Coliving e coworking redefinem as maneiras de morar e trabalhar

Tomás Lima

Escrito por Tomás Lima

17 de maio 2018| 13 min. de leitura

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Coliving e coworking redefinem as maneiras de morar e trabalhar

Convenhamos, os locais de moradia e trabalho são duas questões muito importantes na vida de qualquer pessoa, não é mesmo? Nesse sentido, os conceitos de coliving e coworking vêm inspirando muitos empreendimentos nos últimos tempos.

São dois modos, ou dois estilos de vida, que estão redefinindo a maneira de morar e trabalhar. Mas o que é isso, exatamente? Eu vou explicar a você.

Tanto uma quanto a outra palavra, em inglês, trazem na sua essência uma atitude típica do nosso século XXI: o compartilhamento.

Compartilhar um lugar para morar e compartilhar o local de trabalho: eis um resumo desses dois conceitos.  

Mas é muito mais que isso, na verdade.

Público típico do coliving é a geração y

É inevitável: as pessoas sempre associam o coliving às conhecidas repúblicas estudantis. Têm uma certa razão, pois as duas experiências guardam alguma semelhança, no que diz respeito à vida numa comunidade e ao compartilhamento de espaços.

Porém as semelhanças param por aí. Nas repúblicas, o público é quem ainda está em plena formação acadêmica ou até secundarista. A improvisação e uma certa precariedade são bastante comuns.

No coliving, entretanto, estamos falando de empreendimentos planejados, com alto grau de conforto, praticidade e, em muitos casos, até um certo requinte. É dirigido para um público que já sabe o que quer, com a vida profissional mais ou menos encaminhada, que busca também economia e um certo ideal da vida em comunidade.  

coliving e coworking
The Coletive, em Londres (Foto: Wikihaus/Divulgação)

Eduardo Pricladnitzki é sócio da Wikihaus Incorporadora, de Porto Alegre, empresa que está investindo fortemente neste segmento. Segundo ele, o público típico que busca o coliving como opção de moradia é a geração Y.

Segundo o empresário, é uma geração que “valoriza o acesso em detrimento da posse, quer resgatar a convivência perdida pelos laços digitais. Quer mais experiência, mais funcionalidade ao invés de luxo, conveniência no seu dia a dia e um espaço prático para morar”. Também querem colaborar e compartilhar mais.

O coliving, por padrão, oferece tudo isso em uma região central, bem localizada e com ótimo acesso.

Mas como isso funciona, na prática?

O coliving é um movimento mundial. Ele ganhou força nos últimos anos, mas nasceu há bem mais tempo. Teve sua origem em  a partir de Saettedammen, o primeiro projeto cohousing do mundo.  

Cohousing é um termo similar ao coliving, referindo-se ao compartilhamento de habitações. Em uma comunidade com 35 famílias, na Dinamarca, a ideia era manter as moradias privadas, cada família na sua.  

Mas os moradores compartilhavam espaços de convivência e atividades, como refeições e limpeza de ambientes. O objetivo era estimular o relacionamento entre vizinhos. O formato foi se adaptando, até chegar à divisão de espaços de uma moradia projetada para isso.  

Pode ser um edifício, uma grande casa ou mesmo uma mansão.

As pessoas têm seu próprio espaço privado, seus quartos e banheiros, basicamente. Porém dividem muitos espaços de uso comuns, como cozinha, lavanderia, biblioteca, sala de estar, sala de festas, sala de jogos, bicicletário, piscina, jardins e outras áreas.

Desta forma, além de uma opção de moradia, o coliving é um estilo de vida que estimula o convívio, a sustentabilidade e a colaboração.  

Para a clientela, é uma maneira de viver em locais valorizados e bem localizados, mas com preços mais acessíveis do que se fossem comprar um imóvel unifamiliar. 

Vai ser muito difícil alguém reclamar de solidão num espaço de coliving. Em compensação, pessoas excessivamente individualistas provavelmente não vão se dar bem num lugar assim.

Agora, conheça o manifesto coliving 

O manifesto coliving foi criado pela Coliving.org e resume bem os principais fundamentos desse movimento:  

  • Comunidade em harmonia com a individualidade.
  • Aproximação de pessoas e troca de experiências.
  • Consumo pensado na colaboração.
  • Projeção compartilhada de residências.
  • Economia de recursos naturais.
  • Divisão de decisões e tarefas.

Quem está no ramo destaca que todas as bases do coliving se aproximam dos ideais de reaproveitamento e consumo consciente. Ideias identificadas com a cultura da economia colaborativa, outra tendência deste início de século.

Agora eu vou apresentar a você algo muito interessante:

The Colletive: o maior projeto coliving do mundo

Nos Estados Unidos e Europa, esse já é um conceito de vida amplamente consolidado. Tanto que em Londres fica aquele que é considerado o maior projeto coliving do mundo: The Colletive Old Oak, com dez andares e mais de 500 quartos.  

Neste lugar, os moradores compartilham cozinhas comunitárias, salas de jantar, biblioteca, restaurante, spa, lojas de conveniência e outras dependências. Uma equipe contratada faz a limpeza diária.

The Colletive também integra uma rede internacional, que se chama Global Coliving Community, que tem empreendimentos do gênero em Miami, Bali, Tokyo e em breve em São Francisco.  

Para que algo assim dê certo, contudo, as pessoas precisam ter valores parecidos. É fundamental gostar de vida em comunidade e se adaptar à divisão de tarefas e áreas.

Ficou curioso? Conheça melhor The Colletive neste vídeo:

Incorporadoras no Brasil descobrem o potencial do coliving

No Brasil, este é um fenômeno recente cujo potencial está sendo rapidamente descoberto pelos empreendedores do ramo imobiliário e construção civil.

