada uma dessas inovações pode ser aplicada a projetos normais, o que incorre em pouca incerteza, e a projetos inovadores, que levam a níveis maiores de incerteza.

Por fim, Campestrini apresentou o trabalho da Cinco, incubadora e aceleradora que já conta com 14 startups dentre construtechs, propetechs e greentechs incubadas na região de Curitiba.

Construção vista de cima

Sob este título, Tagôre Cardoso apresentou a DroneMapp. Mais do que uma empresa de drones, a startup é, conforme explicou Cardoso, uma empresa de análise de dados. Afinal, qual seria o sentido de sobrevoar e fotografar do alto terrenos, loteamentos e construções se não para extrair dados?

Ele contou que o uso de drones na construção e análise de dados aéreos possibilitou, por exemplo, a medição de 40 mil lotes em 30 municípios diferentes em apenas três meses. Além de mais rápido, ele afirma que custou apenas 23% do que custaria por meio de topografia tradicional.

Previsibilidade em linhas de balanço

Outra startup a se apresentar no Construtalk Curitiba 2019 foi a Prevision, da engenheira Paula Lunardelli. A CEO e Founder da empresa defende o modelo de linhas de balanço atualizáveis para planejamento e acompanhamento de obras.

De acordo com ela, tal metodologia permite realizar um planejamento dinâmico com acompanhamento em tempo real das alterações de projeto. Isso, afirma Lunardelli, proporciona a possibilidade de alterar o ritmo da obra conforme o contexto.

Para exemplificar, ela citou casos de obras que sofriam multa por dia de atraso e outras que estavam com, por exemplo, R$ 2 milhões de exposição de caixa.

Construção industrializada a seco

A apresentação de José Márcio Fernandes, vice-presidente e fundador da Tecverde, mostrou o modelo de negócios da empresa, que tem feito vendas para construtoras e incorporadoras das habitações que produz em fábrica.

Assim, ele mostrou como se dá o processo produtivo, com absoluto controle de qualidade. O resultado é 85% menos resíduos de obras e 80% menos emissões de CO2, explica.

Além disso, a tecnologia da Tecverde proporciona redução da mão de obra alocada em até quatro vezes. A obra finalizada, explica Fernandes, apresenta desempenho acústico e térmico de acordo com a Norma de Desempenho, além de desempenho estrutural.

No dia seguinte ao evento, a Tecverde promoveu uma visita à sua fábrica e também a duas obras, uma concluída e outra ainda em execução.

Na oportunidade, os presentes puderam ver como se dá o processo produtivo dos frames em madeira. O laboratório da empresa mostra, ainda, como se dá na prática o desempenho termo-acústico dos empreendimentos.

Nos canteiros de obra foi possível verificar como a tecnologia proporciona menos desperdício e mais produtividade mesmo com um efetivo de mão de obra reduzido em relação a obras convencionais.

Casa 24 horas

A Casa 24 Horas foi construída dentro do pavilhão de exposições da Feicon 2019. Totalmente pré-fabricada, foi executada ao longo de três turnos de oito horas. Com 46 m², foi apresentada como uma alternativa para combater o déficit habitacional brasileiro de 7,7 milhões de unidades.

Além de ser construída em um prazo muito menor do que sua equivalente em alvenaria, a Casa 24 horas apresenta custo e indicadores favoráveis. Exemplo é a economia de R$ 173 mil apenas em refeições para os trabalhadores. Em despesas indiretas, a economia é ainda mais surpreendente.

Para a construção de 500 unidades da casa, a economia é de cerca de R$ 1 milhão, conforme Luiz Henrique Ferreira, idealizador do projeto. No comparativo de frentes de serviço, o produto apresenta economia de 5,21%.

Para chegar a tal resultado, Ferreira conta que envolveu especialistas de diversas disciplinas. Afinal, para ele, o segredo do sucesso de qualquer projeto são as pessoas envolvidas.

Assim, dentre os especialistas estavam empresas de sistemas construtivos, gerenciamento de obras, lean construction, instalações, acessibilidade, dentre outros. A gestão do projeto foi feito com base no que Ferreira chama de gerenciamento transdiciplinar. Ou seja, com integração total entre as disciplinas participantes e desenvolvimento e compartilhamento de um framework conceitual.

