Como fazer o Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC)

Eng. Jonathan Degani

Escrito por Eng. Jonathan Degani

9 de setembro 2022| 14 min. de leitura

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Como fazer o Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC)

A construção civil é considerada uma das indústrias com maior impacto ambiental no mundo. Ela é responsável por cerca de um terço da emissão dos gases do efeito estufa segundo a Green Building Council. Só no Brasil, os resíduos gerados pela construção civil seriam suficientes para construir 4 milhões de casas populares.

Reduzir o Impacto Ambiental de nossa sociedade é uma das maiores preocupações da sociedade moderna, ainda mais quando se trata de operações comerciais. Na construção civil não poderia ser diferente.

Além da preocupação ecológica, é preciso ficar atento às leis e normas que regulam esse impacto, sendo que um de seus principais aspectos têm a ver com o gerenciamento de resíduos.

A sua construtora está preparada para lidar com os resíduos e fazer um controle adequado deles?

Neste artigo, vou mostrar tudo que você precisa saber sobre resíduos na construção civil, incluindo seus impactos, quais iniciativas já existem e como aplicá-las.

Também falaremos sobre para que serve e como fazer um Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC). Além disso, você entenderá qual a importância deste plano para a redução da geração de resíduos, as formas de reaproveitá-lo e por fim qual o melhor descarte para cada rejeito. Desta forma, você poderá reduzir o impacto das suas obras.

Através dos exemplos de construtoras que trabalham com reaproveitamento de resíduos dentro de seus canteiros e a destinação correta, você poderá extrair ideias e boas práticas.  Além disso, trarei a você as diretrizes para elaborar um PGRCC de qualidade e guiar a destinação dos resíduos durante a sua obra.

PGRCC 1

4 iniciativas que podem ajudar de forma prática a controlar os resíduos na construção civil

Como um dos grandes geradores de resíduos da atualidade, é vital que o setor da construção civil tome para si o papel de controlar esse problema. Para isso, é fundamental tomar medidas para garantir a sustentabilidade.

Veja abaixo alguns exemplos de ações que você pode tomar desde já para reduzir o impacto ambiental e comercial dos resíduos nas suas obras:

1. Uso de materiais de construção sustentáveis

A primeira solução inteligente para controlar a geração de resíduos é por reduzi-la desde o início da obra. Como? Por usar materiais de construção sustentáveis, que causam impacto muito menor (se é que causam algum).

Além de melhores para o meio ambiente, vários materiais sustentáveis foram desenvolvidos para gerar pouco desperdício nas obras, o que pode significar uma boa redução de custo com matéria prima.

Muitos destes materiais possuem preço similar aos convencionais, ou reduzem muito o desperdício, sem contar suas vantagens técnicas. Por tudo isso, fica mais fácil vender os projetos para o comprador final, o que pode ser também uma vantagem comercial.

2. Reutilização de matéria prima de demolição

Outra possibilidade é reutilizar parte da matéria prima de demolição em outras facetas das obras, sem perder qualidade.

Enquanto muita coisa pode ser usada para propósitos diferentes dos quais foram feitos originalmente, algumas não servem mais para a construção civil, nem mesmo para reuso.

O que fazer com estes materiais?

Que tal vender para empresas de outros segmentos que talvez possam fazer bom uso deles? O que para a sua obra não passa de resíduo pode ganhar vida em outro setor. Além de controlar os resíduos gerados, isso pode ser uma fonte de receita alternativa para a empresa.  Se não tiver quem compre, até doar pode ser uma ótima medida de controle.

3. Reciclagem de materiais

Outra opção, além das alternativas acima, é reciclar os materiais que não podem ser mais usados ou reaproveitados em suas formas originais, mas que podem ser reciclados.

Eles podem ser transformados tanto em materiais sustentáveis, que citamos acima, ou em matéria prima para outras indústrias. O mais importante é que os resíduos gerados sejam transformados de lixo em algo que pode ser usado de novo.

