Sim! Provavelmente você terá chefes chineses

Alonso Mazini Soler

Escrito por Alonso Mazini Soler

11 de dezembro 2017| 6 min. de leitura

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Sim! Provavelmente você terá chefes chineses

Os chineses investiram mais de R$ 60 bilhões na compra de empresas e ativos no Brasil apenas nos últimos três anos. E os números não param de crescer!
Os setores que estão recebendo esses aportes são diversos. Estão, entretanto, prioritariamente, ligados à infraestrutura e ao agronegócio, passando pela exploração de recursos naturais, indústrias em geral, tecnologia e finanças. 

Bem-vindo Ienes!

Chama a atenção o fato desses investimentos estarem sendo realizados, em grande parte, por empresas estatais Chinesas. Isso sugere que o movimento responde às prioridades estratégicas da China no Brasil. Ou seja, visa a garantia de logística e produção eficientes de insumos, energia e alimento para o país asiático. 

 Segura que vem mais por aí! 

 Confira os principais negócios de 2017! 

  • Distribuidora de energia CPFL pela Chinesa State Grid por R$ 14 bilhões; 
  • TCP, operadora do terminal de contêineres do Porto de Paranaguá; 
  • Parte da Odebrecht no aeroporto Galeão; 
  • Usinas hidrelétricas; 
  • Blocos de E&P de petróleo e gás; 
  • Empresas de sementes e tradings agrícolas. 

Além disso, a Chinesa Shandong Kerui estava na frente na disputa para construção da Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) do Comperj no estado do Rio de Janeiro. 
Passa ainda pelo radar dos boatos: 

  • Possível participação na negociação da operadora de telefonia Oi; 
  • Construção da FIOL (Ferrovia Oeste-Leste), que deverá escoar a soja plantada na região do Centro Oeste pelo porto Baiano de Ilhéus; 
  • Interesse na retomada da construção das refinarias de petróleo Premium I e II no Maranhão e no Ceará. 

Fique atento às diferenças e à necessidade de adaptação   

Se o volume bilionário de investimentos Chineses soa como um alento aos milhões de desempregados brasileiros, especialmente aqueles do segmento da construção e infraestrutura, há que se pensar, entretanto, que trabalhar para uma multinacional Chinesa requer adaptação e resiliência à nova cultura. 
Apesar de estarem se internacionalizando cada vez mais, o modelo típico de gestão das empresas Chinesas é baseado em tradições, na valorização da senioridade, no respeito inquestionável à hierarquia, à autoridade, aos protocolos, à pontualidade e na limitação da autonomia.  
O que não é fácil de ser encarado pelo trabalhador brasileiro que prefere agir de forma voluntariosa e livre, questionadora e crítica. A construção de uma relação de confiança com esse novo empregador vai exigir muito mais disposição, dedicação, disciplina e comprometimento do profissional brasileiro. 

Legislação que freia o ímpeto de compra dos chineses

Por um lado, a adaptação cultural é uma máxima desejada do profissional brasileiro nessa relação. Por outro, nossa legislação trabalhista tende a atuar como um esteio aos excessos do (possível) patrão Chinês quanto à imposição de condições de trabalho muito distintas das nossas. 
Empresas Chinesas não estão acostumadas com nossos direitos adquiridos, encargos trabalhistas, complexidades contratuais e “jeitinho” pessoalizado de trabalhar. Para o bem ou para o mal, de certo modo, a nossa legislação trabalhista provavelmente freia o ímpeto Chinês de investir ainda mais no País. 
Outro ponto da legislação que interfere nos investimentos Chineses no Brasil são os impeditivos legais para a compra de terras por estrangeiros. Pela lei, só podem comprar 25% da área de um município, limitado a 10% para estrangeiros da mesma nacionalidade. Desse modo, os Chineses interessados no agronegócio acabam restringindo e dirigindo os seus investimentos aos pontos indiretos da cadeia agrícola, como a produção de grãos, sementes e logística. 

Parceria ou submissão? 

O reconhecimento da China como potência global é indiscutível, ainda mais em tempos de vazio de lideranças ocidentais fortes e adequadas. O Brasil tem cumprido o seu papel no fortalecimento dessa relação em prol das oportunidades decorrentes. 
Ou seja, geração de empregos, aumento da produtividade e da eficiência em determinados setores, transferência de tecnologia, redução das desigualdades em regiões menos desenvolvidas do país e aprimoramento da infraestrutura produtiva do País. 
Resta saber se seremos hábeis o suficiente para construir pontes sólidas de parceria que favoreçam e fortaleçam o nosso desenvolvimento. Ou se apenas estamos vendendo barato o País, nos submetendo de forma gananciosa e impetuosa ao poder econômico, nos apropriando de soluções imediatas e vantajosas sem medir as consequências futuras. 
Sim! Provavelmente você terá um chefe Chinês nos próximos anos. Resta saber se isso implicará no benefício de uma miscigenação ou no ônus de uma resignação profissional e cultural. 
Alonso Mazini Soler, Doutor em Engenharia de Produção POLI/USP e Professor da Pós Graduação do Insper – alonso.soler@schedio.com.br