Casa de Atibaia – a história da recomposição florestal da Serra da Mantiqueira

Siegbert Zanetinni

Escrito por Siegbert Zanetinni

29 de novembro 2017| 4 min. de leitura

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Casa de Atibaia – a história da recomposição florestal da Serra da Mantiqueira

Escrevo este texto neste feriado que comemora “A Consciência Negra”, envolvido pela paisagem exuberante, na casa de Atibaia que, em 1974, me inspirou a tomar interesse sobre ecoeficiência e como condições climáticas da região e do lugar completam e são estruturais para a arquitetura.
Quando estive nesta região de Atibaia, há 43 anos, encontrei toda a área florestal original decepada para a produção de carvão. A diferença desta destruição da mata em relação ao desmatamento comum praticado de arrancamento de espécies com raízes foi que as arvores de porte e mesmo as menores não tinham sido arrancadas com a raiz, mas cortadas junto as suas bases, o que permitiria recompor a paisagem original ao longo dos anos.
Essa percepção levou-nos junto com os sitiantes locais e moradores, a “Associação Ama Serra”, onde nos compromissamos a manter as bases originais dos troncos das árvores, assim como impedir qualquer tipo de desmatamento, queimada ou poda que impedissem recompor a paisagem natural.
O resultado dessa postura foi que conseguimos ao longo destes quase 50 anos, recompor toda a mata natural com a sua biodiversidade, hoje considerada uma das mais exuberantes de todo o Estado.
Como consequência dessa atitude projetei e construí num sítio nessa mata descampada, a “Casa de Atibaia” como é conhecida hoje, profundamente integrada a rica paisagem a ser mantida intacta em todos os oito alqueires, e que hoje é envolvida pela original vegetação, projeto que defini na época como ecoeficiente e bioclimático e, que vem sendo considerado o primeiro exemplo de casa sustentável.
A condição térmica excelente em todas as estações do ano, as ventilações sudeste e noroeste possíveis pela varanda longitudinal voltada para o norte e internamente que transpõem treliças superiores, e pelo uso do telhado de barro sem forro, pelas aberturas generosas com ampla visão da paisagem e, na parte posterior à varanda, por jardins entre os arcos que constituem arrimos e garantem a ventilação cruzada que ocorre longitudinalmente em toda a habitação.
Essa combinação integrada entre a solução arquitetônica e o lugar envolvente faz com que todos que a usam ou visitam fiquem deslumbrados pela sensações de bem estar, pelo agradável clima interno e ambientes acolhedores fora e dentro da casa.
Mais tarde, em 1981 fiz um texto para publicação no Cadernos Brasileiros de Arquitetura Nº 8*, mais poético do que descritivo para explicar essa arquitetura leve, transparente e acolhedora pela integração feliz entre obra e natureza.
Sem dúvida, a partir da década de 70 e por causa dessa obra, passei a adotar uma postura mais contemporânea nas propostas de arquitetura que se seguiram: residências, conjuntos habitacionais, escolas, universidades, centros de pesquisa, escritórios, clínicas, laboratórios e hospitais.
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* Cadernos Brasileiros de Arquitetura nº8, Arquiteto Projeto Editores Associados, 2ª edição, 1981