Um bom exemplo de reciclagem de material são os tijolos de isopet, feitos com plástico de garrafas pet prensadas. Neste caso, os restos de um produto da indústria alimentícia se torna útil para a construção civil.

4. Sistemas de contenção de resíduos no canteiro de obras

É importante destacar o perigo na armazenagem de resíduos tóxicos ou de manuseio cuidadoso. Neste caso, estes resíduos representam perigo à população e a ameaça pode extrapolar os limites do canteiro de obras.

Pense no seguinte:

Um produto líquido é utilizado nas atividades desenvolvidas no canteiro, trazendo assim riscos para os trabalhadores da obra. Como ele é líquido, a falta de contenção apropriada poderia facilmente gerar vazamentos e contaminação da população, fauna e flora no entorno da construção.

O ideal, para evitar isso, é construir sempre que necessário, trincheiras de contenção e capelas para gases tóxicos, a fim de minimizar possíveis riscos à saúde.

Para que serve o PGRCC?

O intuito da legislação federal (Decreto  nº 12.133/98 antecipou-se à Resolução CONAMA  nº. 307/02) que dá as diretrizes do PGRCC é diminuir o impacto gerado pelos resíduos da construção. Para isso, ela cria uma cultura de planejamento da destinação correta destes resíduos. Vou apresentar a você algumas das influências e resultados causados por estas diretrizes.

O PGRCC tem o objetivo de planejar o descarte e a destinação correta dos resíduos da construção civil. Um dos resultados perceptíveis é a preservação ambiental. Isso se deve a diversos fatores, tais como a redução na demanda de materiais devido ao reuso, a destinação correta de materiais não inertes dentre outros.

Para você entender melhor cada um destes resultados, trarei alguns exemplos.

Exemplos de Aplicações e Resultados

O aço, por exemplo, pode ser destinado a reciclagens e ser reaproveitado para criar novas barras de aço.  De fato, o aço é uma das matérias primas com maior reaproveitamento dentro da nossa indústria.

Um outro excelente exemplo é o reaproveitamento de restos de concreto para a geração de agregado. Existem usinas e inclusive construtoras que coletam as sobras de concreto, argamassa e alvenaria para triturar e segregar as diferentes granulações de agregados. Estes agregados são utilizados para novas misturas de concreto ou base para pavimentação, por exemplo.

PGRCC 2

Você pode pensar: mas então porque não faço isso com todo o resíduo da minha obra?

Lembrando um pouco da química dos materiais, existem elementos que são estáveis e elementos que precisam reagir com outros para se estabilizar. O cimento, por exemplo, deve reagir com a água para cristalizar e se estabilizar. Ao utilizar concreto para aterro, o cimento nele presente já sofreu a estabilização através da água que foi usada no concreto.

Por este motivo é possível utilizar concreto e argamassa moídos em aterros.

Quais materiais devemos tomar mais cuidado no descarte?

No entanto, existem elementos que podem desestabilizar a composição química do solo, podendo provocar a sulfurização do solo, contaminação do lençol freático, afetar a fauna e a flora. Um exemplo deste tipo de material é o gesso

Em pequenas quantidades e com o acompanhamento de um técnico, é possível utilizar o gesso na neutralização das partículas de alumínio presentes no solo. Isso melhora a formação das raízes de plantas e a absorção do cálcio, macro nutriente importante para a saúde das plantas.

No entanto, o gesso também pode alterar a composição do solo de maneira prejudicial e contaminar o lençol freático. Além disso, existem elementos que são tóxicos e nocivos para o homem, fauna e flora. Estes materiais também devem ser destinados para reciclagem ou aterros específicos onde fiquem isolados do meio ambiente.

Por este motivo é que o descarte de materiais não inertes e tóxicos tem um custo mais alto. Este custo é o reflexo de todo o trabalho e investimento necessários para se ter uma estrutura e receber, tratar e destinar esses materiais corretamente. Este custo, há algum tempo atrás, era desconsiderado pois não havia tanta consciência do impacto causado no meio ambiente.