Os próximos passos do projeto são baseados em aprimoramento constante, afirma Ferreira. Isso com base em coleta de dados, análise crítica aprofundada e tomada de decisões rápida. Tudo com vistas a incrementar os níveis de desempenho e aumentar ainda mais a integração com fabricantes, além de otimizar questões relacionadas a tributos e aprovações.

Gerenciamento de obras

A Casa 24 Horas suscitou outros debates. Dentre eles, o gerenciamento de obras de um projeto tão rápido. Para tanto, o Construtalk Curitiba 2019 convidou o responsável pela gestão do projeto, Carlos André, diretor executivo da Atai Engenharia.

Já de início, ele apresentou os nomes de diversas metodologias de gerenciamento e recomendou as presentes optar sempre por aquela que eles conhecerem melhor. Afinal, para ele, o sucesso de um planejamento está muito ligado a outros fatores. Estes seriam: comunicação, trabalho em equipe, planejamento e inter-relacionamento das atividades e equilíbrio de interesses, além, é claro, de liderança.

A partir disso, ele contou sobre o case da Casa 24 Horas, que teve como fundamento o planejamento do caminho crítico, do canteiro de obras, a análise de risco etc. Ele mostrou, ainda, como foi realizado o PDCA (Plan, Do, Check, Act) na Casa 24 horas.

Por fim, André compartilhou as lições aprendidas com o desenvolvimento do projeto. Dentre elas, que os prazos poderiam ter sido ainda menores, com maior nível de industrialização, por exemplo.

Lean construction no Construtalk Curitiba 2019

Construtalk Curitiba 2019

Outro desdobramento do projeto da Casa 24 Horas foi a aplicação prática dos conceitos da Lean Construction. Para tanto, esteve presente ao Construtalk Curitiba 2019 um dos responsáveis pela concepção do Lean no projeto. O especialista em lean construction, Eduardo Lavocat, falou sobre os conceitos fundamentais da lean construction.

Para isso, ele mostrou o que é, na visão do conceito lean, entendido como valor e o que é desperdício. Além disso, falou sobre os diferentes tipos de desperdício e sobre como aplicar o lean no planejamento.

Neste contexto, Lavocat falou sobre como visualizar fluxos de trabalho na forma tradicional – Gantt – e como fazer a transição para linhas de balanço. Em paralelo, falou sobre a importância de criar um mapa de fluxo de valor.

Por fim, ele comentou sobre o framework de tranformação lean. Ou seja, os quatro pontos fundamentais para a implementação da filosofia lean construction dentro de uma empresa.

  1. Propósito Orientado por valor
  2. Melhorias no processo
  3. Desenvolvimento de capacidades
  4. Sistema de gestão & Comportamento da Liderança

Computação cognitiva na construção no Construtalk Curitiba

O fechamento do Construtalk Curitiba 2019 se deu com a apresentação de Guilherme de Assis Brasil, Chief Product and Technology Officer do Sienge. Ele falou sobre como a computação cognitiva pode alterar o cenário na construção civil.

De acordo com ele, o caminho para o conhecimento passa pela extração de dados e, posteriormente, obtenção de informação. A interpretação dessas informações leva ao conhecimento. Ou seja, dados estruturados, combinados e contextualizados.

Assim, ele recomendou aos presentes não negligenciar as fontes de dados dentro de suas respectivas empresas. Dentre elas, o ERP e demais softwares a ele conectados, o BIM e a IoT, por exemplo.

Isso porque, conforme ele concluiu, “nossa experiência é construída através da longa aquisição de dados e a confrontação dos mesmos em vários contextos”. Para ele, “a computação cognitiva tem o potencial real de alterar o cenário da construção e demandará maior digitalização do setor e naturalmente promoverá maiores índices de produtividade”.

Networking de alta qualidade no Construtalk Curitiba 2019

Além de todo esse conteúdo de tecnologia e inovação aplicável na prática, o Construtalk Curitiba 2019 também proporcionou um rico espaço para networking.

Com mais de 200 profissionais de alto nível da indústria da construção, o evento possibilitou a realização de negócios.

Durante o coffee break, o almoço e o happy hour, os profissionais presentes ao Construtalk Curitiba 2019 puderam trocar experiências e dar início a negócios.