É o caso da Wikihaus, que lançou em Porto Alegre o Cine Teatro Presidente, um empreendimento coliving feito para venda que já tem 80% dos apartamentos negociados.

“Em breve, além do Cine Teatro Presidente, teremos outro coliving em Porto Alegre. O objetivo é levar este produto para outras praças no Brasil”, anuncia Eduardo Pricladnitzki.

Conforme o sócio da empresa, o coliving representa um mercado muito novo no Brasil.

“Mas existe uma grande demanda, visto que as pessoas que estão começando a adquirir imóveis têm um perfil diferente das que adquiriam antigamente e valorizam os atributos que estão presentes em um coliving”.

“Além disso, a questão da escassez de terrenos é uma realidade, então as áreas centrais têm que ser bem aproveitadas e mais compartilhadas”, acrescenta.

Aliás, sobre esse assunto temos um material gratuito bem interessante para você baixar, o Modelo do Manual do Proprietário de Imóveis.

Agora, vamos conhecer melhor o coworking.

Crescimento do coworking foi de 400% em dois anos

Alguns projetos de coliving incluem espaços coworking também, que nada mais é que o compartilhamento de escritórios especialmente projetados para isso.  

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Coworking Casa Vermelha, em São Paulo (Fonte: Coworking Brasil/Divulgação)

“É a revolução que está alterando para sempre a forma que pequenas empresas, profissionais freelancers e autônomos se relacionam entre si, com seus fornecedores e clientes”, define a Coworking Brasil no seu site.  

Trata-se de uma organização que reúne fundadores de espaços coworking e divulga o conceito no País. Na onda das tendências dos freelancing e das startups, esse modelo de negócio alcançou um crescimento de 400% no mundo em dois anos, diz um vídeo do site.  

Estima-se que existam mais de 4 mil espaços do gênero no mundo, sendo mais de 800 no Brasil. Todos são pensados para o trabalho autônomo, que reúna pessoas das mais diversas áreas, criando um ambiente acolhedor, funcional e colaborativo, com muito networking.

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Ranking por estado (Fonte: Coworking Brasil)

As pessoas alugam os espaços que vão usar por horas, dias, meses, conforme sua necessidade.  Veja um exemplo aqui.

“Todo esse êxito é produto de uma ideia simples: profissionais independentes que procuram um espaço democrático em que possam desenvolver seus projetos sem o isolamento do home office ou as distrações de espaços públicos”, define a Coworking Brasil.

Ali, os usuários encontram toda infraestrutura que precisam para desenvolver suas atividades. Isto inclui estações de trabalho, internet, telefonia, copiadoras, salas de reunião e até o bom café. E a grande vantagem: a um custo bem menor que manter um escritório ou uma agência particular.  

Para entender melhor a proposta, veja este vídeo:

Você vai ficar impressionado com os dados de um estudo sobre este setor.

Censo do coworking no Brasil mostra crescimento de 114%  

A Coworking Brasil realizou um censo em 2017 que contabilizava 810 espaços ano passado, um aumento de 114% em relação a 2016.  

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Fonte: Coworking Brasil

Veja que interessante este perfil do coworking no País:

  • São 56 mil estações de trabalho;
  • 313 mil metros quadrados ocupados;
  • 82 milhões movimentados (em 2016);
  • 210 mil pessoas circulando;
  • 3.500 empregos diretos e indiretos.

Suas principais características, na média, são as seguintes:

  • 384 metros quadrados de área;
  • 69 estações de trabalho;
  • 9 pessoas no time;
  • 2 sócios, 2,5 funcionários e 3,6 autônomos.

Outras características:

  • 21% são pet friendly;
  • 41% têm atendimento em inglês;
  • 31% têm acesso 24 horas;
  • 3% são kid friedly;
  • 54% têm espaço ao ar livre;
  • 41% têm estacionamento próprio;
  • 66% oferecem endereço fiscal.

Sobre a situação do negócio:

  • 23% iniciaram projeto de expansão ou planejam fazê-lo em breve;
  • 9% declararam que o negócio vai mal;
  • 30% consideram que passaram da fase inicial e vão bem;
  • 30% consideram o negócio ainda iniciante;
  • 8% consideram o negócio maduro e estável;
  • 14% tiveram prejuízo em 2015;
  • 42% lucraram dentro do esperado;
  • 35% consideram o lucro abaixo do esperado.

Finalmente, R$ 235 mil foi a receita anual média em 2016 e R$ 90 mil o lucro anual médio em 2016. Para saber muito mais, veja no link o estudo completo.

Coliving e Coworking encontram receptividade no mundo das conexões 

Enfim, tanto o coliving como o coworking já não podem ser vistos simplesmente como formas alternativas ou, menos ainda, como uma excentricidade. São propostas de morar e trabalhar que encontram grande receptividade num mundo onde as pessoas buscam por conexões e proximidade.

As novas gerações, especialmente, encontrarão nisso opções mais econômicas para morar e trabalhar, sem abrir mão do conforto e das facilidades, em espaços de uso comum que favorecem a interação e a criatividade.  

Tudo isso, aliado a valores que estão se fortalecendo e aos quais os empreendedores devem estar atentos. Como a sustentabilidade, a vida em comunidade e a colaboração em rede.

Coliving e coworking: prepare-se para ouvir mais e mais essas duas palavras. E, quem sabe, investir nessa área também.

Espero que isso tenha sido interessante para você. Se gostou, deixe seu comentário e compartilhe com seus amigos e amigas. Alguém pode se interessar por essas ideias!