Hoje temos consciência deste impacto e temos diversos exemplos de danos ambientais provocados pelo descarte inadequado de materiais da construção civil. Isto reflete na legislação ambiental que se torna cada vez mais completa e detalhada, como também as sanções e a fiscalização mais rígidas.

Os resultados já são muito positivos e vem contribuindo para melhorias nas práticas da construção civil.

Onde e quando é necessário fazer um PGRCC?

O PGRCC é uma exigência de alguns municípios para a aprovação do projeto de uma edificação. Muitas vezes é disponibilizado um modelo, manual ou uma lista de itens que devem constar no documento. Apresentarei a você quais os itens normalmente exigidos neste documento.

  •         Dados do contratante
  •         Dados da contratada
  •         Dados do responsável técnico da obra
  •         Dados do responsável técnico do PGRCC
  •         Dados do empreendimento
  •         Cronograma
  •         Descrição das quantidades e tipos de resíduos
  •         Triagem e acondicionamento
  •         Transporte
  •         Empresa de destinação

Independente de onde for requerido o PGRCC, os dados requeridos não variarão muito. Por isso, para elaborar este documento, você antes precisa ter o projeto da edificação definido para saber quais materiais serão descartados. Além disso, você precisa definir qual a empresa que fara o recolhimento e destinação dos resíduos.

Neste caso, vale ter em mente alguns critérios como: existência de certificação ambiental, se será destinado a uma usina de reciclagem ou se será depositado em um aterro. Caso a empresa não apresente certificados ambientais de destinação correta, pode significar que o destino não seja correto. Sempre prefira a que recicle ao invés da que descarte em aterro.

Obrigatoriedade para Certificações de Sustentabilidade

Para você conseguir uma certificação LEED de sustentabilidade, por exemplo, um dos requisitos é apresentação do plano da correta destinação dos resíduos da sua obra. Para isso, é necessário fazer o levantamento detalhado dos materiais que serão utilizados e buscar a melhor destinação para cada um deles.

Esta é uma forma de incentivar ainda mais a busca de soluções cada vez mais sustentáveis e com menor impacto ambiental possível. Algo que facilita isso é a escolha da utilização de materiais e processos que reduzam a geração de resíduos. Pré-fabricado apresentam um consumo mais racional de materiais e reduzem a geração de resíduos.

Como construir gerando pouco resíduo?

PGRCC 3

Como mencionei, a construção pré-fabricada apresenta uma redução de resíduos em obra. Se pensarmos em uma edificação feita de placas de concreto, o desperdício na alvenaria será mínimo. Se formos além e pegarmos o exemplo das edificações modulares, o resíduo gerado no local da obra é virtualmente zero.

Devido a utilização de materiais industrializados sob medida em sua fabricação, a construção modular tem a capacidade de reduzir de 20% (construção convencional) para apenas 5% de desperdício. Os resíduos gerados muitas vezes são reaproveitados dentro da linha de produção em outra obra ou módulo, reduzindo ainda mais as perdas.

Por todos estes aspectos, a construção modular tem grande vantagem na redução de resíduos e precisa de um PGRCC mais enxuto.

Grande negócio!

Para você engenheiro ou profissional da área da construção, a legislação ambiental e consciência sustentável são grandes oportunidades de desenvolver negócios. A reciclagem dentro do canteiro, por exemplo, pode representar uma economia. Você pode encontrar novas utilidades dentro de suas obras para reutilizar resíduos e reduzir o descarte gerado.

Espero que este artigo tenha passado o conceito do que é e para que serve o PGRCC para que você possa elaborar o seu em sua próxima obra. Sem dúvida, este será uma exigência cada vez mais comum e importante.

Agradeço a Engenheira Agrônoma, Ane Carine Rocio, pela contribuição para este artigo e parceria na área ambiental.